sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Véio,

Já é 2011 no Japão, e aqui as aquisições do último dia do ano foram o último do Chico Pinheiro e a caixa da Dolores Duran (fui trocar presentes na Livraria da Travessa, juntei alguns trecos que ganhei e deu pra levar esse pacote. Adoro trocar presentes que não usaria por coisas que estava de olho há tempos). Chico Pinheiro já rodou, e é lindo, lindo. Mas é a tal história: enquanto lá nos EUA o cara é incensado, aqui é "Chico quem?".

No momento, enquanto a espôusa se arruma para o réveillon, toca Fé na Festa, o último de Gilberto Gil -- que, inexplicavelmente, ficou no plástico desde que recebi. Acho que criei birra com Gil por conta dos últimos discos, que achei meio repetitivos, mais do mesmo, de modo que este último acabou encostado. Só abri agora, depois de vê-lo na lista dos destaques de 2010 no blog do Mauro Ferreira, e coloquei para tocar. E é ó-te-mo.

Termino por aqui, vou me juntar aos japoneses em 2011. Espero que o seu novo ano seja, huuumm... musical.

Tim-tim,

Eu

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Fala, Rafael.

Vamos direto aos 15?

Senhoras e senhores: The Rolling Stones. Descobri a banda e entrei de cabeça. Comprei alguns cds, alguns dvds e comecei a ler muito sobre Mick Jagger e cia. Com Tumbling Dice, do Exile on Main St., comecei a perceber tudo que nunca tinha visto no grupo. Foi forte.

O soul da nova turma. Puxado pelo Mayer Hawthorne, fui atrás de Raphael Saadiq, Aloe Blacc, Sharon Jones, Cee-lo, Janelle Monáe, Fitz and the Tantrums. Sem contar a surpresa que foi Ben L'Oncle Soul.

O soul dos velhos. Sam Cooke e, principalmente, Otis Redding. Este segundo me fisgou e é um dos grandes nomes do meu ano.

Macca no Morumbi. Foi uma experiência de vida.

Metallica no Morumbi. Banda que você já deu cotação zzzz correspondências atrás. Mas quando eu tinha 16 anos, eu não queria saber de outra coisa. Foi inacreditável assisti-los. Estarei no Rock in Rio também.

A voz de Tom Waits e sua capacidade para compor músicas belas e outras esquisitas, bizarras.

O filme do Rush. Um longa contando a história da banda canadense de forma primorosa. Aqui entra também o show do trio na Apoteose. Foi demais.

Scratch my Back. Peter Gabriel é um dos meus gurus. Depois de quase 10 anos, ele volta com um belo trabalho, não de inéditas, mas de covers e orquestrados. Só orquestra. Sem bateria, sem baixo, sem nada. E a ideia é: quem foi coverizado, coverizar uma do Peter. Mas essa segunda parte ainda não está à vista.

Queremos shows. O tal grupo dos Cariocas Empolgados mostrou que é possível fazer acontecer. Assim como você, apenas o Mayer Hawthorne me interessou, mas a iniciativa é nobre.

Jazz All Nights. O show de Irvin Mayfield me marcou muito. Preservation Hall também foi especial. E assistir show no Municipal é sempre um acontecimento.

A queda do império do Seu Pedro. O fim da Modern Sound que, até no desconto, não facilita. Fui lá ontem e 30% nas compras acima de 100 reais é um tipo de desconto que deveria ser feito normalmente naquela loja. Mas, mesmo assim, está sendo saqueada. De jazz já foi quase tudo.

O novo do Bituca. Ouvi uma vez o novo de Milton Nascimento. Gostei de algo. É sempre bom ver Milton Nascimento em ação. Milton é dos grandes. Aqui, no meu som, ele é sempre presente. Ponto também para o trabalho gráfico da caixinha. É bonitão.

Efêmera. Estava sentado aguardando a hora passar para o show do Paul quando entrou aquela voz nas caixas. Anotei uma frase no celular, para não perder, e depois descobri ser Tulipa. Está no meu top 10 de músicas do ano, mas ainda não avancei no cd. Não lembro de nenhuma outra música que tocou naquela sequência enorme, à tarde inteira, só essa.

La Blogotheque. O tal site, que você me passou, com aqueles videos do Vincent Moon, me apresentou uma outra forma de ver video e música juntos.

Surpresas de última hora. Marcelo Jeneci e seu bonito Feito pra Acabar. Também Pantera e Lenny Kravitz. O primeiro, inexplicavelmente, voltou a tocar aqui como nunca. É uma porradaria sem fim e é ótimo naquele universo. E o segundo, Lenny, comprei dois cds na Modern, de recordação, para levar algo dali. Resolvi apostar, nunca tinha ido além dos singles, e bateu. Bateu muito bem. É uma mistura que me conquista pelo rótulo - rock anos 70, muita black music e um apelo pop.

Boa virada por aí, meu amigo.

Grande abraço,

Fernando

sábado, 25 de dezembro de 2010

Rapaz,

Jeneci vai ficar para o ano que vem. Tem uma fila de discos no plástico me aguardando. Mas gostei do que li a respeito no Som Imaginário. Espero que o efeito da alta expectativa não seja prejudicial à audição do disco...

Dito isso, vamos ao top 15 do ano, sem ordem de preferência, sem ordem cronológica, e misturando às vezes mais de um nome no mesmo tópico:

* Nova Orleans. Esta é bem pessoal, eu sei, mas não há como não mencionar. Foi neste ano que eu conheci a capital do jazz. E o Preservation Hall. E a Louisiana Music Factory. E o Vaughan's. E... e... e... a lista poderia continuar por muitas linhas. Pretendo voltar muitas vezes. E recomendo a quem quer que seja.

* A nova soul music. Com Cee-lo Green à frente, 2010 foi o ano em que Ben L'Oncle Soul, Mayer Hawthorne, Aloe Blacc, Fitz and the Tantrums e tutti quanti vieram bater na minha praia sonora. E bateram bem, todos eles. Janelle Monáe, como já disse algumas correspondências atrás, me soou meio superestimada, mas darei outra chance. Quem sabe ela não me fisga ao vivo, no show da Amy Winehouse, no ano que vem.

* Cantoras. Elas continuam se multiplicando feito coelhos, não? O ano, decerto, foi de Maria Gadú, com sua incessante Shimbalaiê, com seu disco ao vivo (mas ela não tem só UM disco de estúdio?), com sua turnê com Caetano... Mas, se é para escolher uma cantora nacional, fico com Tulipa e seu ótimo Efêmera. Outra cantora que me falou muito foi Roberta Sá com seu disco Quando o Canto É Reza, em homenagem a Roque Ferreira, acompanhada pelo Trio Madeira Brasil. Um disco elogiadíssimo, mas, infelizmente, pouco badalado -- creio que apenas por enquanto, já que a turnê do álbum deve começar no ano que vem. E Silvia Machete se mostrou amadurecida (sem deixar de ser divertida) em Extravaganza. Das gringas, Corinne Bailey Rae e Nellie McKay, com seu disco em homenagem a Doris Day.

* Dave Brubeck, sobre quem a gente pouco falou aqui, foi o aniversariante do ano, sem dúvida. Noventa anos ainda na ativa (comemorou no palco do Blue Note) não é para qualquer um. E li que os jovens estão redescobrindo seu eternamente atual Time Out, o que é maravilhoso. O disco andou rodando mais por aqui nos últimos meses, e ainda hoje, depois de tantas audições, me surpreendo. Ainda da série "resdescobertas do jazz": Bitches Brew, de Miles Davis, cuja edição comemorativa de 40 anos foi lançada recentemente no Brasil.

* O show-celebração do Paul McCartney. Li um texto do André Barcinski (procure no blog dele), em que ele criticava a nossa incapacidade de receber grandes shows, os preços impraticáveis, as multidões indo embora do estádio que nem manada em busca de um táxi improvável. E, pensando racionalmente, até concordo. Mas, bem, que se dane. Foi o show em que meus olhos lacrimejaram três vezes. Em tempo: li na rede que ele pode voltar em 2011.

* Turnês de reencontro ou de despedida. Sim, eu sei que tem um quê de caça-níqueis, mas valeu ter visto dois ótimos shows este ano: Simply Red dizendo tchau, com Mick Hucknall com completo domínio do palco e uma pusta banda, e Cranberries se reunindo, com Dolores O'Riordan reinando. Eu sei que é meio ridículo, mas queria ter visto o A-ha.

* Cariocas Empolgados. O esquema de cotas para trazer artistas pegou todo mundo de surpresa. A sensação que tenho é que todo mundo pensou: "Pombas, como ninguém teve essa ideia antes?" Para mim, particularmente, te tudo que os caras já conseguiram trazer para o Rio, só Mayer Hawthorne me interessa. Mas não importa: a iniciativa é estupenda, e mostra o que é possível fazer com criatividade e empenho.

* Modern Sound. Lamento profundamente o fechamento, pelo que ela representou para os amantes de música, aquela coisa do templo que você mencionou, as horas e horas perdidas garimpando algo que nem você mesmo sabe o que vai ser, as surpresas ao se deparar com pepitas importadas. Mas não posso deixar de concordar com os comentários que tenho lido nos blogs do ACM e do Jamari França: a loja, vamos combinar, tinha preços extorsivos (sim, eu sei que isso tem em parte a ver com a política das próprias gravadoras) e um atendimento que não primava exatamente pela simpatia. O fim da Modern Sound nada tem a ver com pirataria virtual, como muita gente já observou. Afinal, o frequentador da loja não é o típico downloader, não deixou de comprar seu Debussy ou seu Frank Sinatra porque encontrou de graça na internet, com qualidade pior. O que matou a loja foi a sua incapacidade de se adaptar aos novos tempos, em que um disco encomendado pela Amazon, com frete, sai mais barato do que um no balcão. Ou seja: é triste, mas era esperado.

* Jazz All Nights. Para os órfãos do Mistura Fina, foi um bálsamo. Irvin Mayfield e Preservation Hall Jazz Band foram os pontos altos de uma série que merece todos os aplausos (não vi Brad Mehldau). De lambuja, este ano ainda fui ao Bourbon Street Music Fest, em São Paulo, onde vi Trombone Shorty -- depois de vê-lo também no Rio, na curta edição carioca do evento que eles fizeram. Quem sabe em 2011 eles não vêm com tudo. A expectativa é a mesma para o Bridgestone Music Festival... O problema, como sempre, é: onde essa gente vai tocar?

* Charles Möeller e Claudio Botelho. Eu não me canso de falar sobre esses caras, que deram excelência ao teatro musical no Brasil. Gypsy e Hair, no mesmo ano, não é para qualquer um. Ah: a direção de É com Esse que Eu Vou é deles, apesar de não ser exatamente um musical da dupla. E Botelho, sabe-se lá como, ainda teve tempo de fazer as versões para Mamma Mia!, que estreou este ano em São Paulo.

* Caixas. O mercado de boxes de luxo, que já estava bom, aqueceu ainda mais de um ano para cá. Não vai salvar a lavoura da indústria, mas não é disso que se trata. Gal Costa, Legião Urbana, Beth Carvalho, Tim Maia e outros tantos ganharam as suas. Merecidamente. O "síndico", aliás, anda tocando por aqui. Foi o meu reencontro com músicas que eu conhecia espalhadas, mas não no conjunto de seus discos originais.

* I can see (hear?) dead people. Michael Jackson se tornou o morto mais rentável na lista da Forbes, e a caixa reunindo todos os seus clipes é um achado. O relançamento da discografia solo de John Lennon também veio bem a calhar, em homenagem aos seus 70 anos. Mas o fantasma que deveria ter sido mais incensado foi o de Ray Charles, que teve um disco ao vivo no Olympia, em Paris, lançado no início do ano, e um de pepitas inéditas no fim do ano. Este último, aliás, estupendo.

* Beijo Bandido, de Ney Matogrosso, láááá no início do ano, em janeiro, foi o grande show nacional de 2010. Com uma proposta inteiramente diferente, mais crua, o show de Zii e Zie, de Caetano Veloso, também me conquistou.

* Vida inteligente na música infantil. Partimpim 2, de Adriana Calcan... ops, Partimpim, e Música de Brinquedo, do Pato Fu, mostraram que é possível fazer música para crianças com qualidade. E, de quebra, geraram shows maravilhosos, especialmente o do Pato Fu, com bonecos do grupo Giramundo fazendo as vozes que, no disco, eram das crianças.

* Biscoitos finos do jazz. Não me lembro agora (e estou com preguiça de pesquisar) se o primeiríssimo disco da série Biscoito Internacional, da Biscoito Fino, foi lançado no fim de 2009 ou em 2010. O que sei, com certeza, é que o selo com foco em jazz deslanchou este ano, com Dizzy Gillespie, Duke Ellington, dois de Oscar Peterson, Ella Fitzgerald, Count Basie... Nos últimos meses do ano, tive a impressão de que deram uma diminuída nos lançamentos. Espero que seja só algo de momento, e que 2011 seja mais prolífico.

E os seus 15?

Em tempo: já caiu nas suas mãos o novo do Kanye West?

Ho, ho, ho,

R.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Cato,

Faz total sentido a história de Cee Lo e Ben L'Oncle Soul. Concordo que Ben olhe mais para trás do que Cee Lo. Na verdade, acho que são duas maneiras de olhar para o passado, e você resumiu aí muito bem. The Lady Killer soa mais modernoso, né? Enquanto, Ben, apesar de atual, remete mais aos gigantes do passado. E o Mayer Hawthorne? Acho que fica no meio do caminho, mesmo que a sonoridade seja vintage. Não perco o show dele, mas o de Amy talvez eu passe. Mesmo com a abertura de luxo de Janelle. A Arena é muito distante para um show num dia de semana.

Você pergunta das caixas. Não sei sinceramente de onde vem a onda diante da crise instalada, ou melhor, chega da palavra crise, mas diante da nova realidade, digamos. Gosto da coisa das caixas, pelo colecionismo. Curiosamente não tenho quase nenhum item desse, o que lamento. Lembra aquela do Milton? Belíssima. Tenho uma de mini-LPs do Zeppelin que é incrível - e não sai lá de casa!

No momento roda Feito pra Acabar. Assim como fiz com o Arcade Fire, deixei minha implicância com o hype de lado e fui atrás de Marcelo Jeneci e seu cd de estreia. Vou te dizer, meu amigo, tem algo. Escutei o cd durante o fim de semana e há uma coisa bonita no ar. Eu diria que a maioria das músicas me fisgou, mesmo. Uma outra parte não bateu tanto, principalmente umas que pisam no rock. As composições são boas e os arranjos, com muito uso de cordas, são muito bons - vi que alguns são de André Mehmari.

Confira Quarto de Dormir no YouTube. A versão de estúdio mesmo, daquelas postadas com uma imagem estática. Vale. Agora, ele é muito bom e ponto. Deixemos de lado a coisa de que o cara está salvando algo ou o uso da palavra gênio.

Vou na Modern Sound pegar um cd de recordação, já que 30% de desconto não faz nem cócegas no preço deles, que aliás, pra mim, sempre foi uma barreira. Sempre muito cara e, assim, contribuiu muito pouco para as minhas estantes de cds. Ultimamente eu vinha garimpando bons LPs lá no Bistrô Musical que, aliás, fiquei sabendo ter sido saqueado por um comprador de SP, que levou tudo (!).

Mas tenho boas memórias de lá, gostava de ir à loja pela coisa do templo, do ambiente, da história e do jazz que rolava aos sábados. Quando eu comecei a comprar meus cds, pouco mais de dez anos atrás, fiquei pirado com um quarteto de cello que tocava Metallica. Falei com meu pai que disse: "filho, vou te levar numa loja em Copacabana que tem tudo, morei com a sua mãe quando nos casamos no prédio em cima e a loja era pequenina. Hoje é enorme."

E tinha o tal cd. É a memória que fica forte pra mim. Depois comprei pouca coisa ao longo dos anos, apesar de frequentar. Sem dúvida, perdemos. É uma pena aquele espaço fechar.

Abração,

Clouseau

PS1: na próxima carta mando minha lista dos 15 momentos de 2010.

PS2: esse Michael's Vision deve ser demais, mas ando um pouco saturado de MJ, apesar de fã do cara.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Noel,

Simone pode ter aposentado sua versão de John Lennon, mas o beatle anda tocando bem aqui em casa, em sua fase solo. Recebi da EMI toda a discografia do homem e alguns ainda seguem no plástico, para serem degustados em seu tempo, sem correria. Aliás, a semana passada foi recheada de Lennon, com vários programas no GNT. Vi um pedaço de uma dramatização da vida dele, com uns atores desconhecidos, e um pedaço de um documentário sobre a relação dele com Nova York. Interessantes, embora sem maiores revelações, mas me fez rever alguns conceitos a respeito de Yoko, que ainda me passa a imagem de chatonilida, mas comeu o pão que o diabo amassou com a perseguição dos fãs dos Beatles em Londres -- o que, por fim, foi determinante para a ida do casal para NY.

Enquanto isso, Cee Lo Green continua rodando, não ininterruptamente, mas com frequência. Onde quer que leia algo sobre o disco, as críticas são positivas -- exceto no blog do ACM, que encontrou ecos de Crazy em F**k You, o que, ora pombas, não é qualquer demérito... Fiz uma curta resenha para a Rolling Stone, que você teve a bondade de ler antes que eu enviasse, e, bem, você viu lá que eu estou com os que elogiam. Cee Lo e outros afazeres de fim de ano, devo dizer, têm me afastado de Fitz and The Tantrums -- que já está comigo, mas ainda não coloquei para rodar. Mas, se tudo for bacana como MoneyGrabber, estamos feitos. Entre os comentários ao vídeo no YouTube, havia um que achei tão engraçado quanto certeiro: "Motown + Bowie = Awesome". Assim que ouvir o restante do disco, escrevo algumas linhas.

Aliás, ainda na mesma seara, conversando com um amigo, sugeri que ele jogasse Cee Lo Green e Ben L'Oncle Soul no YouTube, para ver qual é a da nova soul music que vem sendo feita lá fora. E foi bem interessante porque ele achou o francês mais "consistente" (palavra dele) do que Cee Lo, de quem ele gostou, mas achou "bem pop" e se perguntou se "tem fôlego" (novamente, palavras dele). Sem concordar ou discordar, fiquei matutando por que ele teria achado isso, e me veio à cabeça que, enquanto Cee Lo injeta a sua personalidade musical na coisa, talvez Ben L'Oncle seja mais reverente ao passado, e emule os heróis do soul sem reprocessar tanto (o que não significa copiar, deixo claro). E como o soul das antigas sempre soa mais consistente do que o pop atual, então... Faz sentido pra você?

Falando em passado, escrevi uma matéria para a Istoé sobre essa onda de caixas que recuperam a obra de um artista, uma série de discos antigos enfileirados num pacote luxuoso, manja? Há uma tendência claramente detectável, só de setembro para cá lançaram Beth Carvalho, John Lennon, Legião Urbana, Itamar Assumpção, Tim Maia e outros que não estou lembrando. Como a matéria ainda não saiu (deve ser no próximo sábado), fico quieto, mas te pergunto: você arrisca alguma explicação para a onda?

E, falando em caixas, o presente da semana foi a caixinha Michael Jackson's Vision, que a Sony teve a bondade de mandar, com todos -- todos! -- os clipes da carreira de Jacko. Como se não bastasse tudo que o cara fez pela música em si, ele também definiu os parâmetros do que chamamos hoje de videoclipe. Acho que, perto dele, só o Duran Duran fez tanto pela MTV em seus primórdios. Os maiores clichês dos videoclipes foram instituídos pelos caras.

Mudando de praia: Mayer Hawthorne e Amy Winehouse. Teremos um bom janeiro.

E a Modern Sound, hein?

And so, this is Christmas,

Rudolph, a rena do nariz vermelho

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

R,

Ainda não tenho minha lista dos 15 momentos do ano, mas já comecei a organizá-la, ficará para a próxima correspondência. Enquanto isso, no fim de semana comprei Ladies and Gentleman: The Rolling Stones. Um show na turnê do Exile on Main St. e que estava desintegrando em algum porão. A banda conseguiu comprar de volta, recuperar e lançar com ótima qualidade de imagem e som. Além do show com direção caprichada, já que foi filmado para os cinemas na época, há uma boa parte com extras - entrevistas com Mick, na época e agora, ensaios etc. Vale.

Pedi licença a Cee Lo e seu discaço para dar atenção ao Fitz & the Tantrums, dica sua, com o álbum Pickin' Up the Pieces, que é sensacional. É o tal blend pop+soul fazendo escola e, aqui, com uma formação que não tem guitarra e conta com a presença de uma cantora negra nos vocais de apoio. Fitz é meio figurão, me lembra os new romantics com um cabelo à la Duran Duran e aquela turma de blazer dos 80s.

O cd é ótimo, Rafael, e a voz de Fitz não é exatamente black, o que dá um charme a mais. Fica ali fazendo uma conexão com Hall & Oates, lembra deles?, que tinha aquela irresistível I Can´t Go For That - de onde Mick Simply Red Hucknall pescou a inspiração para a, igualmente irresistível, Sunrise. Quando escutar, fique atento a MoneyGrabber, Breakin' the Chains of Love e a baladona Tighter.

Conexão feita, vamos para o programa que Daryl Hall tem na web - acho que não passa em nenhum canal lá fora - chamado Live From Daryl's House, já assistiu?

Assisti e baixei o episódio do Fitz. É espetacular. Há uma banda residente, pelo que pude perceber, recebendo os artistas, junto com Daryl, que também canta e participa das músicas dos outros. E a mão é dupla, entra uma ou outra também do repertório de Hall & Oates. Entre as músicas rola conversa, a casa é bela e todo mundo cozinha e almoça junto. Já estou pegando também o da Sharon Jones, mas dá pra ver tudo no site. Não perca.

Por enquanto é isso, o ano está acabando e há uma boa notícia no ar: Simone parece que vai aposentar sua versão para a música de Lennon.

Abração,

F

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Comandante,

Não me entenda mal -- eu gosto de Los Hermanos. O meu problema é mais com a plateia do que com a banda, mais com o entorno do que com a música. Nunca alcancei aquele idolatria, e já me peguei várias vezes me perguntando se o problema era comigo. Fui a dois shows dos caras, e não entedia aquela comoção, as pessoas se comportando como se estivessem diante, sei lá, de um grupo de santos milagreiros barbados. Lembro-me do show do Radiohead, que eles abriram (antes do ótimo Kraftwerk, que faria o segundo show de abertura). Vi muita gente indo embora da Apoteose ao fim dos Hermanos! Nenhuma curiosidade, mínima que seja, em ver as bandas que viriam depois? Nem mesmo para justificar o (alto) preço pago pelo ingresso? Não entra na minha cabeça. Mas reconheço que é bom, e que eles fizeram bons discos (mas ainda prefiro Bloco a Ventura).

Voltando a Miles Davis, fusion nunca foi exatamente a minha praia preferida entre as várias do jazz, mas gosto de frequentar de vez em quando. Do fusion mais moderno, me agrada The Bad Plus, sobre o qual já falamos. Mas é a tal história: nada de colocar pra tocar e ir fazer café ou colocar roupa no varal. Não é música ambiente. É para ouvir com tudo. Bitches Brew, da primeira vez que escutei, me causou estranheza. Foram algumas audições até entender, na medida em que é possível entender aquela revolução. Escute e me diga.

Fui na sua e ouvi Cee Lo Green. Ducaralho. Fuck You é hit certeiro, no nível de Crazy. De modo que poderia até começar por ele a minha lista de top 15. Mas vou pensar melhor e te mando os meus na próxima correspondência. Aguardo o seu.

Bração,

R.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Rafa,

Deve ser muito bom o Hair, mas, como já te disse, minha ida nesses musicais é zero e sem motivo para tal. Gostaria de ir em um da dupla de sucesso, sim, quem sabe o próprio Hair, vou checar a agenda. E você fala do Brian Wilson relendo Gershwin. Ouvi um pouco, achei bem interessante, mas não voltei - aquela história da pasta do cd que se perde no computador. Achei They Can´t Take That Away From Me, com aquela roupa totalmente Beach Boys, sensacional (!).

Sobre os Hermanos: sinceramente?, acho que merecia uma atenção sua, vamos lá, o Ventura, pelo menos. Tem tempo que não me dedico aos discos, mas sei o quanto foram bons pra mim. Uma banda brasileira para chamar de minha, digamos. E aí faço o link com o fusion. Não, não conheço - ainda, ainda - o seminal Bitches Brew, mas uma época, fui do progressivo para o fusion (Weather Report, Eletric Band e outros novos como Niacin), pela coisa da virtuose e fiquei pirado. E, com isso, Los Hermanos, com aquela coisa meio desleixada - assim como a banda Cê? - era totalmente fora do meu contexto, beirando a piada.

Passa um tempo, que nem filme e, num show dos caras, entrei de cabeça. Ventura é um discaço. Aquela abertura com Samba a Dois, que Fernanda Porto gravou até, é ótima. Camelo em grande estilo. E o cd vai bem, muito bem, até o final. Você disse que tem o esquecível show de despedida e concordo, ali a banda já não estava bem, e a perfomance é péssima. Já tinha passado do ponto e até me distanciei deles por um tempo.

Nos últimos dias escutei sem parar Glenn Hughes, que foi do Deep Purple uma época. Ele entrou como baixista e segunda voz - coisa que o Purple não tinha até então -, ao lado do David Coverdale, que entrara como vocalista (depois ele sairia para montar o Whitesnake). Os dois praticamente deram um golpe de estado na banda e mudaram tudo com Coverdale vindo do blues e Glenn Hughes da black music. O classic rock do Purple virou rock com black music.

GH vem ao rio, dia 17, para fazer um show na Ilha dos Pescadores, lá mesmo, acho que não conseguiram o Circo, onde foi seu último show, uns dois anos atrás. Ele faz um rock com muito soul e black music. Canta muito, cheio daqueles melismas que caracterizam o canto negro e chega, às vezes, até a exagerar, como fazem outros grandes como Ed Motta e Stevie Wonder. Mas gosto dos 3. Aliás, li de um possível show de Stevie com Roberto Carlos ano que vem.

O ano está acabando e vamos fazer um top 15? Não especificamente de cds ou shows, mas de qualquer coisa relacionada à música - um relançamento, uma descoberta, uma trilha, um show etc etc.

Que tal?

Abração,

Nóimaier

ps.: Mayer Hawthorne no site do Circo, dia 14.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Câmbio, Neumayer,

Toda vez que vejo um espetáculo de Charles Möeller e Claudio Botelho, me pergunto por onde andavam esses talentos que eles pinçam. Com Hair não foi diferente. Não vou nem tocar nos aspectos teatrais -- fico na música, que é o que nos interessa aqui. Todos cantam à beça. As músicas (letras de James Rado e Gerome Ragni, também autores do texto, e melodias de Galt MacDermot) continuam deliciosas, 40 anos depois. Ain't Got No não perdeu o vigor divertido, e Let the Sunshine In, fechando o musical, é um convite a marejar os olhos. Mas Hair é um musical de certa forma atípico: abre justamente com o, digamos, clímax, com o seu grande hino, que é Aquarius -- na peça, intepretado com força arrebatadora por Karin Hils, ex-Rouge. Aí você poderia virar e dizer: "Pô, meu chapa, Rouge? Aquela bandinha do 'aserehe'?" Pois esqueça seus eventuais preconceitos. Na sessão em que estava, a moça foi aplaudida em cena aberta, na hora do refrão.

Falando em aplauso em cena aberta, Preservation Hall Jazz Band foi ó-te-mo, de fato. Curiosamente, desta banda que tocou no Municipal, o trombonista eu havia visto em outro clube de Nova Orleans. E o baterista, o grande Shannon Powell, me foi recomendado enfaticamente pelo concierge de um hotel, mas acabei vendo outra coisa no dia. A banda, você sabe, virou uma grife. Os músicos mudam ao longo do tempo (a banda, afinal, tem décadas de existência) e de acordo com o local onde estão -- certamente, enquanto eles tocavam aqui no Municipal, uma outra versão da banda tocava lá em Nova Orleans. E talvez alguma outra formação estivesse fazendo show em outro lugar, vai saber.

Em Nova Orleans, o Preservation Hall é foco de resistência do dixieland, o jazz tradicional. Fica a alguns passos da Bourbon Street, onde hoje praticamente só se ouve róquenrol, uma coisa meio turistada. Tenho visto Treme, a série da HBO que se passa em Nova Orleans, três meses depois do Katrina. Os músicos da história, todos roots, fazem piada o tempo todo com a Bourbon. O trombonista que é um dos personagens principais tem que ganhar o dinheiro do leite das crianças, e aceita tocar num clube na Bourbon Street, mas tem vergonha de contar aos amigos. Quando eles ficam sabendo, dizem, meio que consolando, mas sem acreditar de fato no que falam: "There's dignity on Bourbon, man!"

Bem, há dignidade no Preservation Hall, uma casa antiquíssima, que mantém seu charme. Os shows começam cedo -- uma sessão às 20h, outra às 22h. O espaço é um salão não exatamente grande, mas também não pequeno. As pessoas sentam em bancos daqueles compridos, vários deles espalhados pelo local. Quem chega depois vai se acomodando no chão. E quem chega realmente depois fica em pé. Nada que comprometa a experiência -- muito pelo contrário, acho. O lugar, afinal, não é um clube. É um espaço de louvação do jazz tradicional, com direito a instrumentos não microfonados. Nem o vocalista canta no microfone. Quem está lá vai para prestar atenção. Não há mesinhas onde as pessoas ficam namorando ou conversando enquanto os músicos tocam. Do lado de fora, há uns coolers à diposição dos clientes, que podem comprar água ou refrigerante. E só. Nada de cerveja. Comida, então, nem pensar. O lance ali é música, e apenas música.

Você me pergunta sobre Los Hermanos, e eu acho bom. Mas só -- bom. Não tenho nenhum disco. Aliás, tenho o ao vivo deles na Fundição (meio esquecível) e já tive O Bloco do Eu Sozinho, mas foi roubado no carro, se bem me lembro, e não me preocupei em repor. Nunca senti falta. Nunca tive Hermanos no iPod, por exemplo. A verdade é que acho que eu nunca descobri a banda. A idolatria em torno dos caras talvez tenha me afastado. Sempre achei aquela histeria um saco, aquela coisa de a-melhor-banda-de-todos-os-tempos. O disco solo do Camelo, este já me falou mais.

Comprei ontem Brian Wilson Reimagines Gershwin, com a visão do líder dos Beach Boys para a obra do grande George Gershwin. Achei interessantíssimo -- do tipo que, mesmo que você não goste, não tem como negar que é uma apropriação de personalidade, respeitosa, sem ser por demais reverente. Há Brian Wilson ali, mesmo na obra de um dos maiores compositores populares do século. Do contrário, por que regravar?

Nos últimos dias, andei passeando pela edição comemorativa de Bitches Brew, de Miles Davis, o marco inaugural do fusion. Me soou melhor (muito melhor, aliás) do que da primeira vez que ouvi, quando achei muito viajante demais. É fusion, afinal. E você, curte o gênero?

Câmbio, desligo,

R.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Camarada,

Sim, há mais coisa lá fora. Há mais coisa interessante lá fora para os meus ouvidos. Sendo assim, chegamos na equação matemática que resume o player. Não conheço o disco do Gnarls Barkley justamente pelo frenesi na época, fiquei longe. E, até por isso, quase não baixei o Cee Lo Green, que também saiu etiquetado. Fiz junto com o Arcade Fire, como exercício, para ouvir, mesmo com a coisa hype. Cee Lo bateu muito bem, estou preso, não consigo sair. Aguardo sua opinião. Já o Arcade Fire, tããão falado por aí, soou longo. Começou bem, mas fica repetitivo, poderia ter quatro músicas menos. Mesmo assim, é uma boa banda.

Peguei o Ray Charles que sugeriu, mas ainda não escutei. Comprei também um da Preservation Hall lá no show no Municipal. Aliás, grande apresentação aquela. Essa série Jazz All Nights foi uma das melhores coisas do meu ano. A música que o baterista cantou me remeteu ao Ray, que sempre ouvi em casa, pelos discos, depois CDs, do meu pai, fã do cara.

Hoje li, no Globo, sobre o DVD de Marcelo Camelo, lançamento. Quero assistir, estou curioso. Gosto muito do Sou/Nós, acho que Camelo foi feliz naquele disco. Boas canções, com um tratamento bonito e ao estilo dele. Santa Chuva, por exemplo, com aquelas cordas, ficou bela. Acho Los Hermanos a grande banda nacional da minha geração e, talvez, a única. O que não é difícil, vamos combinar.

Sei que o Brasil viveu o rock BR, dos anos 80, mas, nascido em 84, cheguei depois na música, e para encarar as produções daquela época, não dá. O Rock Brasil teve data de validade, na minha opinião. Por isso abracei os Los Hermanos, não tudo, mas, principalmente, Bloco do Eu Sozinho e Ventura. Dois discaços. Para completar, o DVD gravado no Cine Íris pega bem o momento que a banda estava. O álbum seguinte, 4, tem seus momentos, especificamente os de Camelo, mas perdeu charme tirando o naipe de sopros, que eu via como peça-chave no som deles. O concerto de despedida, na Fundição, eu já estava meio distante, achei fraco, muito.

Bloco e Ventura eu revisito com entusiasmo. Ótimas composições, arranjos. Por que não temos uma dessas novas cantoras gravando um Canta Camelo?, ou Canta Hermanos? Acho que daria um ótimo trabalho. Sei que algumas delas já gravaram soltas, mas um trabalho inteiro, bem arranjado, seria bonito de se ver.

Comente de Hair, comente de Los Hermanos.

Abração,

Miranda