sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Tex,

Concordo com os diferentes patamares dessa turma dos 80s - e ainda coloco Duran Duran aí num nível acima do A-ha e um pouco abaixo dos Tears for Fears. Tem duas coisas no TFF que me conquistam de cara: a coisa Beatles descarada e uma onda progressiva, sabe? Música com parte C lá no final, do nada. Isso me fisga, cinco minutos de música, já rolou tudo e os caras metem uma surpresinha, um vocal novo, sei lá. Isso é demais. A turma do Depeche eu não conheço. Mas tô contigo nessa parada. E isso me leva à Sade, que também tá pela área. Entre as coisas que minha mãe ouvia estavam os discos dela. Acabei indo no youtube ontem relembrar uns hits e passei por Still in Love With You, que é a música do dia, já perdi a conta de quantas execuções. Que charme. Que voz. Que coisa. E não só a dela - que saiu numa coletânea recente - como a original do Thin Lizzy. 

Pato Fu não faz minha cabeça. Quanto ao projeto com instrumentos de brinquedo, não sei, é bom mesmo? Quando começou a pipocar coisas sobre o disco eu assisti um vídeo de Live and Let Die e, sinceramente, minha reação foi algo como: o Paul tá sabendo disso? No sentido de...bom, você sabe.

Mas diga lá, merece uma segunda chance?

Então, assunto da semana: Bob Dylan. Fim de semana passado, The Basement Tapes fez total sentido. Entrei de cabeça no disco, escutei sei lá quantas vezes desde domingo. Ele é daqueles gigantes que a gente, cedo ou tarde, alcança. Foi nocaute: The Band por trás com as harmonias vocais e aquele instrumental, Dylan à frente com aquelas canções e cantando diferente, assumindo outra persona. Fora as canções do The Band que entraram no meio. O que é Bessie Smith? Uou. Você tem intimidade com esse disco?

Volto ao R.E.M depois que ouvir aqueles discos do início da década de 90. Chego lá.

E o Floyd? Escutei o Animals, da edição nova. Gostei muito. Taí um álbum que eu nunca tinha parado para ouvir deles. Quero comprar o Dark Side, Wish You We Here, Animals e The Wall, dessas edições novas. Nem a Immersion, nem a Discovery, mas a Experience.

Abração, 

Neuma

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Velhão,

Cabou o RiR, graças a Deus. Concordo contigo, música é o assunto dominante por quinze dias, e isso é bom, mas... toda onipresença cansa (vide Shimbalaiê). Vi uma coisa ou outra do festival, mas não perdi meu sono por nada. Stevie Wonder, por exemplo, vi uma bons pedaços, mas só na reprise -- e o cara realmente é ótimo, como se eu precisasse dizer isso (aliás, o que deu no UOL pra publicar aquela resenha?). Jamiroquai é bacaninha, mas é a tal história: depois da terceira ou quarta música, tudo começa a soar igual. Mike Patton, já falamos, foi ótimo, acima da média. Elton John é sempre Elton John, mas concordo com o Medina, acho que ele foi comedido. Deve ter havido alguma coisa ou outra que eu esteja esquecendo, mas, noves fora, foi isso que me atraiu. Sei lá, é pouco para um festival de sete dias. Não sei se o problema é com o RiR ou comigo -- ou com ambos. Até 2013.

Direto para o fim da sua correspondência anterior: sim, R.E.M. saiu por cima, e acho que já disse que eles só não terminaram antes justamente porque queriam sair por cima. Imagina, encerrar a banda depois de Around the Sun. Ia ficar aquela impressão de "é, eles já estavam na pior, mesmo, foi bom ter terminado", mas não -- os caras ainda encontraram fôlego para duas pérolas: Accelerate e Collapse into Now. Olhando agora, ainda vejo uma certa simbologia bacana (embora não saiba se intencional) nos nomes dos dois últimos álbuns. Acelerando depois de um disco mal recebido, e entrando em colapso no agora, significando o fim. Viagem minha?

Tears for Fears foi bacana? Dado o que li no Som Imaginário, parece que sim. Andei pensando na banda esses dias, e cada vez mais me dou conta do quão acima da média ela estava considerando os hitmakers dos anos 80. Acho que há gente daquele tempo que talvez percebêssemos só como um pop grudento como qualquer outro, depois virou meio cafona ser flagrado escutando, envelheceu como um bom vinho e, hoje, olhando em retrospectiva, deixa transparecer uma certa sofisticação que não percebíamos tanto (pelo menos EU não percebia). Tipo Tears for Fears. Tipo Simply Red, Depeche Mode. Tipo outros que não me lembro agora. Durante um tempo, todos me pareceram andar de mãos dadas, digamos, com A-ha. Depois de crescido, vejo que estão em patamares diferentes.

Correndo aqui, finalizo com uma deixa que comento mais alongadamente depois: comprei o DVD do show Música de Brinquedo, do Pato Fu. Chegou a ouvir o disco de estúdio? Gosta da banda?

Abração,

R.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Fala, Rafael.

Então, começando pelo Rock in Rio. Ok, elenco fraco esse ano, mas gosto do que gera - movimento na cidade, todo mundo falando de música, uma ou outra boa atração e diversão com shows ruins. De última hora, ganhei ingresso para sexta, ou seja, fui ver Elton John. Embora sinta da falta daquela voz que ele tinha, gostei muito do show. Bom estar lá acompanhado daqueles hits enfileirados, mesmo que ele, coitado, totalmente deslocado naquele lineup. Tem muita coisa bonita naquele catálogo ali, né? Uma música que ainda ecoava quando acordei no sábado foi Skyline Pingeon.

Pulo aqui a abertura do Milton, cara. Foi constrangedor. Aquilo foi uma cilada monumental para ele. Vamos para o sábado, vi, pela televisão, Milton e Esperanza, que achei esquisito. As bandas misturadas, Milton sem voz, Esperanza exagerando...  Fora que essa coisa dos encontros é perigosa. Pode ser bonita na ideia lá do curador e tals, mas, na prática, pelo que vi teve consequências sérias em quase todos os shows. O povo ensaia três vezes depois de trocar meia dúzia de emails e vai fazer um show de uma hora e pouco. Não é pra qualquer um. Já Mike Patton fez bonito. Entrou lá com o repertório italiano, acompanhado dos jovens da Orquestra de Heliópolis, e superou as -  já boas - expectativas. Resultado: uma ótima e empolgante surpresa e eu gostaria de ter visto in loco.

Domingão fui no heavy metal, craro. Ou, naquela bem Jornal Nacional, no dia do rock pauleira dos metaleiros. Sim, todo mundo de preto, mas um clima harmonioso em meio à barulheira sonora. Todos sabem que é o dia mais pacífico. Estão todos ali por um só motivo: música. E nada mais. Isso faz a diferença. O dia era do Metallica que encerrou a noite de forma espetacular. Não tem nem conversa, estão imbatíveis. Se em estúdio a fase de ouro foi até o álbum preto, que saiu no início da década de 90, no palco eles estão melhores do que nunca. Sóbrios, maduros e com total domínio. Foi bonito, Rafa. Sei que não é sua praia, mas é uma coisa de outro mundo uma apresentação dessas.

Amanhã tem mais. Vou para ver Jamiroquai, Janelle e Stevie Wonder. Você vai?

Passando pela onda jazz e blues. Quero pegar o Wynton + Clapton, o Wynton + Willie + Norah e também o da Ella. Mas, por enquanto, nessa praia, tem tocado muito The Bright Mississipi, do Allen Toussaint. Alto nível.

Sobre o R.E.M: saíram por cima, né?

Abração,

Neuma

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Filho,

Sabe quando as pessoas falam que não há tempo para mais nada? Pois é, está acontecendo comigo, e não é modo de dizer. No tempo que me sobra, o que falta é cabeça pra sentar a bunda e escrever uma resposta. Mas vamos lá.

Começo pela notícia mais fresca: o R.E.M. acabou!!! Olhando em retrospectiva, me pergunto se eles já não queriam encerrar na época de Around the Sun, disco meia-boca dos caras, e resolveram esticar um pouco para lançar dois ótimos álbuns, Accelerate e Collapse into Now. Tipo "não, não vamos acabar agora, com esse disco mais ou menos. Vamos sair por cima", manja? O R.E.M., acho que já te contei isso, me fisgou com dois clipes: o de Losing my Religion e o de Shiny Happy People. E não parei mais. De banda de rock, talvez seja aquela que eu tenho mais CDs (de verdade!) em casa. Gosto do modo como eles se tornaram gigantes, popstars, mesmo, sem perder uma certa pegada indie. Nisso, aliás, os caras foram pioneiros: abriram a porteira para que esse caralhau de bandas indies que a gente vê hoje começasse a tocar na MTV e encher festivais. Recupere o tempo perdido, vá atrás de Automatic for the People, de New Adventures in Hi-Fi, de Reveal -- e, claro, de Out of Time, o divisor de águas. Depois, volte um pouquinho mais no tempo até Green, o primeiro deles pela Warner (de chicletes estranhos como Pop Song 89 e da foda Orange Crush. E, depois disso, volte ainda um pouco até a fase mais roots dos caras, até o primeiríssimo Murmur.

Estive na expo do Miles. O que dizer? Estupenda, e isso nada (ou pouco) tem a ver com o fato de eu gostar tanto de jazz. Meu pai, por exemplo, que não tem nenhum interesse específico, saiu de lá bestificado. Fiquei tentando imaginar o trabalho de montar aquela estrutura toda. E, como você já havia observado, o modo como o som se insere na exposição, quase como se ele interagisse com os objetos, mesmo... Muito, muito bom. Gostei muito, também, daquelas pinturas que foram usadas em Bitches Brew, mas nos seus tamanhos originais. E me deu vontade de rever Ascensor para o Cadafalso, do Louis Malle. Você viu?

E, voltando ao nosso new soul (há quanto tempo já falamos disso, hein?), o que você achou de Sabrina Starke? Achei bem bom, ao contrário do novo da Joss Stone, indeciso entre o rock e o soul. E como grita, a moça. Como se alcance vocal fosse voz. Como diria o Paulo Francis, pfui.

O jazz/blues tem rolado bem em casa. Recebi um ótimo da Ella Fitzgerald, com gravações dela para a BBC. Caracoles. Como cantava, a mulher. Tem um DVD também, que ainda não vi. E gostei muitíssimo do registro do show de Wynton Marsalis e Eric Clapton. Cada um à sua maneira, dois conservadores musicais, mas que tocam pracas, escoltados por uma ótima banda. Corra atrás e preste atenção no arranjo que fizeram para Layla, quase marcha fúnebre. Tirando esta, todo o repertório é de blues clássicos, mesmo. Tenho achado boas essas parcerias do Wynton, primeiro com o Willie Nelson e depois com o mesmo Nelson e com a Norah Jones, tocando Ray Charles. Como disse o Serjones, é uma boa solução para ele, que toca muito, mas não parece ter ideias para um disco próprio -- como o jazz, para ele, morreu nos anos 70, talvez ele não se sinta digno de produzir algo novo, mas apenas de reverenciar o que já foi feito.

Por hoje é só, pe-pe-pessoal.

Abração,

Eu

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Tex,

Essa história é complicada. Sinceramente, hoje, acho que não espero tanta coisa assim da produção nacional - em quantidade, digo. É uma postura que reprovo e me incomoda um pouco, mas é meio por aí, ando muito ligado no que vem sendo feito lá fora. Sempre me cobro uma coisa made in brazil, mas sinto que é mais fácil ir para trás, por exemplo, e pegar um da Gal da época de ouro ou mesmo um clássico do Caetano, sabe? Ainda tenho essas lacunas. Enquanto isso, eu espero o segundo do Jeneci; sempre um do Milton; um novo com coisas do Moacir Santos; um de reunião dos Los Hermanos; algo novo do Camelo; algo do Ed Motta; um Eumir Deodato; um Hamilton de Holanda...

Não conheço muito de Prince, mas tenho curiosidade pelo artista. Conheço de longe, os hits, e tenho um DVD em casa, que nunca dei muita atenção. Está lá, encostado, na prateleira. Fiquei de assistir esses dias, em homenagem ao show que não aconteceu. Falando nisso, no sábado comprei o Purple Rain e também outras coisas no embalo. Fui às compras - é bom, né? - e peguei um álbum do Wilco, banda indie que sempre ouço falar bem e nunca escutei; o novo do Marcelo Camelo (ouviu?); Graham Central Station (funkão pilotado pelo Larry Graham); e Allen Toussaint, compositor de R&B, de Nova Orleans, que gravou um álbum chamado The Bright Mississipi. Conhece isso? Acho que tem a ver contigo.

Back2Black ontem foi muito bom. Asa abriu os trabalhos muito bem, com musicalidade de bom gosto e estilo no palco. Gosto do último dela, Beautiful Imperfection. É um pop bem feito, com esse charme soulafroblack e boas canções. Bate bem num sábado de sol, daqueles em casa, preparando almoço e dando uma geral em arrumações aleatórias. Em seguida Aloe arrebentou cantando e dançando muito. É impressionante como sua música cresce ao vivo, muito por conta da banda que o acompanha, que dá vida e vibração aos arranjos do álbum. Saí na terceira música do Seu Jorge & Almaz, já cansado, mas a outra surpresa da noite foi o Paraphernalia, pilotado por Donatinho e Alberto Continentino, que tocava entre as atrações em um palco menor. E palmas para a produção que criou um cenário espetacular na desativada Leopoldina.

Também estou longe, muito longe, de ser entendido de música erudita, embora tenha crescido com um pai amante do estilo e que sempre colocou no rádio do carro ou no som de casa. Sempre me interessei e ultimamente comecei a embarcar mais. Os dois concertos que vi da OSB, dessa série Beethoven, foram fundamentais para marcar uma nova fase na minha relação com o estilo. A sexta e a sétima sinfonia, sobretudo, foram determinantes. Desde então embarquei no Beethoven e tirei poeira de uma coleção que meu pai deixou comigo, ao passar (quase) tudo para mp3 e se desfazer de parte de seus cds.

Abração,

Neumayer


quarta-feira, 24 de agosto de 2011

F.N.,

Eu não gosto de falar essas coisas porque, sei lá, tem uns medalhões de quem é meio feio desdenhar (ou mesmo parecer que está desdenhando). E não é que eu tenha algo contra... Mas a verdade é que, sim, você está certo, qual foi o último disco do Milton, de verdade? Não que os mais recentes tenham sido ruins, pelo contrário -- vide o dele com os Belmondo (gosto bastante) e o com os Jobim (idem). Mas foram visitas a repertórios conhecidos, e sempre "Milton + alguém". Este último é meio aguado. Crooner é interessante, mas ouvi uma meia dúzia de vezes, se isso, e só. O que é uma pena, porque o Milton é um talento monstro, inegável. Enfim, o fato é que, de um tempo para cá, eu sempre volto ao Clube da Esquina.

Mas você rodou, rodou e não me respondeu: nos últimos tempos, quem são os artistas brasileiros de quem você realmente aguarda o próximo disco?

Dia desses chegou na redação o disco de uma menina chamada Laura Rizzotto (nome curioso, mas é isso mesmo). Consta que é a nova aposta da Universal. Brasileira, 16 ou 17 anos, gracinha, fotogênica. Em outros tempos, ficaria dentro do plástico, pegando poeira. Mas como eu me prometi, depois da última limpeza de discos, escutar pelo menos um pouco de tudo que me cai nas mãos, coloquei pra rodar. O estilo não é, absolutamente, a minha praia, mas não é que é um pop adolescente beeeem digno? O que me chamou a atenção, no entanto, foi a voz -- nada excepcional, mas inteiramente diversa daquilo que eu esperava ouvir, considerando a idade da moça e as fotos no encarte. Adoro quando isso acontece. E o bacana é que tem a chancela do Eumir Deodato, que ela conheceu via Facebook (ah, as novas gerações), e acabou arranjando uma das faixas do álbum e fazendo uma participação especial.

E o Prince, puta mico, hein? Não me lembrava disso, mas parece que ele havia cancelado um show por aqui em 2001. Com essa, não sei, não, mas acho que ninguém mais se arrisca a fechar algo com ele aqui no Brasil... Falando nele, diz aí: Prince te fala alguma coisa?

Migrando para o erudito, fui ver a abertura da temporada da Orquestra Sinfônica Brasileira, e sei que você foi no concerto seguinte. Estou longe, muito longe de ser um entendido no assunto, de modo que o que posso dizer vem da minha percepção da reação da plateia -- e, por este critério, a OSB foi aprovada. Achei a primeira parte meio pálida (impressão reforçada por uma diminuição de 85 músicos, do ano passado, para quase 60, neste?). Mas depois do intervalo a orquestra pareceu ter ganhado confiança, e fez bonito na Sinfonia Nº 1. Diga-se, com o inestimável auxílio do Lorin Maazel, um gigante.

Comecei a ler Escuta Só, do Alex Ross. E, pombas, dá até uma certa vontade de parar de escrever sobre música para todo sempre. Quanta erudição, sem qualquer sombra de pedantismo!

Ainda não vi a expo do Miles. Contaí.

Abraço,

R.T.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Tex,

Pegando carona no assunto "de quem você espera um disco novo no Brasil?", fui ao show do Milton Nascimento, na última sexta. Só adiantando: não embarquei muito no último dele. Acho bonito esse lance generoso dele de chamar uma turma para participar do álbum e tal - como aconteceu no Pietá -, mas, poxa, queria um disco do Milton Nascimento, sabe? Fora que vejo como deslizes gravar Jota Quest e Adivinha o Quê?, do Lulu, que tem outras muito melhores.

É birra minha?

Mas fui. Fui lá pra Barra, no Citibank Hall. Antes, claro, lancei aquele sanduba no Cervantes, de filé, mas sem abacaxi -- não gosto de misturar fruta na comida e coisa e tal. Em linhas gerais, o show é bonitão, assim no aumentativo mesmo. Mas onde tem essa generosidade, onde transborda essa coisa acolhedora mineira, falta unidade, falta liga. No meio do show a coisa dá uma esfriada com inúmeras participações, e muita (!) gente no palco, mas ok, o início do show é demais, com Milton jogando pra torcida com Encontros e Despedidas e Caçador de Mim, pra citar duas -- com a banda enxuta, só baixo, bateria, guitarra e teclado -- e uma voz muito, mas muito, em forma.

Embora o show caminhe bem, com saldo positivo, sou a favor de Milton fazer algo nesse formato mais enxuto, com os músicos mais soltos. É importante estar à vontade e essa coisa de muita gente não permite tanto. Ou até um álbum tipo Crooner 2. Gosto muito do primeiro.

Sim, anteontem fui na exposição do Miles. É espetacular. A ideia da montagem é esperta ao dividir as épocas e fazer com que passemos por cada fase, cada momento, cada mudança dele. Não quero falar muito até você ir. Não quero estragar nenhuma surpresa, mas é sensacional. Saí de lá gostando mais de Miles e mais desse universo do jazz. Falamos mais na sequência.

Mandou bem no Steely Dan. Eu só conheço o primeirão, Can´t Buy a Thrill, e gosto muito. Vou te acompanhar nessa.

Fico por aqui, passei rapidamente.

Abração,

F.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Salve, meu chapa, 

Cá estou eu depois de um longo e tenebroso inverno. Adiante que hoje tem assunto.

Com relação ao soul brasileiro, não tem como errar. Vá de Cassiano, três disquinhos, apenas: Apresentamos Nosso Cassiano, Imagem e Som e Cuban Soul -- 18 Kilates. Do Tim Maia, os discos da caixinha da Universal são mais do que suficientes (dos oito, alguns, diga-se, são até dispensáveis, mas o que você precisa pra se embrenhar no assunto está lá). Ah, e não se esqueça da fase Racional do Tim. Daí, processado tudo isso, você parte pra Hyldon, Carlos Dafé... e quem sabe chega até ao Seu Jorge, que, goste-se ou não, é herdeiro disso.

Seu Jorge é o chato-legal (ou o legal-chato?). Não conheço o trabalho dele a fundo pra dizer grandes coisas. Mas essa pecha cool que ele adquiriu lá fora, sei lá, acho meio injustificada. E concordo contigo que o trabalho do Farofa Carioca sempre me soou mais interessante. E concordo mais ainda que, putsgrila, aquele disco com a Ana Carolina é uma das coisas mais desnecessárias da história da discografia nacional. Foi um dos que foi embora na limpeza pós-obra (sim, eu tinha!).

Não escutei o novo do Mario Adnet. Mais uma vez, é aquela história sobre a qual (acho) já falamos: ao mesmo tempo em que eu louvo o trabalho dele como recuperador de pepitas da música brasileira (Ouro Negro é o exemplo mais emblemático), lamento que ele não tenha a mesma repercussão com seus discos próprios. No último dele, tive um pouco esse déjà vu a que você se refere, mas o trabalho é bom -- e, no entanto, passou batidaço.

Você me pergunta sobre o novo do Chico Buarque, e eu olho em volta pra ver se não tem nenhum (ou nenhuma, o que é mais provável) fã daqueles arraigados, que vá querer me bater. Você sabe, fazer ressalvas ao Chico é temerário. Bom, deste assunto nós tratamos por aqui em algum momento: eu já ouvi esse disco, e melhor, no passado. Há algo estranho quando os melhores discos de um artista começam a ser os ao vivo. E é este o caso do Chico, cujo último álbum realmente interessante foi Paratodos -- que é de 1993, há quase vinte anos! Não que os últimos trabalhos tenham sido ruins, sabe? Mas eu ouço, acho bonito, e tal, mas fico naquela: e aí? 

Não acho que renovar-se deva ser uma obrigação do artista, mas a verdade é que essa mesmice, por mais bem realizada que seja, acaba me causando uma certa indiferença. Quem são, hoje, os medalhões cujos novos discos eu aguardo com ansiedade, aqueles que, quando anunciam um novo projeto, eu fico de olho na data de lançamento? De cabeça, os que me vêm de imediato são Ney Matogrosso, Caetano Veloso e Adriana Calcanhotto. Justamente três que sabem transitar por várias frentes, sem parecerem esquizofrênicos. Três que, a cada disco, entregam algo diferente, sem perderem a identidade ou soarem como passageiros temporários da modinha do momento. Taí, te devolvo a pergunta: quem são os artistas brasileiros que, quando anunciam um disco novo, você fica esperto?

Lá de fora, ainda que por razões distintas, um desses artistas seria a Amy, que me deixou triste quando morreu. Tudo bem que era pedra cantada, mas sabe quando você tem como certo que algo ruim vai acontecer, mas, mesmo assim, quando acontece, você não consegue evitar uma pontinha de tristeza? Pois então. Espero que lancem o material inédito que ela vinha gravando. A moça ainda tinha muito pra dar, como prova a gravação que ela fez com o Quincy Jones de It's My Party.

Falando em cantoras, descobri Florence + The Machine, e gostei. Às vezes me lembra Cranberries, mas é diferente. Me soou fresco, novo. Outra, esta brasileira, que me chegou ontem, é uma moça chamada Ana Cristina, que está lançando seu primeiro disco, chamado Acaso. Escutei rapidamente ontem, em meio a outros afazeres, e achei bonita a voz. O interessante, no caso, é que ela já aparece com um trabalho de compositora (só uma faixa, Dindi, não é dela), em vez de ser mais uma intérprete entre as milhares que aparecem a cada dia.

Ainda sobre descobertas, esta semana me senti o mais ignorante dos seres humanos ao topar com Steely Dan, de quem conhecia algumas músicas, mas nunca tinha associado à banda. Cheguei no grupo via Donald Fagen, um dos seus fundadores, de quem pesquei o primeiro (e bom) disco solo. Aí entrou em ação essa maravilha que é a internet e pronto, cheguei ao Steely Dan -- que, depois vim a descobrir, tem quatro discos entre os 1001 daquele livro com os álbuns que você deve ouvir antes de morrer.

E o Miles, hein? Vai à exposição?

Fico por aqui.

Abração,

R.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Fala, bro.

Então, Di Melo é sensacional. Me fisgou e deve me levar para um terreno que pouco exploro, justamente esse que você falou de Cassiano e Tim. E mais umas coisas desse soul brasil, com samba-rock, por aí. Sugere algo? Mas de volta ao álbum dele, aquela abertura com Kilariô foi arrebatadora - não tem como não balançar ali - e o disco segue muito bem. Tem até um tempero de Piazzolla em Sementes. Viu?

Aguardemos o documentário.

Isso me leva a pensar no benefício da internet: li a ótima matéria do Calbuque (clap clap clap para ele) e já tinha o disco minutos depois. Sim, você rebateu bem, mas não é muita coisa toda hora? O que me leva a responder sua pergunta: me sinto soterrado também, com muita coisa para ouvir e uma bagunça sempre precisando de arrumação. É muita música. E para nós, naturalmente melomanos, a busca é sem fim, cada vez mais. E vez ou outra, lembramos de algo que já ficou pra trás. Como agora lembrei da Maíra Freitas.

Você viu o novo do Mario Adnet? Saiu uma sequência do Jobim Jazz. Serei sincero, Tex, a minha primeira reação foi: pourra, de novo?

Veja bem, comprei o disquinho para o meu irmão, de presente de aniversário, e soou ótimo, classudo, de extremo bom gosto. Trabalho gráfico bonito. Mas tinha como não ser?, com os melhores músicos do ramo, a música do Tom e o toque do Adnet. Sinto que às vezes há uma coisa meio deja vú na música brasileira. Talvez seja o meu eu roqueiro, meio ranzinza, falando mais alto. Vou pegar o cd e jogar no iPod.

E o Seu Jorge? É chato? Ou carrega essa pecha meio injustamente?

Não ouvi o álbum novo, nem o anterior, não é uma coisa que eu consuma, mas, assim, gosto do Seu Jorge. Conheço os hits. Acho que ele tem seu valor. Apenas penso que aquele show com a Ana Carolina foi uma escorregada monumental para uma boa carreira. Manchou. Vejo o povo aí detonando o cara, mas Burguesinha e o novo Músicas para Churrasco são coerentes com São Gonça e aqueles temas do único - uma pena, vale dizer - disco do Farofa Carioca, embora o trabalho do grupo seja mais interessante.

Está no pós-obra? Já voltou a ouvir música?

E o novo do Chico?

Abração,

Nóimaier

ps.: uma lista sem Thriller e Sledgehammer não merece nem atenção. E ainda deve ter um Radiohead nas cabeças para completar.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Neumayer,

Vergonha máxima este atraso. Parece que estamos nos comunicando nos tempos das caravelas, com aqueles delays enormes -- culpa minha, óbvio. Na real, não tenho tido tempo sequer de ouvir música. Finda a obra, estou me mudando de volta pra casa, o que tem consumido meu tempo.

O que me remete à tarefa que cumpri no último fim de semana, de tirar todos os discos de dentro do armário e empilhar na mesa da sala, enquanto não chegam as torres de CDs que encomendei. Parafraseando Caetano em seu "quem lê tanta notícia?", digo eu: quem ouve tanta música? Rapaz, tem disco que nem saiu do plástico. A ideia é me livrar de pelo menos um terço, não sem antes jogar para um HD externo uma boa parte. Você aí também se sente soterrado em meio à sua discoteca?

Você viu a lista da New Music Express dos cem melhores clipes da História? Sei que lista serve pra ser detonada, mas, pombas, uma lista dessa sem Thriller, do Michael Jackson, e Sledgehammer, do Peter Gabriel, não existe. Ressalte-se: não é que eles estejam na lista, mas eu não concorde com as suas posições. Eles simplesmente não aparecem! E você, tem alguma listinha de clipes preferidos?

E o Di Melo, hein? Por onde o Imorrível andava, meu Deus? Um som por ali entre Tim Maia do início da carreira e Cassiano (mais Cassiano do que Tim, acho). Irresistível.

Tento me lembrar de algo novo ou interessante que tenha ouvido desde a sua última missiva, e a verdade é que não me vem nada além de Di Melo. Espero tirar o atraso depois que voltar pra casa.

Na próxima correspondência, levanta uma bola que eu corto. Mas tá difícil te apresentar alguma novidade.

Bração,

Rafa

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Ralf,

Joshua Redman foi realmente irresistível, como você disse. Fui meio de turista, não sou muito por dentro da carreira dele, apenas do Wish, que peguei recentemente. E achei ótimo. Lá no palco, o cara me conquistou. Primeiro, o formato curioso, sem instrumento harmônico, né? Isso é algo difícil e ousado. Só baixo, a batera e ele, ali no sax. Foi demais. E aquele lance que ele fez mais pro fim do set? Uma espécia de beatbox na palheta do instrumento. Foi deep, como diz Ed Motta. Sem contar a energia dele no palco, se contorcendo, puxando aquelas notas de um lugar que só ele sabe. No fim do show, chega um sms do meu pai - que estava em outro lugar do teatro: por que não deixaram o cara ir ao banheiro antes de entrar no palco? Ha ha.

Wayne foi o que você disse. Acho que saímos com a mesma impressão. Mas teve algo, foi bonito, talvez fique melhor com o tempo, na memória. Como disse lá no Som Imaginário, aquela coisa da música meio suspensa, solta, me deixou também meio suspenso, solto na cadeira, disperso. Em alguns momentos eu me cobrava atenção, como se estivesse numa aula de matemática da quinta série.

Pulando para a segunda noite, sim, Marcus Miller bateu. Sou baixista, bissexto, mas sou, e acho que já falei aqui do dia que descobri o som dele e pirei. Não queria saber de outra coisa. Ver o cara ao vivo foi do cacete. O que foi aquele momento em Jean Pierre? Pulei da cadeira! Aliás, não sabia que aquela melodia tem origem em uma música de ninar tradicional francesa. Miles, espertamente, pegou a melodia e foi em frente. Algo assim. Depois me aprofundarei, mas é interessante.

O tecladista, discreto, tinha uns timbres meio cafonas, 80s, mas gostei disso. Enquanto, no lado esquerdo do palco, aqueles três eram três crianças tocando o terror. Alex Han, Sean Jones e Louis Alvin Cato foram um show à parte dentro da apresentação do Marcus Miller, que, no melhor estilo Miles, soube aproveitar bem o talento dos garotos.

Foi o melhor show pra mim. Você acertou. Mesmo faltando Backyard Ritual, minha favorita do Tutu.

Sharon foi dez. Um furacão. Tina Turner com James Brown. Energia sobrando. Temperatura lá em cima. Voz impecável. Foi isso e muito, mas muito mais. Mesmo assim, cheguei ao fim da apresentação meio cansado daquilo tudo. Já estava meio over nos últimos vinte minutos. E aí vi que aquela intro, que soou enorme, não foi tão divertida como imaginava, o que acabou fazendo com que ficasse, no saldo final, levemente desnecessária. As backings precisavam mesmo de um número solo cada?

Sei lá, não curti.

Mas chega de resmungar. Que venha o BMW Jazz Festival ano que vem. Essa edição foi demais. Uma pena não ter vindo o Tord Gustavsen Trio, que tocou em São Paulo. Vale um youtube.

Não paro de ouvir uma banda chamada Dear Hunter. Olha que interessante a história do Color Spectrum, novo trabalho deles: são 9 EPs, com quatro músicas em cada, e cada um de uma cor, que dita o caminho das músicas. Por exemplo, o preto é meio denso, com umas guitarronas, meio heavy; o laranja puxa para um rock mais 90; o verde é mais folk, cheio de violões; o amarelo pega a onda dos Beach Boys; o violeta é meio musical, pomposo, com cordas. E por aí vai. Criativo e bonito.

Fico por aqui.

Bom feriado.

Abração,

Neuma

sábado, 18 de junho de 2011

F.,

Direto ao ponto, desenvolvendo um pouco aquilo que falamos pessoalmente ou por Gtalk ao longo da semana: valeu muito a edição carioca do BMW Jazz Festival. Mas vamos por partes.

Na primeira noite, Joshua Redman se comunicou mais comigo -- e, a julgar pelas reações da plateia e pelo que li na imprensa, foi assim com a maioria. O baixista, Reuben Rogers, era de primeira linha, mas quem me chamou a atenção mesmo foi o baterista, Gregory Hutchinson, meio Art Blakey, guardadas as devidas proporções. Me agradou o formato enxuto, a seleção dos temas, indo de um certo orientalismo -- ouça de novo Ghost -- a um post-bop mais enérgico -- East of the Sun (And West of the Moon) --, os instrumentos se entrecruzando às vezes de maneira intrigante, com andamentos descolados, mas tudo muito atraente, irresistível, sem causar a menor rejeição. 

Rejeição, aliás, foi o que eu vi em boa parte do público durante a apresentação do Wayne Shorter. Hordas de pessoas indo embora. É aquilo que já te falei: ambos são letais em suas respectivas artes, mas enquanto Redman é um ninja, Shorter é um samurai. Exige adesão, entrega do público. Não é um cara que te pega pela mão. Quando embarquei na onda, percebi beleza genuína, uma expressividade original, uma imersão das mais profundas na música em seu sentido mais amplo. Mas, às vezes, apesar disso, os temas eram meio longos demais para mim, e confesso que perdi o fio da meada em alguns momentos. Não que eu ache que seja culpa do público, aquela reverência meio babaca de que "você está diante da arte mais sofisticada e não alcançou porque é um idiota". Comunicação é um exercício de parte a parte (o show de Marcus Miller, na noite seguinte, é prova incontestável disso). Mas há críticas que acho tolas. Por exemplo, aquela que diz que ele não sopra como antigamente. Pombas, o cara é um octogenário! Não deve correr, subir escada ou trepar como antigamente. Por que deveria soprar? Ouvi essa mesma bobagem depois de um show do Sonny Rollins, em idade igualmente avançada, numa das edições do finado TIM Festival. Dá vontade de bater.

No dia seguinte, Marcus Miller, que foi aquilo que todo mundo viu -- e vou deixar para você falar, já que, suspeito, deva ter sido o melhor show dos quatro, na sua opinião.

E Sharon Jones, avassaladora. Difícil comentar algo que já não tenha sido falado, mas devo dizer que eu achei ainda melhor do que esperava. Você disse que, mesmo tendo achado o show ótimo, te cansou um pouco a mesma fórmula repetida por duas horas. Entendo, mas não tive a mesma sensação. Pelo contrário, aceitaria mais algumas doses. Imagino que tenha sido porque assisti em pé, dançando, enquanto você estava na poltrona. Faz diferença. É um show dançante, acima de tudo -- o que foi dito pelo guitarrista ali na introdução, antes que a cantora entrasse no palco. Imagine aquilo no Circo Voador, num sábado à noite, todo mundo com uma cervejinha na mão. Deu pena da Amy, cara.

Depois disso tudo, quase esqueci da sua pergunta da carta passada, sobre o Queen. Sim, gosto -- já escutei bem mais, mas continuo gostando. Há quem não goste? Gente mais infeliz.

Bração,

R.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Tex,

Passando rapidamente para não deixar sua carta pra trás.

Começo concordando com duas coisas: a superexposição da Gadu cansou (muito) a imagem e a música dela; e a Sharon Jones faz soul e é isso, como você disse.

Essa coisa de música no repeat é ótima. Tenho muito. A dessa semana é Girl, You'll Be a Woman Soon, do Neil Diamond, na versão da trilha do Pulp Fiction, com o grupo Urge Overkill. E é exatamente o que você disse - concordando novamente: a música não precisa ser a oitava maravilha do mundo, basta ter isso que nos faz deixá-la no loop. É inexplicável.

Tumbling Dice, dos Stones, foi outra que ficou dias quando descobri.

Estou naquela época de ouvir pouca coisa nacional, tenho caminhado pelas trilhas do John Williams; também pesquei Speak No Evil, do Wayne Shorter, que você deve ter coisa pra falar; e, dos nossos, ontem fui até Bethânia cantando Robertão. Me amarro nesse disco. Tem um repertório impecável, ótimos arranjos e talvez a minha voz favorita das cantoras brasileiras. Uma amiga me mostrou uns cantores italianos cantando Roberto e era coisa fina. Depois pego os nomes.

Bati aquele papo com Ed Motta e foi ótimo. Falamos um pouco da pauta que me levou lá na casa dele - Billy Harper, por conta do BMW Jazz Festival - e depois saímos por outros assuntos como Ennio Morricone, Moacir Santos, Led Zeppelin. Preferidos que temos em comum. E também coisas que ele não gosta, como Rush e Queen, para citar dois. O primeiro já falamos aqui. E o segundo? Freddie Mercury - opa, pera aí - te fisga?

E, sim, a coleção do cara é uma coisa mega!

Abração,

Éfe Neumayer

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Neumayer,

Começando pelo fim: Bizarre Love Triangle é uma daquelas músicas que eu seria capaz de ouvir indefinidamente, no repeat. É engraçado, porque isso não significa que essas músicas sejam necessariamente boas. Muitas vezes são, mas não é disso que se trata -- elas simplesmente entram fácil no meu ouvido, sem enjoar. Crazy, do Gnarls Barkley, é outra. Head Over Heels, do Go-Go's (que, aliás, estou escutando neste exato momento), também. Don't You (Forget About Me), do Simple Minds, outra. Você vai achar estranho, mas What's My Name, do Snoop Dogg, é outra. Cantaloupe Island, do Herbie Hancock (que gerou Cantaloop (Flip Fantasia), do US3), idem. E há mais...

Herbie Hancock, aliás, não sei se já te contei, foi um dos points of no return para a minha entrada no mundo do jazz. Eu era moleque, e adorava -- como todo mundo -- quando tocava Cantaloop (Flip Fantasia) nas festinhas. Achava a música duca. Um belo dia, estava eu numa festa no Iate Clube. Na área externa, longe da pista, tinha um bar e um telão onde passavam uns clipes. Não me pergunte porque diabos fizeram isso numa festinha de adolescentes, mas o que eu sei é que, de repente, entrou um clipe do Herbie Hancock tocando Cantaloupe Island. Bicho, foi uma iluminação. Inicialmente, eu não entendi muito bem, fiquei confuso com relação a quem teria chupado a ideia de quem. Quando a ficha caiu, eu já estava fisgado.

Dois discos rodaram aqui em casa por esses dias. Um bem bonito, do Chico Adnet (irmão do Mario, pai do Marcelo), chamado Alma do Brasil. Merece mais audições antes que eu fale qualquer coisa. E o outro foi o registro do show de Caetano Veloso e Maria Gadú, que tem seus momentos. O primeiro CD (o disco é duplo) é indiscutivelmente melhor, com eles em duo desbravando um pouco de um repertório ao qual Caetano há muito não voltava -- O Quereres, Rapte-me Camaleoa, Vaca Profana... No segundo CD, principalmente na parte em que Maria Gadú canta sozinha, a peteca cai. Tenho a impressão de que é efeito da superexposição. De fato, a moça começa a cansar -- se é que já não cansou. Um único álbum de estúdio e sei lá quantos CDs e DVDs ao vivo, fora as participações em trabalhos de outros...

Só pra não deixar sem registro, Paul McCartney foi incrível, de novo. E, desta vez, sendo o Engenhão bem menor do que o Morumbi, deu pra ver mais de perto. O fato de ter sido a segunda dose foi bom para ter uma noção melhor do show como um todo, observar os músicos e tal. E concordo contigo: essa turma que diz que a banda é só o.k. talvez diga que Ringo é um baterista apenas correto. Releve, releve.

E o BMW, hein? Tô animado, principalmente com Sharon Jones -- que, aliás, deu uma entrevista acho que pra Rolling Stone, dizendo que não faz parte desse revival do soul. Teve gente que achou meio arrogante, mas eu entendo o que ela quer dizer. Pombas, ela não é dessa geração nova que revisita a soul music. O que ela faz é a própria soul music. Não acha?

Aliás, isso me remete a Amy Winehouse, que, pelo que li, já finalizou o terceiro disco. Mas o povo da gravadora não quer lançar enquanto ela não termina a rehab. Aguardamos ansiosamente.

Ouvi o Jamie Woon, e achei, sei lá... comme cicomme ça.

Vamos que vamos.

Bração,

R.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Tex,

Paul foi dez. Sem o impacto da primeira vez, claro, que foi forte, mas com aquele bom gosto de segunda dose. Tem um clima, uma vibe, que não tem erro, e dessa vez foi melhor, pois estava na companhia de grandes amigos e meu pai. E Rio de Janeiro, né? No Globo hoje, Carlos Albuquerque disse que a banda é correta, assim como alguém na Folha havia falado na época dos outros shows. Discordo. Acho a banda ótima, jovem, com uma presença na medida e precisa. Gosto muito. Não tem muito o que falar de repertório, né? Mas - dentro da previsibilidade do set list - senti falta de My Love, que vimos em SP. A abertura com Hello Goodbye foi uma surpresa das boas. E gosto de destacar Sing the Changes, do projeto dele Fireman, que conheci no show de SP e é ótima.

Pulando para o duo Tears for Fears.

Cara, escuto a banda desde o berço. Minha mãe sempre ouviu, é fã dos caras. Quando mais novo eu acha a voz do Orzabal um saco, mas depois, quando comecei a me ouvir música mesmo, fiquei fã da música deles. Acho uma das melhores coisas dos anos 80. São discos de uma musicalidade muito acima do que era feito na época. Tem um cuidado especial ali com aquelas composições, na minha opinião. Não perco o show, assim como o do Clapton, que não vi naquela turnê dez (?) anos atrás.

Comprei, por esses dias, um dvd do tias fofinhas. Tem um documentário sobre o discaço Songs from the Big Chair e também um show, acho que do fim dos anos 80. Ainda não tive tempo para dissecá-lo, mas promete.

A trilha do dia é um cara chamado Jamie Woon, uma amiga mandou e fiquei hipnotizado pelo som. Dei o play inúmeras vezes hoje O nome da música é Night Air e é bem interessante, mas não sei se é da sua praia. Tem uma base programada, levemente eletrônica, mas com um toque meio ambient, com arranjos espertos, com espaços, silêncios, e a voz do tal Jamie Woon é o grande pulo do gato. Ele tem uma forte onda do soul e um falsete daqueles. Vale o youtube.

Também tenho colocado no repeat Bizarre Love Triangle, do New Order, e tentado ver o que faz a música ser tão incrível. É um daqueles casos onde o compositor atingiu o mais próximo da perfeição na ideia. Não é por aí?

Abração,

Neuma

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Zé Neumayer,

Prometi manter o ritmo veloz das correspondências, mas a obra e alguns frilas me consumiram. Enfim, cá estou, com mais uma das minhas curtinhas, só pra não deixar a peteca cair.

Você me pergunta sobre Bob Dylan, e o que dizer? O cara é gênio. Não sou dos admiradores mais fanáticos, essa coisa de seita sempre me enervou um pouco, mas há fases em que ouço bastante. Tive a oportunidade de vê-lo na inauguração da Arena (não sei se na época já era esse nome, mas hoje HSBC Arena). Vi do camarote, lá da putaqueopariu, um pontinho no palco, mas valeu. Para além das músicas, sempre tem aquela coisa meio indescritível, impalpável, de estar no mesmo recinto que uma lenda da música. Senti isso com o Bacharach, com o Aznavour, com o McCartney... Já te ocorreu isso com alguém?

Aliás, falando em McCartney, partiu Engenhão? Estamos lá de novo. Agora que você já viu, qual é a expectativa para a segunda vez? Quero prestar mais atenção em outras coisas, ter uma noção melhor do show. Numa estreia com McCartney, como foi a minha em São Paulo, é difícil não ficar meio hipnotizado pela figura do beatle e esquecer do resto.

Estou escutando Etienne, do Garage a Trois, que você me apresentou. Não dá pra avaliar por uma música, apenas, mas até agora desceu bem. Tomara que não seja só esta música...

Sobre Clapton, é claro que me animo. E, em praia bem diferente, me animo pra Tears for Fears... Banda que fez minha cabeça quando eu era moleque. E acho que não ficou datada. E tu?

E sobre Billie, vai me dando as suas impressões conforme for escutando coisa nova (ou velha, dependendo do ponto de vista...).

Agora dá licença que eu vou aproveitar o que me resta de folga antes do chicote estalar no novo emprego.

Bração,

Rafa

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Farrael,

If I Were a Rich Man é divertidíssima, ótima. Preciso entrar nesse mundo logo, mas confesso que preciso de um empurrãozinho para sair de casa e ir a um musical desses. E são caros, não? E o José Mayer? Vale? Depois que conferir me fale.

Acho que Adele lançou um disco enjoado, esse 21. Mas seu 19, o anterior, é ótimo. Acho que ela é comparada com Amy por vir na leva, mas não vejo muitas conexões, sinceramente. Adele abre mais para o folk, e até um pop melado, embora com conteúdo. É bonitona a gravação dela de Make You Feel My Love, do Dylan. E repito - acho que já disse aqui - que Rolling in the Deep é um dos melhores singles do ano. Bom mesmo, meio country, gospel, soul... Ela tem um vozeirão.

E o Dylan, hein? É um desses casos que ficam piscando em neon na minha frente. Mas um dia chego lá.

Estive com Billie Holiday no fim de semana, te falei, né? Resolvi puxar o disquinho que veio naquela coleção da Folha, não tenho nada além disso. Deixei no repeat, meu amigo, o sábado inteiro. E sábado de sol, deu um contraste. Depois ainda fiquei estacionado em Autumn in New York. Mas falo mais dela depois, com mais intimidade. Quero registrar apenas que ela falou comigo.

Garantido nosso BMW Jazz Festival. Não tem como ficarmos de fora. Sim, acho que vou pirar no Wayne. Tenho ouvido também umas coisas do Joshua e gostado bastante. Especificamente seu disco Wish, de 93, que tem Pat Metheny e Charlie Haden na - humilde - banda. Saca?

Serão dois dias diferentes, despertando reações diferentes, já que no segundo teremos Sharon e Marcus Miller. A primeira com aquela coisa poderosa, aquele soul, como um prêmio para o nosso 2010, onde falamos taaaanto dessa turma. E Marcus Miller, pra mim, tem um lance e te digo o porquê: sou baixista. Assim, já fui muito mais, claro, já tive bandas, estudei o instrumento, aquela coisa. E em um determinado momento da minha vida, quando descobri o MM, eu pirei, fiquei em estado de choque.

O cara virou meu super-herói do baixo. E não bastasse ser um baixista de responsa, ainda tem a coisa da produção, do clarinete-baixo (já viu ele tocando?) e ele ainda canta. Po!, eu só queria um pouco disso pra mim. De um dia para o outro, passei a tocar diferente. Só queria saber de black music, grooves, Earth Wind & Fire, Tutu etc. Abandonei os baixistas de rock progressivo, como o do Yes, por exemplo, e caí nessa turma.

Ah, o Rock in Rio. Sold out em menos de uma semana. O Medina conseguiu, né? Notável que jogou para o público, a molecada e conseguiu. Vendeu tudo, fez bilheteria e pronto. Não vamos falar das atrações, dos dias, de nada disso, para não perdermos tempo. Fraco, fraco. O único dia coerente é o dia do metal, aliás, o Medina tem um bom consultor para o estilo. Sempre teve, desde 85. Ou ele mesmo gosta.

Anima para o Clapton em outubro? Parece que é certo.

Abração,

Ferdinando

ps.: devo a impressão de Maíra, não esqueci.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Cara,

Foi mal, prometi não demorar pra responder, mas a última semana foi absolutamente atípica -- obra, mulher viajando, minha mãe no Rio e... mudança de emprego. Mas bola pra frente que o assunto aqui é música. E prometo que esta correspondência será curtinha.

Você me pergunta se eu escuto coisa orquestrada, e a verdade é que muito pouco. Conheço uma coisa ou outra, mas não me dedico, sabe? Minha aproximação com orquestras se dá mais por duas vias: a das big bands de jazz e a dos musicais. Aliás, falando em musical, você deve estar lendo de vez em quando sobre Um Violinista no Telhado, que vai estrear agora em maio aqui no Rio. Montagem de (quem? Quem?) Charles Möeller e Claudio Botelho para espetáculo de Joseph Stein, com músicas de Jerry Bock e Sheldon Harnick. Pra você que se diz um neófito nessa área, taí uma boa porta de entrada. Você já viu o filme? Procure por If I Were a Rich Man no YouTube e divirta-se.

Trocamos uma ou duas mensagens no Twitter sobre Adele, que eu escutei outro dia, mas não me comoveu. Já ouvi comparações com Amy Winehouse, mas qual! Nossa bagaça preferida, nos bons tempos em que ainda não havia se destruído, dá de mil.

Mudando de praia -- mas não muito --, a notícia da semana é a vinda do BMW Jazz Festival para o Rio. Só a nata do line up, Sharon Jones, Marcus Miller, Joshua Redman e Wayne Shorter. Não sei não, mas tenho a impressão de que você vai pirar com Shorter (arrisco a dizer que vai pirar mais do que com Miller). O único "problema" desse braço carioca é que eu dei uma desanimada de ir pra São Paulo...

Ainda falando de festivais, temos aí o Rock in Rio, com esse line up que... Bom, deixo pra você falar primeiro. Eu prometi que esta correspondência seria curtinha.

Abração,

Rafa

PS: E o Hugh Laurie, hein? Não é que o cara manja do riscado?

terça-feira, 26 de abril de 2011

Brôu,

Então, acho que vou começar pelo Automatic for the People e depois te falo. Bacana ler sobre sua relação com a banda. Na verdade, eu não imaginava, pois quando te conheci, você veio com aquela coisa de jazz/mpb na ficha, sabe? Não pensei que chegaríamos assim no REM. Bacana, abriu meus olhos - e ouvidos - para o som. E aproveitando a época, deixa só eu fazer um adendo à história do U2. Sei que já encerrei o assunto na correspondência anterior, mas é que voltei a ouvir e, sim, há uma virada de mesa maior - como você disse - no Achtung Baby, que voltei a visitar esses dias. Talvez a maior delas, definitiva, sem dúvida. Mas encaro como uma terceira fase, já que antes eles tinham saído do post-punk para fazer aquela coisa com a música americana, que deu no Rattle and Hum.

Que coisa Lorez Alexandria, não? E que nome bonito, vale dizer. Ótimo saber que ela teve esse acompanhamento de luxo, o que melhora ainda mais aquilo que já estava excelente. Tivesse eu um top charts desses, ela estaria subindo e deixando uma turma para trás. Bateu. Em breve vou pedir o Alexandria The Great na Amazon. Tem mesmo um quê de Ella com doses de soul. Meio que me apaixonei pela mulher, de primeira. E acho que vai durar.

Minha semana foi corrida e essa carta será reflexo disso. Revezei um Achtung Baby, no tocador de mp3, com um Ennio Morricone, no som de casa. Um na rua, de dia, outro em casa, à noite. Comecei a abrir os disquinhos que vêm no box do Ennio que trouxe lá de Roma. Hoje, enquanto estava nos afazeres matinais, soltei um dos cds no player e fui fisgado pelo tema do filme A Lenda do Pianista do Mar. Já assistiu? Direção do Giuseppe Tornatore, parceraço de Ennio em outros como o clássico Cinema Paradiso e o mais recentemente Baaria, que tem uma trilha impecável também.

Voltando ao tema do filme, Ennio é mestre, como ninguém. Ele fala com o coração, diretamente - pelo menos com o meu. Está no meu top 3 de compositores e brigando pela medalha de ouro. Nesse tema, ele começa prendendo a harmonia e dando pistas da melodia principal, até que ela entra, calma. Em determinado momento da música, é como se ele prendesse tudo. A coisa fica tensa, angustiante, até a glória. Ele liberta a música com o arranjo da orquestra completa executando o tema principal com a harmonia já acompanhando. É de chorar.

Você escuta coisa orquestrada? Seja uma trilha ou compositores clássicos mesmo. Tens esse hábito? Além do box do Ennio, eu trouxe um cd com temas do Nino Rota e outro com a 5a Sinfonia de Mahler.

Fico por aqui, ao som de Jamiroquai. Estou terminando uma seleção de mp3 que levarei para Itaipava no final de semana. O descanso chama, a rotina está intensa.

Na próxima carta volto com a filha do Martinho. Não deu tempo de pegar.

Um abração,

Nóimaier

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Parceiro,

Como a maior parte dos ouvintes na minha faixa de idade, fui fisgado pelo R.E.M. com o álbum Out of Time, de 1991 -- sim, aquele de Losing my Religion e Shiny Happy People. Na verdade, o que me capturou primeiro, você pode imaginar, não foi nem o disco, mas os clipes. Vivíamos ainda nos primórdios da MTV, numa estranha época em que o canal só passava... videoclipes! Très exotique... Lembro-me do início do vídeo, com a jarra de leite caindo no chão, de Stipe fazendo sua dancinha, de Buck tocando seu bandolim, das referências a Tarkovsky e a Caravaggio (reveja o clipe e procure pelo quadro A Incredulidade de São Tomé no Google) que só viria a entender depois, mas já me impressionavam. Depois veio aquele clipe solar de Shiny Happy People, a música renegada, a Anna Julia do R.E.M., aquela que a banda nunca mais tocou. Ainda me lembro do velhinho na bicicleta fazendo o cenário rodar, Stipe mais uma vez com suas dancinhas e com um ridículo boné amarelo e, last but not least, fazendo backing vocal, Kate Pierson, do B52's, que eu achava mó gostosa. Comprei o disco numa viagem ao exterior, e fui contaminado.

Automatic for the People, a obra-prima de 1992, sedimentou a minha admiração pela banda. A partir daí, enquanto os discos se sucediam, eu curtia na MTV e nas festinhas os hits mais antigos -- tipo It's the End of the World as We Know It (And I Feel Fine), Pop Song 89 e Orange Crush. Alguns discos, como New Adventures in Hi-Fi, hoje eu vejo como bons vinhos de guarda: melhoraram com o tempo. Depois do um tanto menosprezado Reveal, de 2001, eu me afastei um pouco da banda, e a má recepção dispensada a Around the Sun, de 2004, me empurrou ainda mais para fora do universo do R.E.M. Mas, apesar da minha indiferença ao que a banda andava fazendo no presente, os álbuns antigos, pré-Out of Time, que fincaram as bases do que hoje a gente entende por cena indie, já frequentavam meu iPod àquela altura. Há três anos, veio o excelente Accelerate e eu fiz as pazes de vez com Stipe e companhia. O show desta mesma turnê que os caras fizeram no Brasil foi um dos grandes da minha vida.

Lorez Alexandria é ó-te-ma. Tem um quê de Ella, acho, mas soa mais soul music, às vezes (procure por Baltimore Oriole no YouTube para sacar o que estou dizendo). Este disco que você recomendou, Alexandria the Great (trocadilho com Alexandre, o Grande), afora o repertório infalível, tem nada mais nada menos do que Paul Chambers, Jimmy Cobb e Wynton Kelly, três músicos que tocaram em Kind of Blue. A flauta é de Bud Shank, que eu tive a oportunidade de ver no extinto Mistura Fina, ainda na Lagoa, tocando com João Donato. Tem mais gente, mas só esses caras já valem o disco. Valeu a dica.

Ontem e hoje, andei escutando a recém-lançada coletânea comemorativa de Sergio Mendes, disco duplo celebrando seus 50 anos de carreira e 70 de vida. Ouvindo os dois CDs, em que as músicas estão dispostas mais ou menos em ordem cronológica, dá para ter uma ideia mais ampla da trajetória do cara -- e, para mim, confirmou-se aquilo que eu já achava: o melhor Sergio Mendes ainda é aquele que gravou com o Brasil '66. Dá até uma certa tristeza ver que ele se rendeu à pasteurização dos Black Eyed Peas da vida...

E Maíra, escutou?

Abração, feliz Páscoa,

R.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Fala, Rafa,

Então, chega de U2, né? Nem sei também de onde veio essa minha coisa com eles, mesmo que sempre tenha admirado. Acho que é uma lua-de-mel depois de ver o U2 3D e ficar amarradão na coisa mega. Sim, concordo, acho que isso é parte do que o U2 é -- o 3D, o Bono e suas boas ações bla bla bla. Só discordo quanto ao disco da virada ser o Achtung. Acho que o jogo começou a mudar mesmo no Joshua Tree, mas vamos em frente. E concordo que o último disco com canções de apelo foi All That You Can't Leave Behind.

Você fala de Keith Jarrett e também não conheço nada. Sei apenas que o disco Köln Concert é considerado um clássico dos clássicos. No mais: aquela viagem dele no show do Miles, na Ilha de Wight, é fantástica. Ele detona, entra num transe. Agora, vamos lá, eu li sobre o show no Segundo Caderno e essa coisa de ser SÓ o piano me assusta um pouco, ainda. Não sei se estou preparado. Como em um ritual de passagem. Assim como não estava para o Mehldau, que Jarrett esculhamba, sem ética, na matéria. Você viu?

Fosse o concerto em um formato de trio, eu teria me animado. É aquela coisa: ou você entra no modus operandi dele ou achará uma coisa insuportável. Fiquei em casa para evitar uma possível primeira impressão equivocada, pois sei que o cara é um monstro. Imagino que tenha sido mesmo emocionante para quem embarcou, como você disse.

Roxette é legal, aquele pop bem embalado. Seria bom ver um show no melhor esquema greatest hits.

O BMW vem aí! A turma que está puxando o festival dispensa comentários. E ainda descobri dois artistas no line-up do festival que me fisgaram. Primeiro, Tord Gustavsen, pianista norueguês, que vem com o seu trio. Escutei coisas soltas no youtube -- o novo rádio -- e fiquei maravilhado. É de uma calma, de um lirismo que me conquistou. O outro é o francês Renaud Garcia-Fons, que toca um contrabaixo de cinco cordas, algumas vezes com arco, e mistura seu jazz com flamenco, música latina e erudita. Ótimas surpresas. Não deixe de catar.

Marcus Miller é um dos meus heróis.

Ontem, nessas andanças pela web, descobri Lorez Alexandria, cantora norte-americana, que gravou regularmente entre 57 e 64, quando lançou seu mais expressivo álbum, Lorez Alexandria The Great, pela Impulse. Nesse disco, um repertório que não tem como dar errado: My One and Only Love, Over The Rainbow, Satin Doll, I've Grown Accostumated to His Face... Ela só voltou a gravar em 77 e acho que isso foi determinante para o seu esquecimento. Na verdade, pouco conheço ainda, apenas li algo na wikipedia e allmusic.

Vamos fazer essa troca. Lorez Alexandria pela filha do Martinho, e falamos na sequência.

O que dizer de Collapse Into Now? Um discaço, com ingredientes do que o REM sempre foi, imagino. Estão lá os (ótimos) rocks mais urgentes e as baladas com aqueles bandolins no fundo e a voz -- que voz! -- de Michael Stipe. Essa segunda leva é o que fez minha cabeça, na verdade. Programo no repeat UBerlin, Oh My Heart, It Happened Today, Every Day is Yours to Win e Walk it Back.

Sim, deu vontade de ir atrás dos outros. Tem algo ali. E o pior é que sempre me perguntei: como podem gostar tanto de REM?

Juro.

Vou nessa, feriado taí, vou pegar uns dias em Itaipava.

Abração e cuidado com os chocolates,

Constanza

domingo, 17 de abril de 2011

Neuma,

U2 é bacana (o.k., é mais do que simplesmente "bacana", reconheço), mas nunca me mobilizou, sabe? Para você ter uma ideia, esse show em São Paulo não me deu nem uma coceirinha de vontade de ir. Sei lá, acho que ficou no tempo em que eu via MTV. Há quanto tempo não coloco um disco do U2 pra tocar, ou mesmo há quanto tempo não toca no meu iPod? Nem sei. 

Essa história de "renovação", que você mencionou, é que acho meio relativa. Salvo engano, a única vez em que os caras realmente se renovaram -- e que deu certo -- foi em Achtung Baby, de 1991. Vinte anos atrás, pô! Zooropa, de 93, é diferente do U2 dos anos 80, certo, mas segue a mesma linha de Achtung, o disco anterior -- ou seja, não vale chamar de renovação, né? Ademais, quem, além dos fãs mais arraigados, é capaz de citar de cabeça uma única música de Zooropa? Em Pop, de 1997, arriscaram outra guinada, mas deram com os burros n'água. Terminada a década de 90, os caras voltaram às raízes...

O último bom disco que fizeram, daqueles com músicas impregnantes, foi mesmo All That You Can't Leave Behind, de 2000. Mas, veja, é apenas um disco do... U2. Não dá pra dizer que eles se renovaram ali. How to Dismantle an Atomic Bomb e este último, No Line on the Horizon, também são discos de U2. Não que isso seja ruim, necessariamente. Acho que Bono e sua turma conseguiram a façanha de se manter no topo, sim, mas muito graças a todo o interesse midiático em torno desses shows über, show em 3-D, show pirotécnico, com odorama... E não dá para negar que a banda vai a reboque do carisma de Bono, com suas múltiplas participações em outros projetos e sua atuação em temas políticos.

Mudando de assunto, fui ver Keith Jarrett. Envergonhadamente, confesso que não conhecia quase nada do cara, e menos ainda de seus concertos solo. Saí maravilhado do Municipal. A relação simbiótica com o piano, a capacidade de fazer música instantaneamente, a entrega a cada nota , o respeito pela música... foi tudo emocionante. O modus operandi, você já deve ter lido a respeito, é sempre o mesmo: o cara senta no banquinho, abaixa a cabeça como se articulasse alguma coisa mentalmente (ou recebesse uma iluminação divina) e, de repente, começa a dedilhar no improviso, muitas vezes criando música ali, na hora.

Ontem, numa outra linha, fui ver Roxette (de Jarrett a Roxette, como sou eclético, não?). Achei que fosse me divertir mais, talvez tenham faltado alguns hits. Saí quando o bis rumava para o fim, no meio de The Look. Até aquele momento, não tinham tocado June Afternoon e, pecado dos pecados, Crash! Boom! Bang! -- que considero boa para além dos padrões Roxette. Marie já não tem mais aquela voz de outros tempos, se poupa escancaradamente nos agudos, mas não dá nem para culpar uma pessoa que teve um tumor seríssimo no cérebro. Gessle, em compensação, segura a onda como um garoto.

Andei ouvindo em casa o disco de estreia de Maíra Freitas, filha de Martinho da Vila, pianista clássica que enveredou pelo popular. Gostei, principalmente porque seria cômodo gravar um disco de covers, reverente ao samba e à MPB, mas ela preferiu inovar, mas sem experimentalismos vazios, sempre valorizando a música. O Show Tem que Continuar, segunda faixa (depois de um belíssimo piano solo em O Vôo da Mosca, de Jacob do Bandolim) é um exemplo típico: de cara, muitos talvez não reconheçam. Lá pelas tantas, dá o estalo e cai a ficha. Além disso, tem uma voz diferente, a moça. Dá uma catada.

Paul? Não comprei ingresso, mas talvez vá. Claro que iria de novo. Mas estou tranquilo se não rolar -- já vi uma vez na vida, já estou feliz.

Você me pergunta do BMW Jazz Festival, e eu respondo que, no que diz respeito a festivais, esta é a notícia mais feliz do ano até aqui. Wayne Shorter, Joshua Redman, Marcus Miller? Orkestra Rumpilezz?! Sharon Jones???!!! Salve Monique Gardenberg... Estarei em São Paulo, para conferir o que não vier para o Rio.

Mas me fala mais do que você achou do R.E.M. Acho legal saber a opinião de um recém-fisgado pela banda. Se animou de procurar os discos mais antigos?

Domingão, eu com tempo livre e acabei escrevendo demais. Chega.

Abraço,

Tex

quarta-feira, 6 de abril de 2011

R,

Eu peço desculpas agora pela demora. A semana pegou também. Muito trabalho, mas isso é bom, né?

Bacana que baixou o Mondo Cane. Sim, tem o fator Faith no More cantando clássicos italianos, mas sabe que gostei bastante? O álbum é bonito, com arranjos pomposos, que gosto, e um toque levemente cafona, que também bate bem. Ore d'Amore é para cantar no chuveiro, soltando a voz. Mike Patton arrebenta nessa. Aliás, ele vem para o Rock in Rio com o projeto, no mesmo dia que Milton Nascimento e Esperanza se encontram no Palco Sunset.

Eu entendo perfeitamente o seu ponto sobre os solos. Sinto muita falta disso também quando escuto esses da nova geração. Só vejo solos brilhantes nos dvds ou em vídeos ao vivo no youtube. É uma pena que a música esteja assim numa edit version constante. E não só no jazz, também sinto isso no rock. Tem gente que comemora um cd de rock sem solo, pois isso seria um ato de muita pretensão do guitarrista. Acredito que é coisa que vem da filosofia punk, que não toca por aqui. Quando colocam um arranjo de cordas, então, sai de baixo.

Vale destacar que Madness of Love é ótima, mesmo com os solos curtos.

Sobre as divas, Nina e Ella reinam lá em casa. Billie ainda conheço pouco, preciso ir mais a fundo. Recomenda algo em especial? Já Sarah me deixou um pouco incomodado com a coisa do scat singing constante em um video anos atrás e não voltei (ainda). Aliás, mesmo o scat da Ella demorou para me fisgar. Primeiro fiquei encantado pela Ella da canção.

No fim de semana passado fui ver U2 3D. Chegou a assistir? Gostei muito. Saí gostando mais de Bono e cia, que sempre acompanhei naquela coisa hits e dvds daqueles shows mega. A experiência de ver um show daquele porte num registro 3D de primeira categoria foi inédita. E muito boa. O som do cinema lá em cima. E gosto de onde o U2 chegou. A trajetória deles é interessante. Não conheço os discos a fundo, mas tem algo na história deles que me puxa pra perto - talvez isso de se renovar para se manter sempre no topo.

Paul vem. Vai de segunda dose? Eu vou tentar. Vale, não?

Fico por aqui, ao som de... Foo Fighters. Penso como Dave Grohl conseguiu deixar o Nirvana para trás - digo o peso da banda - e fazer uma segunda história com outro grupo. São poucos casos na música que conseguem deixar o "ex-algo" de lado.

E o BMW Jazz Festival com essa turma de peso?

Grande abraço,

F

ps.: ah, o novo do REM é ótimo!

segunda-feira, 28 de março de 2011

Salve, Neumayer,

Doze dias é muito tempo para esperar um simples retorno, mas o excesso de trabalho (matéria com uma penca de hollywoodianos difíceis de fisgar), preparativos para o meu aniversário (foi no último dia 19) mais uma gripe fortíssima que me pegou (no momento em que escrevo, estou com 38 de febre), juntos, são desculpa suficiente. Dito isso, vamos lá.

Peguei Mondo Cane na rede pra dar uma ouvida, e gostei, ainda que de uma maneira um tanto folclórica, tipo "nossa, olha que curioso, o cara do Faith No More cantando em italiano...". Não coloquei pra rodar de novo, mas quem sabe. Raphael Gualazzi, a quem você me apresentou, parece bom, mas eu confesso que preferi escutá-lo tocando standards em vídeos do YouTube do que naquela música dele. Sei lá, acho que estou ficando velho. Ou talvez sejam os 38 graus de febre.

Mas Madness of Love cativa. Sabe do que sinto falta, na verdade? De solos mais alongados. Será que os jazzistas-pop da atualidade só guardam seus solos para as apresentações ao vivo? Lá pelas tantas do clipe desta Madness of Love, há um princípio de trompete com surdina que clama por continuidade, mas, bem, o cara mal começa e já para. Mesmo o Gualazzi poderia se alongar em seu solo de piano. Será que nenhum jovem jazzófilo quer ouvir músicas com mais de quatro minutos em casa?

Você me pergunta sobre Nina Simone, e é claro que ela é grande. Mas a tríade Billie-Ella-Sarah ainda faz mais a minha cabeça (já disse que estou ficando velho?), especialmente as duas primeiras. Billie é um caso raro, paradoxal, mesmo, de voz que melhorava à medida que decaía. Compare suas primeiras e últimas gravações e entenda o que estou dizendo. Ella foi a primeira das divas de jazz que me pegou de jeito, em um disco dela com Louis Armstrong, de modo que acabei desenvolvendo uma afeição. No mais, os songbooks que ela dedicou aos grandes da música americana são obrigatórios. Sarah, não sei se você sabe dessa história, era tão perfeita tecnicamente que cantava uma nota para que os músicos afinassem os instrumentos.

Recebi uma coletânea comemorativa de 25 anos de Pet Shop Boys, de quem você sabe que gosto. Há um DVD impagável, com um show em Glastonbury em 2010, basicamente o mesmo que assisti aqui no Brasil no ano passado. Cenário engenhoso, com cubos que vão mudando de lugar e formando desenhos nos quais são projetados vídeos e cores. No mesmo DVD, há uma série de clipes raros gravados por Tennant e Lowe para a BBC. O valor ali ultrapassa a música: é um documento da evolução da estética pop, nos registros de uma das duplas mais pop de todos os tempos. Bem divertido.

Também recebi O Micróbio do Samba, disco de sambas da Adriana Calcanhotto, que por enquanto só rodou uma vez, e é bonito. Só não falo mais porque vou escrever sobre pra Rolling Stone, então não quero antecipar opiniões.

E, por fim, chegou também um DVD + CD de um show ao vivo celebrando os 50 anos de carreira da Tina Turner (que é uma das cantoras preferidas do... meu pai). Só coloquei o CD pra rodar, e Tina continua ótima.

Por enquanto, é só. Vou me deitar e cuidar dessa gripe.

Abraço,

R.

terça-feira, 15 de março de 2011

Salve, Rafael, é bom estar de volta.

A viagem foi ótima. Peço licença à música para dar uma passada rápida no roteiro. Itália, como eu imaginava, me encantou, foi espetacular. Roma, principalmente. Cidade incrível, que pretendo voltar logo. Depois em Paris, fiquei um pouco intimidado com a cidade no início, mas depois embarquei naquela beleza toda e me perdi nas prateleiras da Virgin Megastore, e também da Fnac. Madrid e Lisboa fecharam o roteiro com chave de ouro. Quase 20 dias foi um bom tempo longe e totalmente offline.

Mas vamos lá. Bacana suas novidades, sobretudo as do mundo do jazz. Estão anotadas. Caetano eu deixo pra depois. Gosto de ler você falando de jazz, mesmo, justamente pelo fato d'eu ser apenas um turista nesse mundo imenso. E pegando carona, comprei um belo box chamado Completa Columbia Studio Recordings, da Miles Davis/Gil Evans era. São seis cds traçando a época e também um belo livro no meio. A edição é linda e é o tipo de coisa que, aqui, custaria os olhos da cara e lá paguei 18 euros.

Na primeira cidade do roteiro, Roma, já comecei a saga comprando um box do Ennio Morricone, com 15 cds. Também lá pesquei outros interessantes: Mondo Cane, projeto de música italiana com banda e orquestra, do Mike Patton, aqueeele da banda Faith No More. Ele ataca de crooner em canções das décadas de 50 e 60. É o que tenho escutado nos últimos dias. Muito bom. E também Raphael Gualazzi, jovem pianista, compositor e cantor, que está em alta por lá e tem um som interessante, caindo pro jazz com bom gosto.

Vale uma ida no youtube atrás de Madness of Love, bela canção. Quero saber sua opinião.

Tem mais novidade para falar depois, à medida que for tirando as coisas da mala. Ah, também arrematei um box com 5 cds da Nina, em versão mini LP. Nem vamos falar mais de preço das coisas...

Aliás, acho que nunca falei aqui da minha admiração pela Nina Simone. Ela é a minha favorita, absoluta.

Sei que, talvez, ela tenha tido a carreira mais irregular das, digamos, divas do jazz. Quem sabe por ter tentado justamente outros caminhos e estilos - Baltimore, por exemplo, é um reggae suave - ou pelo temperamento difícil, principalmente nas apresentações. Mas tenho uma conexão muito forte com sua música.

E você? O que acha dela?

Abração,

Neumayer

sábado, 12 de março de 2011

Fernando, meu filho, senta que esta é longa (ops!).

Enquanto você se divertia nas Ôropa, o mundo continuava rodando por aqui. A ordem cronológica dos fatos já me escapa, de modo que vou jogando as lembranças a esmo.

Me chegou uma edição "platinum" (sim, é assim que eles chamam) de Deleted Scenes From the Cutting Room Floor, da holandesa Caro Emerald. Já falamos nela? Acho que não. Fui alertado de sua existência há alguns meses, pelo blog do ACM, e já havia corrido atrás do disco na internet. É, mal comparando, um Ben L'Oncle Soul de saias, no sentido de "popficar" referências passadas, só que menos soul music e mais jazzy, cabaré. Não vai mudar sua vida, mas vale a pena. A edição especial que me chegou tem clipes, vídeos de performances ao vivo e uma inusitada faixa bônus: uma releitura de Bad Romance, da Lady GaGa. Os clipes de Back It Up e That Man são os melhores, investindo numa estética vintage que me leva a perguntar, filosoficamente: o futuro da música é o passado?

Falando em passado, dia desses, vasculhando despretensiosamente (mentira, nunca é despretensiosamente) as prateleiras de jazz da Travessa do Centro, dei de cara com um disco com um tocador de tuba na capa. Só ele, mais ninguém. Fiquei intrigado -- não que não exista, mas é raro esse tipo de músico atuar como líder, e o destaque dado a ele na capa indicava que, sim, era ele que comandava a sessão. O nome do sujeito: Ray Draper. Nunca tinha ouvido falar, ignorância minha. Fiquei ainda mais intrigado quando li, na capa, "featuring John Coltrane". Pombas, como assim? Tocadores de tuba eram líderes nos primórdios do jazz, quando o instrumento ainda não havia sido substituído pelo contrabaixo e relagado às bandas de rua, brass bands e big bands (o.k., Miles havia reintroduzido a tuba em seu Birth of the Cool, de 1949, mas não dá para dizer que virou algo comum). Se esse disco contava com John Coltrane, ele devia ser de quê?, anos 50, 60? Chequei no verso e bingo, 1957. Lendo a ficha dos músicos, mais motivos para ficar intrigado: achei que, havendo uma tuba, não haveria um baixo, mas caí do cavalo ao ver que havia um baixista. Ou seja, a tuba teria a mesma função, sei lá, de um saxofone ou de um trompete. Comprei, lógico. E não me arrependi. Jazz moderno com belos solos de... tuba! Sabe o que é isso?

E como, em música, uma coisa necessariamente leva a outra -- eu diria "outras", no plural --, pesquisando mais sobre Draper, descobri que ele tocou com Max Roach, baterista estupendo (preferido do meu sogro), e com... Booker Little, um trompetista do qual, mais uma vez, nunca tinha ouvido falar. Se Draper já morreu jovem, com 42 anos, estupidamente assassinado durante um assalto, Little nem se fale: foi-se para o andar de cima com 23, por problemas decorrentes de uremia, que a Wikipedia me informa ser elevação da ureia no sangue. Fui atrás de alguns discos, nos quais se confirmaram influências de Clifford Brown (outro que morreu prematuramente, com 25 anos) e Miles Davis, que pode ir de uma certa melancolia ao hard bop, em geral com um pé no avant-garde. Num vídeo dele no Youtube, um internauta comenta: "Se Booker tivesse vivido mais, hoje estaríamos nos perguntando: 'Miles quem?'" Acho meio exagerado. Booker tinha 11 aninhos quando Miles fez sua primeira revolução no jazz, com Birth of the Cool. Mas, enfim, dá para ter uma ideia do cara.

No meio do caminho, ainda me chegou a caixa do Lobão, com três discos compilando o que ele de melhor fez na carreira, além do DVD do Acústico MTV. Ainda não investiguei os discos a fundo -- fiquei mais concentrado nos hits: Corações Psicodélicos, Vida Louca Vida, Vida Bandida... Para mim, é uma chance de saber mais de um cara cujo som sempre me agradou, mas cuja carreira não acompanhei direito.

Falando em Lobão, comprei o DVD do show Zii e Zie, de Caetano, no qual ele canta Lobão Tem Razão. O baiano e o lobo sempre fizeram esse papel de rivais intelectuais, que se espezinham mutuamente, mas não vivem um sem o outro. Lobão falou disso em uma entrevista recente à Globonews: de como a relação dos dois tem algo da rivalidade entre Wilson Moreira e Noel Rosa -- diferente, ele fez questão de ressaltar, da relação dele com Herbert Vianna, que ele acusa de ter roubado várias de suas ideias. Mas, voltando a Caetano, o DVD é uma beleza, embora nunca alcance o nível do show em si, que foi muito bom. Como era o último show da turnê, a banda soou entrosadíssima, e Caetano estava feliz, à vontade. E ainda teve Jorge Mautner no bis.

Deve ter havido mais coisa nesse ínterim, mas é melhor fechar por aqui. Você também deve ter muito o que falar.

Ah, só mais uma coisa: Paul McCartney vem ao Rio em maio, soube?

Abração, e seja bem-vindo de volta.

Rafael

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Maurice,

Sim, Esperanza é ótima. Gosto muito do anterior, que abre com Ponta de Areia, de Milton, num charmoso português. E como toca baixo, não? Fora a ginga e o - novamente - charme. Certa vez, estava eu numa festa para recepcioná-la na casa do Milton. Falaram que ela chegaria por volta de onze da noite. Eu estava lá, animado, afinal, era um show particular da moça. E a hora passava e nada dela, que gravava, perto dali, no estúdio do saudoso Tom Capone, participação no álbum de alguém. Ana Carolina, talvez. Enfim, boa jam session rolava, enquanto ela atrasava e atrasava...

Ela pintou por volta das 4 da manhã. Eu já estava detonado e ainda trabalharia no dia seguinte, cedo. Resultado: peguei um autógrafo no meu disquinho e saí fora. Fiquei sabendo, já no dia seguinte, que a moça começou a tocar e cantar às 5 e continuou pelo início da manhã, de forma arrasadora. Mandando muito no baixo elétrico.

Perdi.

Vi, na verdade, apenas os premiados no Grammy nos sites. O último do Arcade Fire é interessante, vale a pena pegar. E foi realmente muito bacana eles terem faturado. Mas não me liguei na cerimônia na tv, estava bêbado de sono e, zapeando de canal, parei num Mick Jagger, sempre elétrico, cantando com o Saadiq. Já quase dormindo, nem vi o Saadiq direito, a câmera não filmava o cara. Nem sei, ao certo, se ele estava no palco. Lembro apenas de Mick.

Amy e Cee Lo causarão barulho, caso o dueto realmente aconteça.

O James Blake parou de rodar, mas vale ir atrás, pelo menos daquele música que falei. Tem algo, principalmente na voz. Voltarei depois nele.

No fim de semana assisti O Vencedor, ótimo filme, com uma atuação comovente e espetacular de Christian Bale na pele de um ex-boxeador, viciado em crack, que agora treina o irmão. Na primeira cena do filme toca uma música com um groove certeiro e um riff de guitarra irresistível.

Achei que era algo obscuro da fase de ouro da black music, mas descobri, já no google, ser uma banda chamada The Heavy. A música é How You Like Me Now - passa lá no Som Imaginário e escuta. Fui atrás do álbum, de 2009, e não me decepcionei. São ingleses fazendo um soul funk com uma pegada bem roqueira. O vocalista tem uma voz daquelas. Vale catar a apresentação deles no Letterman também.

É o que toca nos últimos dias.

Domingo pego um avião para Europa. No roteiro musical: em Roma, conhecer a Accademia Nazionale di Santa Cecilia e lá assistir algum concerto com orquestra; em Paris, sair com algumas sacolas das Fnac e ir a um pequeno festival com bandas europeias de metal. Fora isso, cruzar com outros shows menores por lá, fora da agenda.

Até a volta, meu caro. Novidades à vista.

Grande abraço,

Verdine