segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Lek,

Começo pelo fim. Sobre a sua pergunta da proporção do quanto escuto de música nacional e internacional... não sei se saberia calcular. Meu primeiro chute é de meio a meio, com vantagem para a estrangeira. O jazz colabora muito pra isso, tocando a esmo no iPod. Mas talvez a explicação para isso, no meu caso, seja meio óbvia: há mais quantidade de música internacional circulando do que nacional. E, como meu interesse musical não tem nacionalidade como pré-requisito, acabo ouvindo mais material de fora. Não acho que se trate de uma preferência -- é mais uma questão matemática, só isso.

Meu conhecimento de Gnarls Barkley se resume a St. Elsewhere, o primeiro álbum dos caras, justamente o de Crazy -- que acho bom pra caralho, a música, mais até do que o disco, que acho bom, mas considero mais um daqueles superestimados, o grande fenômeno da última semana, à la Janelle Monáe. Mas lembro agora que, curiosamente, Crazy apareceu algumas vezes durante minha viagem a Nova Orleans. Em dois shows que assisti, de Kermit Ruffins, trompetista, e Big Sam, trombonista, rolaram inserções jazzy-funky da música. Mas, independentemente do que ache de St. Elsewhere, fiquei curioso. Vou atrás de Cee Lo Green, depois comento.

Tulipa (que, ao que parece, cortou o Ruiz do nome artístico), eu descobri muito por acaso -- e foi uma bela descoberta. Era um dos discos ainda no plástico que se acumulam lá em casa. Com tanta coisa que me chega, acabo deixando de lado aqueles que claramente devem ser esquecíveis, e vez por outra passam batidas, ali no meio de tudo, algumas pepitas às quais vale a pena dar atenção. Tulipa foi uma destas que pegou uma poeira antes de ser descoberta, tardiamente. E gostei muito. Vá além de Efêmera, corra atrás do disco inteiro. Marcelo Jeneci, não conheço. Dizem que é bom, eu sei, mas desconfio de tudo que é anunciado de cara como o disco do ano, capa do Segundo Caderno e tal.

Falando em disco do ano, não sei se é "o", mas certamente é "um dos": The Undiscovered Masters, com músicas perdidas do baú de Ray Charles. O Estadão deu cotação máxima neste fim de semana, e disse que, se você for comprar só mais um disco até o fim do ano, deve ser este. Não poderia concordar mais. Eu escuto esse cara e me pergunto por que diabos alguém ainda faz rhythm and blues depois dele. E me pergunto como músicas excelentes, com boa qualidade de gravação, podem ter ficado sumidas por tanto tempo. Tem até uma parceria dele com o Johnny Cash! É um caso de material do baú que não dá vergonha, manja? Bem diferente daqueles discos póstumos que você entende porque só foram lançados depois que o sujeito bateu as botas... O próprio Estadão também deu uma matéria sobre isso, com gancho no disco novo do Michael Jackson, cuja primeira música, chamada Breaking News, me soou irrelevante. Certas coisas, o melhor é deixar enterradas, mesmo...

Também me chegaram Viva Elvis, trilha sonora do espetáculo do Cirque du Soleil em homenagem ao Rei do Rock, com músicas deles com novos arranjos, absolutamente equivocados, diga-se; o novo do Jamiroquai, legalzinho, mas esquecível; e The Union, disco conjunto de Elton John e Leon Russell, que coloquei para rodar meio despretensiosamente, mas me levantou as orelhas em alguns momentos e merece nova audição.

E hoje tem Preservation Hall Jazz Band. Nos vemos.

Em tempo: Leffe, já te disse, é uma boa porta de entrada para as belgas. Aguardo uma opinião mais aprofundada.

Em tempo 2: vi Hair, o musical. Comento na próxima.

Bração,

R.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

John McLane, passamos pelo Paul.

Na volta para o RJ, até poderia ter optado por ouvir um Band on the Run no mp3, e continuar no clima, mas resolvi dar o play no Lady Killer, do Cee Lo Green, que falei aqui na última carta. Ele é metade da dupla Gnarls Barkley, que estourou com Crazy, e está no terceiro CD solo. A música de trabalho, Fuck You, chamou a atenção para o álbum pela... polêmica do título. Na Fox News, ele cantou Fox News no lugar. Mas o que importa é que o CD é ótimo. É soul repaginado, com cordas e sopros que nos levam aos clássicos da música negra americana, tão rica e que temos falado tanto.

Recomendo que pegue no site mais próximo.

Outra música que tenho escutado praticamente no loop é Efêmera, da cantora Tulipa Ruiz. Antes de Paul entrar no palco, naquelas caixas, essa música tocou em meio a rocks britânicos e coisas instrumentais. Eu desconhecia, mas bateu tão bem que anotei o refrão em uma nota de texto no celular para não perder. Depois, já hospedado, para a minha sorte, descobri ser a tal cantora. Conhece Tulipa? E o Marcelo Jeneci?, que é da turma dela e estava em todas as capas aí nas últimas semanas. Todo mundo levantou a bola do cara como um ótimo compositor, mas ACM disse que não é pra tanto. Vou pegar e volto depois com impressões.

E também dei uma chance ao último - e tão bem falado - The Suburbs, do Arcade Fire. Outro que bateu muito bem. Tem um pouco de rock, de folk... tudo que gosto.

Conforme a sonoridade black de Cee-lo descia bem no avião, eu, como um zumbi de sono, refletia sobre meu gosto e interesse pela música internacional, que escuto em maior número que a nacional, a nossa. Chutando uma estatística, diria entre 60 e 70%. Não há muito o que se explicar, nem sentir culpa, acredito. Mas é uma coisa que penso.

Vejo você, mesmo com a coisa forte do jazz, no inverso, inclinado mais à música brasileira. Estou errado?

Um abraço,

Jason Bourne

PS: provei a Leffe, mas acho que ainda é cedo para falar algo. O que importa é que a primeira impressão pediu mais.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Fernando, meu caro,

Estou de volta, depois de uma maratona exaustiva em busca do Santo Graal, a.k.a. Paul McCartney. Me canso só de lembrar: saí direto do trabalho em um voo que atrasou, decolando às 18h50, fiz check-in no hotel pouco depois das 20h, larguei a mochila, embarquei num táxi e parti pro Morumbi, entrando no estádio uns dez minutos antes do show começar. No dia seguinte, acordei cedo, peguei um voo e saí do aeroporto direto para o trabalho. Faria tudo outra vez, é claro.

Sobre o show, o que dizer que já não tenha sido dito, ou o que não esbarre no mais surrado clichê? Difícil. A plateia já comia na mão do beatle (sim, beatle, acho esquisita essa história de ex-beatle) antes mesmo de ele subir ao palco. Quando ele abriu os trabalhos com Magical Mystery Tour, em vez de Venus and Mars/Rock Show, que foi a que você ouviu no show de domingo, foi uma catarse coletiva. A letra já era um aviso: "The Magical Mystery Tour is waiting to take you away..." Depois de dois shows abrindo com uma canção dele com os Wings, acho que ninguém esperava que ele começasse logo com um petardo dos Beatles.

Tirando algumas poucas alterações na primeira metade, o repertório foi basicamente igual ao que você ouviu. Senti falta, lógico, de Drive my Car, mas fui recompensado com Got to Get You Into my Life. Não vou me estender mais dizendo o óbvio ululante, que o show foi sublime, que Paul tem magnetismo cênico invejável, que a banda é excelente. Fico apenas com um relato muito pessoal: meus olhos lacrimejaram em My Love, no coro de Hey Jude e, especialmente, aos primeiros acordes de A Day in the Life, que para mim é top 3 dos Beatles.

Por enquanto, é isso. Falo mais na próxima correspondência.

Abração,

R.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Rafael,

Hoje, terça-feira, 23 de novembro, se tudo correu bem por aí, já podemos falar que fomos ao show de Paul McCartney. E isso é muito, sem dúvida. Como você sabe, fui no domingo, ontem vivi e trabalhei como o zumbi por causa da missão. Escrevi, com esforço, um parágrafo sem graça no Som Imaginário, mas a verdade é que, diante daquele espetáculo, é tarefa árdua escrever um bom texto.

O que posso dizer, e postei hoje no tal do Facebook, é que toquei air guitar em Let me Roll It, chorei em The Long and Winding Road, fui levado para uma época que não vivi com All my Loving, me diverti em Ob-La-Di Ob-La-Da, dancei em Mrs. Vandebilt, toquei piano no ar em 1985, fiquei estático em My Love, pulei e pulei em Live and Let Die, cantei pra fora o refrão de Band on the Run e me juntei ao coro de Hey Jude. Isso resume um pouco da minha noite diante de um beatle. Foi um choque de emoções.

Vi o show inteiro destacado do grupo que foi comigo, ou seja, sozinho. Todos quiseram se infiltrar na muvuca enquanto eu, com 1,60m, como faço normalmente, fiquei lá pra trás, assistindo com auxílio dos telões e, em alguns momentos, na ponta do pé. Mas quem se importa? Eu estava no meio da turma que dançava de braços abertos, saía correndo para abraçar o outro, imitava quadrilha na levada de Mrs. Vandebilt. Fiquei num lugar privilegiado.

Foi histórico, memorável. As duas que não conhecia, do projeto paralelo Fireman, ainda bateram muito bem, muito. Não vou nem enfileirar destaques aqui, pois é perda de tempo. Mas isso me leva à questão de John e Paul, que falou na última correspondência. Sim, os dois se equilibravam e se encontravam nas diferenças. Mas fico com Paul também pela coisa da composição, da musicalidade. A música dele fala mais comigo. E sem esquecer aqui das belas contribuições de George, que foi bem lembrado com Something no show.

Gostei de um artigo, na Folha de SP do dia 18, escrito por Eduardo Giannetti, que traz um texto analisando justamente a coisa Lennon/McCartney e, em determinado momento, achei muito bem colocada a situação caso não existisse Beatles. O que Giannetti diz é que, em algum momento, os dois surgiriam. John na linha de Lou Reed e Leonard Cohen, os trovadores; enquanto Paul, claro, ficaria no lado dos magos da canção pop Elton John e Billy Joel.

Pedindo licença a Macca, vou falar do Cee Lo Green, ele é parte daquela dupla Gnarls Barkley, do hit Crazy, sabe?, então, acabou de sair seu álbum The Lady Killer, e recomendo. Normalmente, fico com pé atrás de tudo que lançam - culpa de nós jornalistas? - com a etiqueta "candidato a melhor do ano", mas fui atrás e não decepcionei. É parte do nosso estudo do soul. É um discaço. Acho que você deve pegar.

Aguardo suas impressões,

Ferdinando

E antes que eu esqueça: Ringo era ótimo baterista.

sábado, 20 de novembro de 2010

Meu nobre,

Desculpe a demora. A semana foi dos infernos.

Primeiro, às cantoras. Li sobre Adele no seu blog, mas não corri atrás. Sobre Janelle, não é que eu não ache bom. Eu só acho que não é isso tudo que falam. O que me faz arriscar a incerteza de um show de Amy Winehouse é saber que ela, sim, é tudo isso que falam.

Ivan Lins, falamos sobre ele algumas correspondências atrás. É de uma ignorância sem tamanho achar que o cara é simplesmente um chato. Como te contei, a Jazz Orchestra of Concertgebouw, holandesa, tocou Começar de Novo em sua apresentação. Burt Bacharach também saudou Ivan, cantando uma de suas músicas no show que fez aqui. Estes são os que me lembro de imediato, e que vi rendendo homenagens ao cara no palco. Mas há incontáveis outros. Um dia ainda vou investigar esse fenômeno -- quem sabe até perguntar ao próprio Ivan, em uma eventual entrevista.

Mas vamos ao que interessa -- que, neste momento, é Paul McCartney. À esta altura, você está em São Paulo, à espera do homem. Consegui uma bocada e vou ao show de segunda-feira, que não é o que você vai. Altas expectativas. Vou num esquema correria total, como se ainda tivesse meus 18 anos. Saio do trabalho cedo na segunda, pego um avião, chego em São Paulo às 19h, faço um check-in a jato no hotel (escolhido a dedo, colado no aeroporto, a cinco minutos andando), corro pro Morumbi, vejo três horas de Paul McCartney, volto pro hotel, durmo algumas horas e volto pro Rio na terça de manhã. Você tem alguma dúvida de que vale o esforço?

Fiquei imerso esta semana no som do cara. Respondendo à sua pergunta, se fico com Paul ou John... Francamente, às vezes acho que um não teria se constituído no artista que foi sem a existência e a parceria (ou rivalidade) do outro. É diferente de, sei lá, Mick Jagger e Keith Richards -- Mick teria encontrado seu Keith, mesmo que não fosse exatamente este Keith Richards, entende? No caso de Paul e John, não que tenha sido intencional, mas a persona artística de um, creio, teve grande peso na definição da do outro, naturalmente. O Paul de Ob-La-Di Ob-La-Da moldou o John de Strawberry Fields Forever (claro que Paul não compôs só Ob-La-Di Ob-La-Da... Yesterday, normalmente creditada a "Lennon/McCartney", todos sabem que é compsição do Macca!), e vice-versa. Os dois são lados opostos da mesma moeda. Mas, para não fugir da raia, ainda acho que Paul era melhor instrumentista, tinha mais musicalidade, foi mais versátil, e foi a alavanca do grupo em seus últimos (e melhores) discos. É com ele que fico.

Mudando um pouco de assunto, mas ainda sobre o mesmo nome, li uma entrevista de Paul McCartney na Rolling Stone deste mês. Tem um caso hilário. O repórter diz para ele que alguns de seus amigos de Londres juram que já o viram andando de metrô, e pergunta se é verdade, mesmo. E o Paul diz que sim, que ele gosta de se sentir ligado à realidade do mundo, essas coisas. E que, de vez em quando, pega um ônibus ou o metrô. Diz ele:

"O mais legal é que ninguém acha que sou eu! (...) Se alguém olha para mim, dá para ver a pessoa pensando: 'Não, não pode ser ele... Não aqui, no metrô.' E, sabe, já fiz o mesmo em Paris. E estava lotado! Sabe como os trens ficam bem cheios? E eu estava lá, segurando na alça, como todo mundo. Vi uma duas pessoas que olharam e devem ter pensado: 'Nossa, você se parece muito com ele, cara.' Mas ninguém diz nada!"

Ri muito.

Mas voltando ao duelo Paul x John, o que acho sempre uma sacanagem é ninguém falar do Ringo... Você leu a entrevista do baterista do Paul no Estado de São Paulo, falando que quem critica o estilo do Ringo tocar é ignorante?

Abraço, bom show,

Sir Rafael

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Hall,

Eu também fico com Beatles no duelo imaginário. Sim, eles foram além e contribuíram muito, em tão pouco tempo. Mas ando numa fase muito mais Stones. Mick Jagger tem sido mais amigo ultimamente. Aliás, amanhã começo uma maratona Paul para o show do fim de semana. Vejo, inclusive, que ele está tocando duas que gosto muito, do Band on the Run, são elas: 1985 e Mrs. Vandebuilt. Por outro lado, não tenho visto Maybe I'm Amazed.

E dentro dos Beatles? Continuando a coisa do duelo. Eu fico com Paul, mas já tive minha fase John, e gosto muito do charme musical de George.

Não sei, acho que não aposto muitas fichas no show de Amy. Quem sabe com a proximidade eu me anime, mas há quanto tempo essa mulher não faz um show? Teremos algo Tim Maia, como você disse. Janelle pode ser um pouco superestimada, sim, mas é ótima e tem um grande album de estreia. Principalmente a primeira metade dele. Dê uma chance. Já viu a apresentação dela no Letterman? Procure por Tightrope lá. A menina tem presença, revisita James Brown na dança, canta bastante e é acompanhada por uma super banda. Vale, meu amigo.

Falando nelas, ontem saiu nova música da Adele que, como muitas, apareceu pela porta que Amy abriu e fez uma superestreia com 19. Agora, no início do ano que vem, sairá 21, seu próximo álbum. Procure, se ainda não tiver nada. Ela pega uma coisa das divas do jazz, joga nesse caldeirão soul black e ainda coloca algo de Carole King no meio. Rolling in the Deep, a nova, é demais. Acrescente algo aí também de Annie Lennox, quem sabe. Ou vá atrás de Cold Shoulder, do primeiro. Há, também, uma bela Make You Feel My Love, de Dylan, que ela gravou. Além disso, tem charme, o que é indispensável à uma cantora.

Sábado estive no Jardim Botânico para assistir Gilson Peranzzetta e Mauro Senise, com participação de Leonardo Amuedo, guitarrista uruguaio de que gosto muito e fez parte da banda de Ivan Lins nos últimos anos. Uma das músicas do repertório foi justamente uma bela composição de Ivan. Não me recordo o nome, mas foi o suficiente para me lembrar que você falou rapidamente uma vez sobre a etiqueta de chato carregada por ele. Sempre pensei nisso.

Abre parênteses: muito bacana esse evento de música no Jardim Botânico. Aquela vista e aquele clima do lugar com música de qualidade. Sábado próximo será a vez de Hamilton de Holanda, que promete, mas já estarei em SP, a espera de Macca. Gosto muito de Hamilton, vi um show na Modern Sound, no lançamento de seu disco Brasilianos 2, e saí boquiaberto, em estado de choque. Estava na primeira mesa e a perfomance dele é incrível. Parece um guitar hero. Vi que saiu uma sinfonia dele para Brasília. Estou curiosíssimo.

Mas voltando a Ivan Lins, a questão é: há alguma coisa que explique esse abismo entre ser chato aqui dentro e adorado pelos jazzistas lá fora?

Oates

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Bird,

Como diria Calvin (sim, aquele dos quadrinhos): os dias estão simplesmente lotados!

Dizer quem é o melhor entre Beatles e Rolling Stones pode ser uma bobagem. Mas, se fosse para escolher -- como no dilema que propus há algumas semanas, Chico x Caetano, quem você eliminaria da História? --, não hesito em ficar com os Beatles, mil vezes Beatles. Tendo a crer que, se os Stones, tal qual foram, não tivessem existido, teria aparecido uma outra banda equivalente, semelhante, em algum momento. Enquanto os Beatles foram únicos. Em tempo: falando neles, hoje saberei se vai rolar Paul McCartney. Brrrrrrrr. Te dou notícias.

Como você sabe, recebi a discografia inteira do John Lennon solo, que está sendo editada aqui no Brasil pela EMI. Beatles eu conheço bem, mas do Lennon pós-Fab Four são os hits que me são mais familiares, tipo Woman, Imagine, Jealous Guy, Power to the People. O primeiro que tirei do plastiquinho foi Rock 'n' Roll, disco bem... roqueiro, claro, no melhor dos sentidos. Abre com Be-Bop-a-Lula, pra você ter uma ideia. E tem Stand by Me, que virou quase um clichê na discografia de Lennon, mas me fala muito ainda hoje. Nos próximos dias, vou seguindo por outros. 

Do rock para o jazz, dia 29 tem Preservation Hall Jazz Band. Vi uma versão da banda (provavelmente nem todos os músicos que tocam lá são os que saem em turnê) em Nova Orleans. O Preservation Hall é uma casinha com aspecto de velha, a meio quarteirão da Bourbon Street. É jazz tradicional na veia, com direito a um sujeito na tuba -- se você vir uma tuba numa orquestra de jazz, pode saber que é coisa das antigas. Nada de mesinhas, com nego comendo belisquetes e tomando seu uisquinho. Vendem, no máximo, uns refrigerantes e umas águas, que ficam em uns coolers do lado de fora. Informalíssimo. Nada de músicos microfonados, tampouco. As pessoas se sentam em cadeiras e bancos, em um formato de teatro, só que mais bagunçado. Muita gente no chão também. 

É um oásis de jazz de Nova Orleans, coisa mais roots, em uma região onde o gênero perdeu espaço nos últimos anos. A Bourbon é uma diversão, mas é preciso ânimo para garimpar jazz em meio a tanto rock, boates de striptease e jovens bêbados. Quando entrevistei Irvin Mayfield, mais do que um jovem trompetista, o embaixador cultural de Nova Orleans, perguntei a ele sobre isso. Ele me disse que o seu clube, o Irvin Mayfield's Jazz Playhouse, encravado no hotel mais chique da Bourbon Street, tinha exatamente a pretensão de revitalizar o jazz mais tradicional na rua. Não à toa, quem eu vi lá foi Bob French, grande baterista da velha guarda. Mas há também jovens nomes fazendo jazz tradicional por lá.

Amy Winehouse vem aí. Janelle Monáe e Mayer Hawthorne, não. Quer dizer, Janelle deve vir numa participação especial no show da Amy, como você já sabe. E Hawthorne, segundo você me informou, talvez venha para tocar no Circo. Seja como for, é estranho ver, mais uma vez, o Rio de fora. Não sei como vai ser o show da Amy -- ou se vai haver um, considerando que ela pode dar uma de Tim Maia, vai saber... Mas aposto minhas fichas. Janelle é que eu acho superestimada, a mais nova sensação da última semana. Acho que há uma foraçação de barra para dizer que ela está estouradaça, quando, na verdade, não está. Hawthorne já me interessa mais.

Metallica é a primeira banda a confirmar presença no Rock in Rio. Zzzzzzzzzz...

Bração,

Diz

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Marujo Teixeira,

Sim, não sei o motivo da demora para bater à porta dos Stones. Na verdade, ok, acho que nunca entendi muito bem Keith Richards e Mick Jagger. Bobeira. Bobeira minha. Coisa de... maturidade, talvez; mesmo que os Stones tenham uma urgência jovial na música e na perfomance. E, mais, nunca entendi a coisa black que associavam ao som. Eu estava completamente errado. Depois do Exile, sim, tudo mudou. Há uma diferença entre ouvir música e ouvir, de fato, a música. Foi assim quando entrou Tumbling Dice. Claro que já havia escutado, mas lembro da cena que bateu: eu coloquei o cd e fui fazer aquelas coisas que normalmente fazemos antes de sair de casa. Na hora de Tumbling Dice, eu estava escovando os dentes e aquele coro negro (got to roll me...) me fez desligar a torneira e ir até o quarto, devagar, com a boca cheia de pasta e a escova na mão, em estado de choque.

Tudo mudou. Escutei, sem exagero, a mesma música o dia inteiro durante uma semana.

Hoje consigo até entender quando colocam na roda Stones vs. Beatles, o que era inaceitável pra mim. Claro, não existe melhor, isso é infantil, mas gosto dessas discussões. Mick Jagger e sua turma chegam em um lugar que os fab four não passam muito perto. E o molho de música soul e black é fundamental para isso.

Gosto da resposta que o Dapieve deu lá no blog. Foi uma ótima saída.

Eu: Beatles e Stones. O que um tem que o outro não?

Ele: Os Beatles tinham o dom da criatividade infinita (enquanto durou). Os Stones têm o dom da vida eterna. Se fôssemos escolher entre os dons, qual escolheríamos?

Você falou de dança e meu conhecimento é perto do zero. Dois anos atrás, não lembro exatamente, fui ver o Parsons Dance no Municipal e saí de lá amarradão. No grupo que fui, todos falavam sobre o tal número do voo, que é de uma sacada impressionante, você sabe? Tudo se apaga e ele salta pelo palco, acionando um flash de luz na hora do pulo. Ou seja, temos a sensação realmente do voo. É um número tradicional dele, mas eu desconhecia e viajei naquilo. Teve algo de jazz em um dos números e um outro com uma ótima da Dave Matthews Band. Concordo com você, dança sem música pode faltar... música.

Não vi Corinne, mas quase fui, tinha ingresso. Aquela chuva que caiu me tirou do programa de atravessar a cidade, uma pena. Acho o som dela interessante, e ao vivo deve crescer, ficar melhor, mais vivo. Vem Norah Jones aí, né. Meu pai ligou hoje cedo para irmos. Ouvi algo do último, onde ela tentou outro caminho, e gostei. E gostei também, na época, do segundo ou terceiro - não vou ao Google agora -, era um de capa amarela.

Andei para trás no nosso estudo do soul. Otis Redding não para de tocar. E Sam Cooke vem atrás, colado. E aí?

Abração,

Ferdinando da Costa, capitão-de-fragata.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Fernandinho,

Faço minhas suas palavras sobre os discos físicos, sem ressalvas. Sigamos adiante.

Meu gosto por Rolling Stones vem do meu irmão, fã desde sempre. Escutava por tabela em casa, na época dos vinis. Mas, ainda criança, não dava muita bola. Conforme crescia, fui pegando gosto. Foi com meu irmão que fui vê-los, Jagger, Richards e companhia, no Maracanã, no show da turnê Voodoo Lounge, um dos últimos bons discos (pero no mucho) da banda. Tinha uns 14 anos, não me lembro de detalhes do show, mas me lembro do impacto, do lance megaconcerto, dos telões gigantescos, da pirotecnia e tal. Sei que a sua descoberta dos Stones é recente, via Exile on Main St., procede? Curioso, porque todo adolescente roqueiro -- como, de certa forma, foi o seu caso -- se amarra na banda desde moleque. Me espanta você só ter sido fisgado depois de gente grande.

Posso mudar o rumo da prosa? Vi um espetáculo de dança contemporânea na última sexta-feira, dentro do Festival Panorama (ex-Panorama de Dança). Quatro números numa retrospectiva da carreira de uma coreógrafa americana, Trisha Brown. Por tudo que li, parece que é das bambas, mas eu nunca tinha ouvido falar -- o que não chega a ser um problema, considerando que meu conhecimento de dança contemporânea é limitadíssimo. Talvez justamente por conta dos meus parcos conhecimentos é que não tenham ecoado tão bem os dois primeiros números. O que abria o espetáculo era de dança sem som. Digo, sem música alguma, nem sequer um barulhinho. Achei lindo, mas não fluiu. Faltou... música.

No segundo número, havia uma música -- e, muito curiosamente, da Orquestra Voadora, legitimamente brasileira. Mas inserida de forma muito diferente. A orquestra ia tocando do lado de fora e nas coxias do teatro, de modo que o som ficava abafado (era preciso se esforçar para ouvir) e ia "andando" da direita para a esquerda, passando por trás da plateia. Louco. E com uma coreografia linda, indiscutivelmente. Mas tampouco fluiu (no intervalo, aliás, a banda tocou no foyer do teatro, e me impressionou demais ao vivo). Nos dois últimos números -- o terceiro com uma música minimalista, praticamente um som e não música, e o quarto com trechos de uma ópera --, a coisa melhorou tremendamente. Mas, repito, acho que isso era um problema meu. Ou será que dança sem música é mesmo mudernidade demais?

No que diz respeito a grupos de dança, gosto da relação que o grupo Corpo desenvolve com suas trilhas, dando total liberdade aos compositores escolhidos, sem briefing, sem direcionamentos, sem nada. Há ótimos resultados, como o do último espetáculo da companhia, Íma, com música de Moreno Veloso, Domenico Lancellotti e Kassin. É de escutar em casa, sem qualquer auxílio da coreografia. Funciona independentemente, o que acho sensacional, considerando que é música produzida não com base em uma coreografia, porque a coreografia só é desenvolvida depois, mas pensada tendo em vista um espetáculo de dança. Não sei se me faço entender.

Não vi Corinne Bailey Rae, que acho ótima (e você?) e Antônio Carlos Miguel incensou tremendamente em sua crítica publicada hoje no Segundo Caderno. Deve ter sido mesmo bom. Falando em incenso, Barbara Heliodora conseguiu a proeza de me animar ainda mais para ver Hair, de Charles Möeller e Claudio Botelho. Assim como aguardo ansiosamente pelo próximo (já anunciado) disco do R.E.M., que deverá ser a próxima banda de rock a te fisgar depois de velho, assim como foi com os Stones. Você viu o vídeo dos caras, de Living Well Is the Best Revenge, no La Blogotheque, não? Achei aquela ideia ótima, os caras fazendo "shows portáteis", tocando num carro, numa loja, num restaurante.

Vejo que escrevi demais e ainda não contei como cheguei ao jazz. Um dia conto.

Em tempo: Amy Winehouse vem aí, lá lá, lálálálá...

Abrá,

Rafinha

sábado, 6 de novembro de 2010

Keef,

Sim, não há como não adorar Paul Desmond. E eu não sabia dessa história com Jim Hall. Excelente. As gravações dos dois juntos são o supra-sumo do bom gosto. Mas ainda não fui além desses trabalhos e, claro, do que foi feito também com Brubeck.

Ainda compro cds, meu amigo, ainda. E não só isso, mas também dvds e, em menor escala, vinis, depois que herdei o toca-discos do meu pai. Sem saudosismo barato, mas nada como comprar aquele cd e voltar para casa, tirar o plástico, ver o encarte... Também sou da tribo dos downloads e acho que isso veio para o bem, nos coloca em contato com qualquer coisa, a qualquer hora, se não perdemos a mão, pois é fácil baixar tudo e ouvir nada.

Na realidade, o que sinto, muitas vezes, é que o cd não sobreviverá comigo se eu não comprar. Isso acontece normalmente por aqui e não acho difícil acontecer com... Lucy Woodward ou Aloe Blacc, por exemplo. Por mais que goste muito, o artista meio que se perde ali nas pastinhas amarelas do Windows. E precisar do computador para ouvir música me desanima.

Mas para isso temos os ipods da vida, certo? Claro, tenho meu tocador de mp3, que uso na rua e nos exercícios, mas ele tem a trilha da rua, normalmente mais rock, mais coisa pesada e esses nossos novos do soul. Não tenho ali um Mingus, um Coltrane, até pelos trajetos pequenos que são os do meu dia-a-dia.

Fato é que preciso ter a música, acima de tudo. E isso implica em comprar o disquinho, não tem jeito. E aquele velho clichê da capa, de quem gravou, de quem produziu, onde foi, em que ano etc. Sim, a wikipedia e o allmusic estão aí para isso, mas você me entende. Acho que não tenho idade para ser tão resistente a isso, mas o mp3 me parece um pouco descartável.

Sim, lembro o último que comprei. Ontem, arrematei o primeiro do Tom Waits, via Amazon, que aliás é o caminho, sai mais barato que comprar aqui (!). Antes desse, umas semanas atrás foi a vez de Black and Blue, discaço dos Rolling Stones com muita coisa de black music. Gosta deles?

Um abraço do Mick

ps.: baixando o Mingus recomendado.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Caro,

O jazz é interminável, e isso é ao mesmo tempo maravilhoso e angustiante. Há, de fato, a delícia de saber que existe sempre algo novo a ser descoberto. Mas há a sensação de que morrerei sem ter ouvido nem um milésimo de tudo que há de bom para ouvir. Paul Desmond, por exemplo, não conheço o suficiente para comentar muito além de sua associação com Dave Brubeck. Também tenho um ótimo disco dele com Gerry Mulligan, sax barítono, chamado Two of a Mind. Mas, do pouco que conheço de sua parceria com Jim Hall, gosto, evidentemente. A verdade é que, convenhamos, não há como não adorar de Desmond, com seu estilo suave, limpo, altamente melódico, mas sempre articulado, com algo a dizer.

Hall, você deve saber, foi o principal responsável por tirar Desmond de uma aposentadoria precoce -- após a dissolução do quarteto de Brubeck, quando o saxofonista tinha pouco mais de 40 anos --, convidando-o para tocar em um clube de Nova York. Brincando, Desmond dizia que só aceitou o trabalho porque morava perto e podia sair da cama e ir direto trabalhar. E ele bem podia se dar ao luxo de desdenhar, mesmo: os direitos autorais por Take Five lhe deram uma vida confortável até o fim de seus dias.

Não tenho comprado CDs, mas, como repórter que trabalhou muito tempo com música (e, de certa forma, continua na área), acabo recebendo uma coisa ou outra. Enquanto escrevo, daqui da redação, chegaram Amor Festa Devoção, o ao vivo de Maria Bethânia, baseado nos discos Tua e Encanteria, e Capoeira de Besouro, de Paulo César Pinheiro. Ambos me interessam, o que é raro, considerando a qualidade do que chega. 

O último que comprei foi um de Sonny Rollins ao vivo no Village Vanguard, com dois takes de A Night in Tunisia -- mostrando que duas sessões de um show de jazz, mesmo com repertórios idênticos, jamais serão iguais. Ainda mais quando o homem em questão é Sonny Rollins (um dos meus pé-na-cova, que vi tocar num TIM Festival recente). E você, lembra qual foi o último que comprou?

Em tempo: esqueça tudo que te indiquei até hoje e procure Ah Hum, de Mingus. Não precisa comprar na loja, como faziam nossos avós -- você saberá dar outro jeito.

Juízo,

R.M.T.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Hart,

O jazz é um terreno para ser explorado infinitamente, não é? Gosto de pensar que sou um turista, ainda meio perdido, sem saber para que lado ir, mas já com algumas referências. Você falou de Time Out e acho que seria o de número 16 na minha lista. Lembro quando meu pai colocou o cd pra tocar e Blue Rondo a la Turk me deixou tonto com aquele tempo. Na época, eu estava de cabeça no rock progressivo justamente pelos tempos e o virtuosismo, e meu pai queria me mostrar aquilo em outro mundo. Pirei justamente na coisa estudada, que você falou. Depois viraria fã também de Paul Desmond, principalmente pelos seus trabalhos ao lado de Jim Hall, gosta?

A minha iniciação no jazz veio através justamente de meu pai, que sempre escutou. Com ele me acostumei ao estilo e entrei de cabeça nessa coisa de comprar cds. Ele sempre comprou muito, desde os vinis. Hoje, não mais, prefere mesmo os arquivos de mp3. Sua coleção de LPs está aqui atrás de mim, numa estante, e é 100% jazzística. Ele nunca foi muito de música brasileira. Nem minha mãe. Aqui em casa a música sempre foi mais internacional que nacional. Dos poucos nacionais, lembro de um que marcou: As Canções Que Você Fez Pra Mim, da Bethânia cantando Roberto. Escuto sempre.

Mas voltando ao jazz, sinto que comecei mesmo a caminhar com as próprias pernas depois de Kind of Blue. Foi o álbum que me tirou de um mundo e levou a outro. Miles virou um desses do altar. E abriu as portas. Conheci pouco depois a música de Mingus, e ainda não tenho o que citou, embora saiba que é um de seus grandes discos, mas chego lá. Música requer paciência também, concorda? Ainda mais nesse mundo que, em questão de minutos, podemos downloadear a discografia de fulano. A oferta é muito grande e a melhor coisa, nesse caso, é saber que tem muita, mas muita coisa ainda pela frente. Penso assim.

Ao som de Bewitched, Bothered and Bewildered, com Paul Desmond e Jim Hall, farei uma pergunta inevitável: ainda compra cds?

E conte como começou no jás.

abraço,

Rodgers.