sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Fernandix, guerreiro,

Teria que pensar um pouco para fazer uma listinha dessas. O que me lembro, de cara, é do primeiro disco não infantil que ganhei: We Are the World. Sim, aquele dos artistas contra a fome na África, precursor desses festivais beneficentes que a gente vê por aí hoje. Puta sucesso na época. E, de alguma forma, um típico one hit wonder, já que nenhuma outra canção do disco vingou. Me lembro que a música tocou no rádio do carro onde estávamos eu, meu pai e minha irmã. E eu comecei a, digamos, cantar -- num embromation louco, já que eu conhecia a melodia, mas não sabia a letra. Até hoje não sei se meu pai ficou encantado ou com peninha. Mas o fato é que me deu o LP. O disco não vinha com a letra, e segui cantando no embromation. Rárá. Já o primeiro disco que comprei, com dinheirinho juntado de mesada, foi All the Best!, coletânea de hits do Paul McCartney. Acho que comecei bem.

Entre os discos de jazz, aí sim, acho mais fácil apontar os que me abriram a cabeça. Ou pelo menos os primeiros a me abrir a cabeça, os introdutórios. Kind of Blue, sem dúvida. Em uma matéria que fiz pra Piauí, acho que você leu, entrevistei rapidamente Jimmy Cobb, o baterista do álbum. Liguei para a casa dele, me atendeu uma mulher, que presumo ter sido a senhora Cobb. Gaguejante, perguntei se mr. Cobb estava em casa. Ele me atendeu gentilmente, e tivemos um papo curto. No final, perguntei para ele por que, entre tantos discos revolucionários de jazz, calhou de Kind of Blue ser o mais expressivo, o mais famoso. Ao que ele me respondeu: "Se eu soubesse a resposta pra isso, poderia morrer hoje." É o único disco que tenho em várias versões: o CD simples; o CD comemorativo de 50 anos com um documentário em DVD; e a caixa comemorativa de 50 anos do disco, com CD, fotos e até um vinil.

Bird and Diz, de Charlie Parker e Dizzy Gillespie, me apresentou para valer à energia do bebop, pelo que sou gratíssimo, porque acabou sendo a minha porta de entrada para todo o resto. At Newport 1956, o disco ao vivo de Duke Ellington no festival de Newport, me introduziu ao mundo do Duque (e das grandes orquestras) em um momento em que eu estava empenhado em devorar bebop -- isso sem falar no estupendo solo do saxofonista Paul Gonsalves, em Diminuendo and Crescendo in Blue, com seus 27 choruses. Time Out, de Dave Brubeck, me fez prestar mais atenção no lado estudado, mas nem por isso menos festivo do jazz. Empyrean Isles, de Herbie Hancock, por conta da faixa Cantaloupe Island, regravada em um hit hiperultramegaestourado pelo grupo US3, me fez ver que o jazz não é um "que", mas um "como". The Complete Ella Fitzgerald & Louis Armstrong, coletânea de tudo que ambos fizeram juntos na Verve, bem... é Louis e Ella, não preciso dizer mais nada. E há John Coltrane, com Giant Steps. E Billie Holiday, com Lady in Satin. E Charles Mingus, com Mingus Ah Hum -- que, enquanto escrevo, coloquei pra tocar no iPod, e Better Git It In Your Soul desce com toda a sua potência. Conhece, nêgo? Se não, conheça.

Qualquer dia conto como comecei a gostar de jazz. Agora, esta correspondência já se faz longa.

Bração (e vote consciente),

Rafaelix, carregador de menires.

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