sábado, 20 de novembro de 2010

Meu nobre,

Desculpe a demora. A semana foi dos infernos.

Primeiro, às cantoras. Li sobre Adele no seu blog, mas não corri atrás. Sobre Janelle, não é que eu não ache bom. Eu só acho que não é isso tudo que falam. O que me faz arriscar a incerteza de um show de Amy Winehouse é saber que ela, sim, é tudo isso que falam.

Ivan Lins, falamos sobre ele algumas correspondências atrás. É de uma ignorância sem tamanho achar que o cara é simplesmente um chato. Como te contei, a Jazz Orchestra of Concertgebouw, holandesa, tocou Começar de Novo em sua apresentação. Burt Bacharach também saudou Ivan, cantando uma de suas músicas no show que fez aqui. Estes são os que me lembro de imediato, e que vi rendendo homenagens ao cara no palco. Mas há incontáveis outros. Um dia ainda vou investigar esse fenômeno -- quem sabe até perguntar ao próprio Ivan, em uma eventual entrevista.

Mas vamos ao que interessa -- que, neste momento, é Paul McCartney. À esta altura, você está em São Paulo, à espera do homem. Consegui uma bocada e vou ao show de segunda-feira, que não é o que você vai. Altas expectativas. Vou num esquema correria total, como se ainda tivesse meus 18 anos. Saio do trabalho cedo na segunda, pego um avião, chego em São Paulo às 19h, faço um check-in a jato no hotel (escolhido a dedo, colado no aeroporto, a cinco minutos andando), corro pro Morumbi, vejo três horas de Paul McCartney, volto pro hotel, durmo algumas horas e volto pro Rio na terça de manhã. Você tem alguma dúvida de que vale o esforço?

Fiquei imerso esta semana no som do cara. Respondendo à sua pergunta, se fico com Paul ou John... Francamente, às vezes acho que um não teria se constituído no artista que foi sem a existência e a parceria (ou rivalidade) do outro. É diferente de, sei lá, Mick Jagger e Keith Richards -- Mick teria encontrado seu Keith, mesmo que não fosse exatamente este Keith Richards, entende? No caso de Paul e John, não que tenha sido intencional, mas a persona artística de um, creio, teve grande peso na definição da do outro, naturalmente. O Paul de Ob-La-Di Ob-La-Da moldou o John de Strawberry Fields Forever (claro que Paul não compôs só Ob-La-Di Ob-La-Da... Yesterday, normalmente creditada a "Lennon/McCartney", todos sabem que é compsição do Macca!), e vice-versa. Os dois são lados opostos da mesma moeda. Mas, para não fugir da raia, ainda acho que Paul era melhor instrumentista, tinha mais musicalidade, foi mais versátil, e foi a alavanca do grupo em seus últimos (e melhores) discos. É com ele que fico.

Mudando um pouco de assunto, mas ainda sobre o mesmo nome, li uma entrevista de Paul McCartney na Rolling Stone deste mês. Tem um caso hilário. O repórter diz para ele que alguns de seus amigos de Londres juram que já o viram andando de metrô, e pergunta se é verdade, mesmo. E o Paul diz que sim, que ele gosta de se sentir ligado à realidade do mundo, essas coisas. E que, de vez em quando, pega um ônibus ou o metrô. Diz ele:

"O mais legal é que ninguém acha que sou eu! (...) Se alguém olha para mim, dá para ver a pessoa pensando: 'Não, não pode ser ele... Não aqui, no metrô.' E, sabe, já fiz o mesmo em Paris. E estava lotado! Sabe como os trens ficam bem cheios? E eu estava lá, segurando na alça, como todo mundo. Vi uma duas pessoas que olharam e devem ter pensado: 'Nossa, você se parece muito com ele, cara.' Mas ninguém diz nada!"

Ri muito.

Mas voltando ao duelo Paul x John, o que acho sempre uma sacanagem é ninguém falar do Ringo... Você leu a entrevista do baterista do Paul no Estado de São Paulo, falando que quem critica o estilo do Ringo tocar é ignorante?

Abraço, bom show,

Sir Rafael

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