segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Fernandinho,

Faço minhas suas palavras sobre os discos físicos, sem ressalvas. Sigamos adiante.

Meu gosto por Rolling Stones vem do meu irmão, fã desde sempre. Escutava por tabela em casa, na época dos vinis. Mas, ainda criança, não dava muita bola. Conforme crescia, fui pegando gosto. Foi com meu irmão que fui vê-los, Jagger, Richards e companhia, no Maracanã, no show da turnê Voodoo Lounge, um dos últimos bons discos (pero no mucho) da banda. Tinha uns 14 anos, não me lembro de detalhes do show, mas me lembro do impacto, do lance megaconcerto, dos telões gigantescos, da pirotecnia e tal. Sei que a sua descoberta dos Stones é recente, via Exile on Main St., procede? Curioso, porque todo adolescente roqueiro -- como, de certa forma, foi o seu caso -- se amarra na banda desde moleque. Me espanta você só ter sido fisgado depois de gente grande.

Posso mudar o rumo da prosa? Vi um espetáculo de dança contemporânea na última sexta-feira, dentro do Festival Panorama (ex-Panorama de Dança). Quatro números numa retrospectiva da carreira de uma coreógrafa americana, Trisha Brown. Por tudo que li, parece que é das bambas, mas eu nunca tinha ouvido falar -- o que não chega a ser um problema, considerando que meu conhecimento de dança contemporânea é limitadíssimo. Talvez justamente por conta dos meus parcos conhecimentos é que não tenham ecoado tão bem os dois primeiros números. O que abria o espetáculo era de dança sem som. Digo, sem música alguma, nem sequer um barulhinho. Achei lindo, mas não fluiu. Faltou... música.

No segundo número, havia uma música -- e, muito curiosamente, da Orquestra Voadora, legitimamente brasileira. Mas inserida de forma muito diferente. A orquestra ia tocando do lado de fora e nas coxias do teatro, de modo que o som ficava abafado (era preciso se esforçar para ouvir) e ia "andando" da direita para a esquerda, passando por trás da plateia. Louco. E com uma coreografia linda, indiscutivelmente. Mas tampouco fluiu (no intervalo, aliás, a banda tocou no foyer do teatro, e me impressionou demais ao vivo). Nos dois últimos números -- o terceiro com uma música minimalista, praticamente um som e não música, e o quarto com trechos de uma ópera --, a coisa melhorou tremendamente. Mas, repito, acho que isso era um problema meu. Ou será que dança sem música é mesmo mudernidade demais?

No que diz respeito a grupos de dança, gosto da relação que o grupo Corpo desenvolve com suas trilhas, dando total liberdade aos compositores escolhidos, sem briefing, sem direcionamentos, sem nada. Há ótimos resultados, como o do último espetáculo da companhia, Íma, com música de Moreno Veloso, Domenico Lancellotti e Kassin. É de escutar em casa, sem qualquer auxílio da coreografia. Funciona independentemente, o que acho sensacional, considerando que é música produzida não com base em uma coreografia, porque a coreografia só é desenvolvida depois, mas pensada tendo em vista um espetáculo de dança. Não sei se me faço entender.

Não vi Corinne Bailey Rae, que acho ótima (e você?) e Antônio Carlos Miguel incensou tremendamente em sua crítica publicada hoje no Segundo Caderno. Deve ter sido mesmo bom. Falando em incenso, Barbara Heliodora conseguiu a proeza de me animar ainda mais para ver Hair, de Charles Möeller e Claudio Botelho. Assim como aguardo ansiosamente pelo próximo (já anunciado) disco do R.E.M., que deverá ser a próxima banda de rock a te fisgar depois de velho, assim como foi com os Stones. Você viu o vídeo dos caras, de Living Well Is the Best Revenge, no La Blogotheque, não? Achei aquela ideia ótima, os caras fazendo "shows portáteis", tocando num carro, numa loja, num restaurante.

Vejo que escrevi demais e ainda não contei como cheguei ao jazz. Um dia conto.

Em tempo: Amy Winehouse vem aí, lá lá, lálálálá...

Abrá,

Rafinha

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