sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Véio,

Já é 2011 no Japão, e aqui as aquisições do último dia do ano foram o último do Chico Pinheiro e a caixa da Dolores Duran (fui trocar presentes na Livraria da Travessa, juntei alguns trecos que ganhei e deu pra levar esse pacote. Adoro trocar presentes que não usaria por coisas que estava de olho há tempos). Chico Pinheiro já rodou, e é lindo, lindo. Mas é a tal história: enquanto lá nos EUA o cara é incensado, aqui é "Chico quem?".

No momento, enquanto a espôusa se arruma para o réveillon, toca Fé na Festa, o último de Gilberto Gil -- que, inexplicavelmente, ficou no plástico desde que recebi. Acho que criei birra com Gil por conta dos últimos discos, que achei meio repetitivos, mais do mesmo, de modo que este último acabou encostado. Só abri agora, depois de vê-lo na lista dos destaques de 2010 no blog do Mauro Ferreira, e coloquei para tocar. E é ó-te-mo.

Termino por aqui, vou me juntar aos japoneses em 2011. Espero que o seu novo ano seja, huuumm... musical.

Tim-tim,

Eu

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Fala, Rafael.

Vamos direto aos 15?

Senhoras e senhores: The Rolling Stones. Descobri a banda e entrei de cabeça. Comprei alguns cds, alguns dvds e comecei a ler muito sobre Mick Jagger e cia. Com Tumbling Dice, do Exile on Main St., comecei a perceber tudo que nunca tinha visto no grupo. Foi forte.

O soul da nova turma. Puxado pelo Mayer Hawthorne, fui atrás de Raphael Saadiq, Aloe Blacc, Sharon Jones, Cee-lo, Janelle Monáe, Fitz and the Tantrums. Sem contar a surpresa que foi Ben L'Oncle Soul.

O soul dos velhos. Sam Cooke e, principalmente, Otis Redding. Este segundo me fisgou e é um dos grandes nomes do meu ano.

Macca no Morumbi. Foi uma experiência de vida.

Metallica no Morumbi. Banda que você já deu cotação zzzz correspondências atrás. Mas quando eu tinha 16 anos, eu não queria saber de outra coisa. Foi inacreditável assisti-los. Estarei no Rock in Rio também.

A voz de Tom Waits e sua capacidade para compor músicas belas e outras esquisitas, bizarras.

O filme do Rush. Um longa contando a história da banda canadense de forma primorosa. Aqui entra também o show do trio na Apoteose. Foi demais.

Scratch my Back. Peter Gabriel é um dos meus gurus. Depois de quase 10 anos, ele volta com um belo trabalho, não de inéditas, mas de covers e orquestrados. Só orquestra. Sem bateria, sem baixo, sem nada. E a ideia é: quem foi coverizado, coverizar uma do Peter. Mas essa segunda parte ainda não está à vista.

Queremos shows. O tal grupo dos Cariocas Empolgados mostrou que é possível fazer acontecer. Assim como você, apenas o Mayer Hawthorne me interessou, mas a iniciativa é nobre.

Jazz All Nights. O show de Irvin Mayfield me marcou muito. Preservation Hall também foi especial. E assistir show no Municipal é sempre um acontecimento.

A queda do império do Seu Pedro. O fim da Modern Sound que, até no desconto, não facilita. Fui lá ontem e 30% nas compras acima de 100 reais é um tipo de desconto que deveria ser feito normalmente naquela loja. Mas, mesmo assim, está sendo saqueada. De jazz já foi quase tudo.

O novo do Bituca. Ouvi uma vez o novo de Milton Nascimento. Gostei de algo. É sempre bom ver Milton Nascimento em ação. Milton é dos grandes. Aqui, no meu som, ele é sempre presente. Ponto também para o trabalho gráfico da caixinha. É bonitão.

Efêmera. Estava sentado aguardando a hora passar para o show do Paul quando entrou aquela voz nas caixas. Anotei uma frase no celular, para não perder, e depois descobri ser Tulipa. Está no meu top 10 de músicas do ano, mas ainda não avancei no cd. Não lembro de nenhuma outra música que tocou naquela sequência enorme, à tarde inteira, só essa.

La Blogotheque. O tal site, que você me passou, com aqueles videos do Vincent Moon, me apresentou uma outra forma de ver video e música juntos.

Surpresas de última hora. Marcelo Jeneci e seu bonito Feito pra Acabar. Também Pantera e Lenny Kravitz. O primeiro, inexplicavelmente, voltou a tocar aqui como nunca. É uma porradaria sem fim e é ótimo naquele universo. E o segundo, Lenny, comprei dois cds na Modern, de recordação, para levar algo dali. Resolvi apostar, nunca tinha ido além dos singles, e bateu. Bateu muito bem. É uma mistura que me conquista pelo rótulo - rock anos 70, muita black music e um apelo pop.

Boa virada por aí, meu amigo.

Grande abraço,

Fernando

sábado, 25 de dezembro de 2010

Rapaz,

Jeneci vai ficar para o ano que vem. Tem uma fila de discos no plástico me aguardando. Mas gostei do que li a respeito no Som Imaginário. Espero que o efeito da alta expectativa não seja prejudicial à audição do disco...

Dito isso, vamos ao top 15 do ano, sem ordem de preferência, sem ordem cronológica, e misturando às vezes mais de um nome no mesmo tópico:

* Nova Orleans. Esta é bem pessoal, eu sei, mas não há como não mencionar. Foi neste ano que eu conheci a capital do jazz. E o Preservation Hall. E a Louisiana Music Factory. E o Vaughan's. E... e... e... a lista poderia continuar por muitas linhas. Pretendo voltar muitas vezes. E recomendo a quem quer que seja.

* A nova soul music. Com Cee-lo Green à frente, 2010 foi o ano em que Ben L'Oncle Soul, Mayer Hawthorne, Aloe Blacc, Fitz and the Tantrums e tutti quanti vieram bater na minha praia sonora. E bateram bem, todos eles. Janelle Monáe, como já disse algumas correspondências atrás, me soou meio superestimada, mas darei outra chance. Quem sabe ela não me fisga ao vivo, no show da Amy Winehouse, no ano que vem.

* Cantoras. Elas continuam se multiplicando feito coelhos, não? O ano, decerto, foi de Maria Gadú, com sua incessante Shimbalaiê, com seu disco ao vivo (mas ela não tem só UM disco de estúdio?), com sua turnê com Caetano... Mas, se é para escolher uma cantora nacional, fico com Tulipa e seu ótimo Efêmera. Outra cantora que me falou muito foi Roberta Sá com seu disco Quando o Canto É Reza, em homenagem a Roque Ferreira, acompanhada pelo Trio Madeira Brasil. Um disco elogiadíssimo, mas, infelizmente, pouco badalado -- creio que apenas por enquanto, já que a turnê do álbum deve começar no ano que vem. E Silvia Machete se mostrou amadurecida (sem deixar de ser divertida) em Extravaganza. Das gringas, Corinne Bailey Rae e Nellie McKay, com seu disco em homenagem a Doris Day.

* Dave Brubeck, sobre quem a gente pouco falou aqui, foi o aniversariante do ano, sem dúvida. Noventa anos ainda na ativa (comemorou no palco do Blue Note) não é para qualquer um. E li que os jovens estão redescobrindo seu eternamente atual Time Out, o que é maravilhoso. O disco andou rodando mais por aqui nos últimos meses, e ainda hoje, depois de tantas audições, me surpreendo. Ainda da série "resdescobertas do jazz": Bitches Brew, de Miles Davis, cuja edição comemorativa de 40 anos foi lançada recentemente no Brasil.

* O show-celebração do Paul McCartney. Li um texto do André Barcinski (procure no blog dele), em que ele criticava a nossa incapacidade de receber grandes shows, os preços impraticáveis, as multidões indo embora do estádio que nem manada em busca de um táxi improvável. E, pensando racionalmente, até concordo. Mas, bem, que se dane. Foi o show em que meus olhos lacrimejaram três vezes. Em tempo: li na rede que ele pode voltar em 2011.

* Turnês de reencontro ou de despedida. Sim, eu sei que tem um quê de caça-níqueis, mas valeu ter visto dois ótimos shows este ano: Simply Red dizendo tchau, com Mick Hucknall com completo domínio do palco e uma pusta banda, e Cranberries se reunindo, com Dolores O'Riordan reinando. Eu sei que é meio ridículo, mas queria ter visto o A-ha.

* Cariocas Empolgados. O esquema de cotas para trazer artistas pegou todo mundo de surpresa. A sensação que tenho é que todo mundo pensou: "Pombas, como ninguém teve essa ideia antes?" Para mim, particularmente, te tudo que os caras já conseguiram trazer para o Rio, só Mayer Hawthorne me interessa. Mas não importa: a iniciativa é estupenda, e mostra o que é possível fazer com criatividade e empenho.

* Modern Sound. Lamento profundamente o fechamento, pelo que ela representou para os amantes de música, aquela coisa do templo que você mencionou, as horas e horas perdidas garimpando algo que nem você mesmo sabe o que vai ser, as surpresas ao se deparar com pepitas importadas. Mas não posso deixar de concordar com os comentários que tenho lido nos blogs do ACM e do Jamari França: a loja, vamos combinar, tinha preços extorsivos (sim, eu sei que isso tem em parte a ver com a política das próprias gravadoras) e um atendimento que não primava exatamente pela simpatia. O fim da Modern Sound nada tem a ver com pirataria virtual, como muita gente já observou. Afinal, o frequentador da loja não é o típico downloader, não deixou de comprar seu Debussy ou seu Frank Sinatra porque encontrou de graça na internet, com qualidade pior. O que matou a loja foi a sua incapacidade de se adaptar aos novos tempos, em que um disco encomendado pela Amazon, com frete, sai mais barato do que um no balcão. Ou seja: é triste, mas era esperado.

* Jazz All Nights. Para os órfãos do Mistura Fina, foi um bálsamo. Irvin Mayfield e Preservation Hall Jazz Band foram os pontos altos de uma série que merece todos os aplausos (não vi Brad Mehldau). De lambuja, este ano ainda fui ao Bourbon Street Music Fest, em São Paulo, onde vi Trombone Shorty -- depois de vê-lo também no Rio, na curta edição carioca do evento que eles fizeram. Quem sabe em 2011 eles não vêm com tudo. A expectativa é a mesma para o Bridgestone Music Festival... O problema, como sempre, é: onde essa gente vai tocar?

* Charles Möeller e Claudio Botelho. Eu não me canso de falar sobre esses caras, que deram excelência ao teatro musical no Brasil. Gypsy e Hair, no mesmo ano, não é para qualquer um. Ah: a direção de É com Esse que Eu Vou é deles, apesar de não ser exatamente um musical da dupla. E Botelho, sabe-se lá como, ainda teve tempo de fazer as versões para Mamma Mia!, que estreou este ano em São Paulo.

* Caixas. O mercado de boxes de luxo, que já estava bom, aqueceu ainda mais de um ano para cá. Não vai salvar a lavoura da indústria, mas não é disso que se trata. Gal Costa, Legião Urbana, Beth Carvalho, Tim Maia e outros tantos ganharam as suas. Merecidamente. O "síndico", aliás, anda tocando por aqui. Foi o meu reencontro com músicas que eu conhecia espalhadas, mas não no conjunto de seus discos originais.

* I can see (hear?) dead people. Michael Jackson se tornou o morto mais rentável na lista da Forbes, e a caixa reunindo todos os seus clipes é um achado. O relançamento da discografia solo de John Lennon também veio bem a calhar, em homenagem aos seus 70 anos. Mas o fantasma que deveria ter sido mais incensado foi o de Ray Charles, que teve um disco ao vivo no Olympia, em Paris, lançado no início do ano, e um de pepitas inéditas no fim do ano. Este último, aliás, estupendo.

* Beijo Bandido, de Ney Matogrosso, láááá no início do ano, em janeiro, foi o grande show nacional de 2010. Com uma proposta inteiramente diferente, mais crua, o show de Zii e Zie, de Caetano Veloso, também me conquistou.

* Vida inteligente na música infantil. Partimpim 2, de Adriana Calcan... ops, Partimpim, e Música de Brinquedo, do Pato Fu, mostraram que é possível fazer música para crianças com qualidade. E, de quebra, geraram shows maravilhosos, especialmente o do Pato Fu, com bonecos do grupo Giramundo fazendo as vozes que, no disco, eram das crianças.

* Biscoitos finos do jazz. Não me lembro agora (e estou com preguiça de pesquisar) se o primeiríssimo disco da série Biscoito Internacional, da Biscoito Fino, foi lançado no fim de 2009 ou em 2010. O que sei, com certeza, é que o selo com foco em jazz deslanchou este ano, com Dizzy Gillespie, Duke Ellington, dois de Oscar Peterson, Ella Fitzgerald, Count Basie... Nos últimos meses do ano, tive a impressão de que deram uma diminuída nos lançamentos. Espero que seja só algo de momento, e que 2011 seja mais prolífico.

E os seus 15?

Em tempo: já caiu nas suas mãos o novo do Kanye West?

Ho, ho, ho,

R.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Cato,

Faz total sentido a história de Cee Lo e Ben L'Oncle Soul. Concordo que Ben olhe mais para trás do que Cee Lo. Na verdade, acho que são duas maneiras de olhar para o passado, e você resumiu aí muito bem. The Lady Killer soa mais modernoso, né? Enquanto, Ben, apesar de atual, remete mais aos gigantes do passado. E o Mayer Hawthorne? Acho que fica no meio do caminho, mesmo que a sonoridade seja vintage. Não perco o show dele, mas o de Amy talvez eu passe. Mesmo com a abertura de luxo de Janelle. A Arena é muito distante para um show num dia de semana.

Você pergunta das caixas. Não sei sinceramente de onde vem a onda diante da crise instalada, ou melhor, chega da palavra crise, mas diante da nova realidade, digamos. Gosto da coisa das caixas, pelo colecionismo. Curiosamente não tenho quase nenhum item desse, o que lamento. Lembra aquela do Milton? Belíssima. Tenho uma de mini-LPs do Zeppelin que é incrível - e não sai lá de casa!

No momento roda Feito pra Acabar. Assim como fiz com o Arcade Fire, deixei minha implicância com o hype de lado e fui atrás de Marcelo Jeneci e seu cd de estreia. Vou te dizer, meu amigo, tem algo. Escutei o cd durante o fim de semana e há uma coisa bonita no ar. Eu diria que a maioria das músicas me fisgou, mesmo. Uma outra parte não bateu tanto, principalmente umas que pisam no rock. As composições são boas e os arranjos, com muito uso de cordas, são muito bons - vi que alguns são de André Mehmari.

Confira Quarto de Dormir no YouTube. A versão de estúdio mesmo, daquelas postadas com uma imagem estática. Vale. Agora, ele é muito bom e ponto. Deixemos de lado a coisa de que o cara está salvando algo ou o uso da palavra gênio.

Vou na Modern Sound pegar um cd de recordação, já que 30% de desconto não faz nem cócegas no preço deles, que aliás, pra mim, sempre foi uma barreira. Sempre muito cara e, assim, contribuiu muito pouco para as minhas estantes de cds. Ultimamente eu vinha garimpando bons LPs lá no Bistrô Musical que, aliás, fiquei sabendo ter sido saqueado por um comprador de SP, que levou tudo (!).

Mas tenho boas memórias de lá, gostava de ir à loja pela coisa do templo, do ambiente, da história e do jazz que rolava aos sábados. Quando eu comecei a comprar meus cds, pouco mais de dez anos atrás, fiquei pirado com um quarteto de cello que tocava Metallica. Falei com meu pai que disse: "filho, vou te levar numa loja em Copacabana que tem tudo, morei com a sua mãe quando nos casamos no prédio em cima e a loja era pequenina. Hoje é enorme."

E tinha o tal cd. É a memória que fica forte pra mim. Depois comprei pouca coisa ao longo dos anos, apesar de frequentar. Sem dúvida, perdemos. É uma pena aquele espaço fechar.

Abração,

Clouseau

PS1: na próxima carta mando minha lista dos 15 momentos de 2010.

PS2: esse Michael's Vision deve ser demais, mas ando um pouco saturado de MJ, apesar de fã do cara.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Noel,

Simone pode ter aposentado sua versão de John Lennon, mas o beatle anda tocando bem aqui em casa, em sua fase solo. Recebi da EMI toda a discografia do homem e alguns ainda seguem no plástico, para serem degustados em seu tempo, sem correria. Aliás, a semana passada foi recheada de Lennon, com vários programas no GNT. Vi um pedaço de uma dramatização da vida dele, com uns atores desconhecidos, e um pedaço de um documentário sobre a relação dele com Nova York. Interessantes, embora sem maiores revelações, mas me fez rever alguns conceitos a respeito de Yoko, que ainda me passa a imagem de chatonilida, mas comeu o pão que o diabo amassou com a perseguição dos fãs dos Beatles em Londres -- o que, por fim, foi determinante para a ida do casal para NY.

Enquanto isso, Cee Lo Green continua rodando, não ininterruptamente, mas com frequência. Onde quer que leia algo sobre o disco, as críticas são positivas -- exceto no blog do ACM, que encontrou ecos de Crazy em F**k You, o que, ora pombas, não é qualquer demérito... Fiz uma curta resenha para a Rolling Stone, que você teve a bondade de ler antes que eu enviasse, e, bem, você viu lá que eu estou com os que elogiam. Cee Lo e outros afazeres de fim de ano, devo dizer, têm me afastado de Fitz and The Tantrums -- que já está comigo, mas ainda não coloquei para rodar. Mas, se tudo for bacana como MoneyGrabber, estamos feitos. Entre os comentários ao vídeo no YouTube, havia um que achei tão engraçado quanto certeiro: "Motown + Bowie = Awesome". Assim que ouvir o restante do disco, escrevo algumas linhas.

Aliás, ainda na mesma seara, conversando com um amigo, sugeri que ele jogasse Cee Lo Green e Ben L'Oncle Soul no YouTube, para ver qual é a da nova soul music que vem sendo feita lá fora. E foi bem interessante porque ele achou o francês mais "consistente" (palavra dele) do que Cee Lo, de quem ele gostou, mas achou "bem pop" e se perguntou se "tem fôlego" (novamente, palavras dele). Sem concordar ou discordar, fiquei matutando por que ele teria achado isso, e me veio à cabeça que, enquanto Cee Lo injeta a sua personalidade musical na coisa, talvez Ben L'Oncle seja mais reverente ao passado, e emule os heróis do soul sem reprocessar tanto (o que não significa copiar, deixo claro). E como o soul das antigas sempre soa mais consistente do que o pop atual, então... Faz sentido pra você?

Falando em passado, escrevi uma matéria para a Istoé sobre essa onda de caixas que recuperam a obra de um artista, uma série de discos antigos enfileirados num pacote luxuoso, manja? Há uma tendência claramente detectável, só de setembro para cá lançaram Beth Carvalho, John Lennon, Legião Urbana, Itamar Assumpção, Tim Maia e outros que não estou lembrando. Como a matéria ainda não saiu (deve ser no próximo sábado), fico quieto, mas te pergunto: você arrisca alguma explicação para a onda?

E, falando em caixas, o presente da semana foi a caixinha Michael Jackson's Vision, que a Sony teve a bondade de mandar, com todos -- todos! -- os clipes da carreira de Jacko. Como se não bastasse tudo que o cara fez pela música em si, ele também definiu os parâmetros do que chamamos hoje de videoclipe. Acho que, perto dele, só o Duran Duran fez tanto pela MTV em seus primórdios. Os maiores clichês dos videoclipes foram instituídos pelos caras.

Mudando de praia: Mayer Hawthorne e Amy Winehouse. Teremos um bom janeiro.

E a Modern Sound, hein?

And so, this is Christmas,

Rudolph, a rena do nariz vermelho

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

R,

Ainda não tenho minha lista dos 15 momentos do ano, mas já comecei a organizá-la, ficará para a próxima correspondência. Enquanto isso, no fim de semana comprei Ladies and Gentleman: The Rolling Stones. Um show na turnê do Exile on Main St. e que estava desintegrando em algum porão. A banda conseguiu comprar de volta, recuperar e lançar com ótima qualidade de imagem e som. Além do show com direção caprichada, já que foi filmado para os cinemas na época, há uma boa parte com extras - entrevistas com Mick, na época e agora, ensaios etc. Vale.

Pedi licença a Cee Lo e seu discaço para dar atenção ao Fitz & the Tantrums, dica sua, com o álbum Pickin' Up the Pieces, que é sensacional. É o tal blend pop+soul fazendo escola e, aqui, com uma formação que não tem guitarra e conta com a presença de uma cantora negra nos vocais de apoio. Fitz é meio figurão, me lembra os new romantics com um cabelo à la Duran Duran e aquela turma de blazer dos 80s.

O cd é ótimo, Rafael, e a voz de Fitz não é exatamente black, o que dá um charme a mais. Fica ali fazendo uma conexão com Hall & Oates, lembra deles?, que tinha aquela irresistível I Can´t Go For That - de onde Mick Simply Red Hucknall pescou a inspiração para a, igualmente irresistível, Sunrise. Quando escutar, fique atento a MoneyGrabber, Breakin' the Chains of Love e a baladona Tighter.

Conexão feita, vamos para o programa que Daryl Hall tem na web - acho que não passa em nenhum canal lá fora - chamado Live From Daryl's House, já assistiu?

Assisti e baixei o episódio do Fitz. É espetacular. Há uma banda residente, pelo que pude perceber, recebendo os artistas, junto com Daryl, que também canta e participa das músicas dos outros. E a mão é dupla, entra uma ou outra também do repertório de Hall & Oates. Entre as músicas rola conversa, a casa é bela e todo mundo cozinha e almoça junto. Já estou pegando também o da Sharon Jones, mas dá pra ver tudo no site. Não perca.

Por enquanto é isso, o ano está acabando e há uma boa notícia no ar: Simone parece que vai aposentar sua versão para a música de Lennon.

Abração,

F

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Comandante,

Não me entenda mal -- eu gosto de Los Hermanos. O meu problema é mais com a plateia do que com a banda, mais com o entorno do que com a música. Nunca alcancei aquele idolatria, e já me peguei várias vezes me perguntando se o problema era comigo. Fui a dois shows dos caras, e não entedia aquela comoção, as pessoas se comportando como se estivessem diante, sei lá, de um grupo de santos milagreiros barbados. Lembro-me do show do Radiohead, que eles abriram (antes do ótimo Kraftwerk, que faria o segundo show de abertura). Vi muita gente indo embora da Apoteose ao fim dos Hermanos! Nenhuma curiosidade, mínima que seja, em ver as bandas que viriam depois? Nem mesmo para justificar o (alto) preço pago pelo ingresso? Não entra na minha cabeça. Mas reconheço que é bom, e que eles fizeram bons discos (mas ainda prefiro Bloco a Ventura).

Voltando a Miles Davis, fusion nunca foi exatamente a minha praia preferida entre as várias do jazz, mas gosto de frequentar de vez em quando. Do fusion mais moderno, me agrada The Bad Plus, sobre o qual já falamos. Mas é a tal história: nada de colocar pra tocar e ir fazer café ou colocar roupa no varal. Não é música ambiente. É para ouvir com tudo. Bitches Brew, da primeira vez que escutei, me causou estranheza. Foram algumas audições até entender, na medida em que é possível entender aquela revolução. Escute e me diga.

Fui na sua e ouvi Cee Lo Green. Ducaralho. Fuck You é hit certeiro, no nível de Crazy. De modo que poderia até começar por ele a minha lista de top 15. Mas vou pensar melhor e te mando os meus na próxima correspondência. Aguardo o seu.

Bração,

R.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Rafa,

Deve ser muito bom o Hair, mas, como já te disse, minha ida nesses musicais é zero e sem motivo para tal. Gostaria de ir em um da dupla de sucesso, sim, quem sabe o próprio Hair, vou checar a agenda. E você fala do Brian Wilson relendo Gershwin. Ouvi um pouco, achei bem interessante, mas não voltei - aquela história da pasta do cd que se perde no computador. Achei They Can´t Take That Away From Me, com aquela roupa totalmente Beach Boys, sensacional (!).

Sobre os Hermanos: sinceramente?, acho que merecia uma atenção sua, vamos lá, o Ventura, pelo menos. Tem tempo que não me dedico aos discos, mas sei o quanto foram bons pra mim. Uma banda brasileira para chamar de minha, digamos. E aí faço o link com o fusion. Não, não conheço - ainda, ainda - o seminal Bitches Brew, mas uma época, fui do progressivo para o fusion (Weather Report, Eletric Band e outros novos como Niacin), pela coisa da virtuose e fiquei pirado. E, com isso, Los Hermanos, com aquela coisa meio desleixada - assim como a banda Cê? - era totalmente fora do meu contexto, beirando a piada.

Passa um tempo, que nem filme e, num show dos caras, entrei de cabeça. Ventura é um discaço. Aquela abertura com Samba a Dois, que Fernanda Porto gravou até, é ótima. Camelo em grande estilo. E o cd vai bem, muito bem, até o final. Você disse que tem o esquecível show de despedida e concordo, ali a banda já não estava bem, e a perfomance é péssima. Já tinha passado do ponto e até me distanciei deles por um tempo.

Nos últimos dias escutei sem parar Glenn Hughes, que foi do Deep Purple uma época. Ele entrou como baixista e segunda voz - coisa que o Purple não tinha até então -, ao lado do David Coverdale, que entrara como vocalista (depois ele sairia para montar o Whitesnake). Os dois praticamente deram um golpe de estado na banda e mudaram tudo com Coverdale vindo do blues e Glenn Hughes da black music. O classic rock do Purple virou rock com black music.

GH vem ao rio, dia 17, para fazer um show na Ilha dos Pescadores, lá mesmo, acho que não conseguiram o Circo, onde foi seu último show, uns dois anos atrás. Ele faz um rock com muito soul e black music. Canta muito, cheio daqueles melismas que caracterizam o canto negro e chega, às vezes, até a exagerar, como fazem outros grandes como Ed Motta e Stevie Wonder. Mas gosto dos 3. Aliás, li de um possível show de Stevie com Roberto Carlos ano que vem.

O ano está acabando e vamos fazer um top 15? Não especificamente de cds ou shows, mas de qualquer coisa relacionada à música - um relançamento, uma descoberta, uma trilha, um show etc etc.

Que tal?

Abração,

Nóimaier

ps.: Mayer Hawthorne no site do Circo, dia 14.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Câmbio, Neumayer,

Toda vez que vejo um espetáculo de Charles Möeller e Claudio Botelho, me pergunto por onde andavam esses talentos que eles pinçam. Com Hair não foi diferente. Não vou nem tocar nos aspectos teatrais -- fico na música, que é o que nos interessa aqui. Todos cantam à beça. As músicas (letras de James Rado e Gerome Ragni, também autores do texto, e melodias de Galt MacDermot) continuam deliciosas, 40 anos depois. Ain't Got No não perdeu o vigor divertido, e Let the Sunshine In, fechando o musical, é um convite a marejar os olhos. Mas Hair é um musical de certa forma atípico: abre justamente com o, digamos, clímax, com o seu grande hino, que é Aquarius -- na peça, intepretado com força arrebatadora por Karin Hils, ex-Rouge. Aí você poderia virar e dizer: "Pô, meu chapa, Rouge? Aquela bandinha do 'aserehe'?" Pois esqueça seus eventuais preconceitos. Na sessão em que estava, a moça foi aplaudida em cena aberta, na hora do refrão.

Falando em aplauso em cena aberta, Preservation Hall Jazz Band foi ó-te-mo, de fato. Curiosamente, desta banda que tocou no Municipal, o trombonista eu havia visto em outro clube de Nova Orleans. E o baterista, o grande Shannon Powell, me foi recomendado enfaticamente pelo concierge de um hotel, mas acabei vendo outra coisa no dia. A banda, você sabe, virou uma grife. Os músicos mudam ao longo do tempo (a banda, afinal, tem décadas de existência) e de acordo com o local onde estão -- certamente, enquanto eles tocavam aqui no Municipal, uma outra versão da banda tocava lá em Nova Orleans. E talvez alguma outra formação estivesse fazendo show em outro lugar, vai saber.

Em Nova Orleans, o Preservation Hall é foco de resistência do dixieland, o jazz tradicional. Fica a alguns passos da Bourbon Street, onde hoje praticamente só se ouve róquenrol, uma coisa meio turistada. Tenho visto Treme, a série da HBO que se passa em Nova Orleans, três meses depois do Katrina. Os músicos da história, todos roots, fazem piada o tempo todo com a Bourbon. O trombonista que é um dos personagens principais tem que ganhar o dinheiro do leite das crianças, e aceita tocar num clube na Bourbon Street, mas tem vergonha de contar aos amigos. Quando eles ficam sabendo, dizem, meio que consolando, mas sem acreditar de fato no que falam: "There's dignity on Bourbon, man!"

Bem, há dignidade no Preservation Hall, uma casa antiquíssima, que mantém seu charme. Os shows começam cedo -- uma sessão às 20h, outra às 22h. O espaço é um salão não exatamente grande, mas também não pequeno. As pessoas sentam em bancos daqueles compridos, vários deles espalhados pelo local. Quem chega depois vai se acomodando no chão. E quem chega realmente depois fica em pé. Nada que comprometa a experiência -- muito pelo contrário, acho. O lugar, afinal, não é um clube. É um espaço de louvação do jazz tradicional, com direito a instrumentos não microfonados. Nem o vocalista canta no microfone. Quem está lá vai para prestar atenção. Não há mesinhas onde as pessoas ficam namorando ou conversando enquanto os músicos tocam. Do lado de fora, há uns coolers à diposição dos clientes, que podem comprar água ou refrigerante. E só. Nada de cerveja. Comida, então, nem pensar. O lance ali é música, e apenas música.

Você me pergunta sobre Los Hermanos, e eu acho bom. Mas só -- bom. Não tenho nenhum disco. Aliás, tenho o ao vivo deles na Fundição (meio esquecível) e já tive O Bloco do Eu Sozinho, mas foi roubado no carro, se bem me lembro, e não me preocupei em repor. Nunca senti falta. Nunca tive Hermanos no iPod, por exemplo. A verdade é que acho que eu nunca descobri a banda. A idolatria em torno dos caras talvez tenha me afastado. Sempre achei aquela histeria um saco, aquela coisa de a-melhor-banda-de-todos-os-tempos. O disco solo do Camelo, este já me falou mais.

Comprei ontem Brian Wilson Reimagines Gershwin, com a visão do líder dos Beach Boys para a obra do grande George Gershwin. Achei interessantíssimo -- do tipo que, mesmo que você não goste, não tem como negar que é uma apropriação de personalidade, respeitosa, sem ser por demais reverente. Há Brian Wilson ali, mesmo na obra de um dos maiores compositores populares do século. Do contrário, por que regravar?

Nos últimos dias, andei passeando pela edição comemorativa de Bitches Brew, de Miles Davis, o marco inaugural do fusion. Me soou melhor (muito melhor, aliás) do que da primeira vez que ouvi, quando achei muito viajante demais. É fusion, afinal. E você, curte o gênero?

Câmbio, desligo,

R.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Camarada,

Sim, há mais coisa lá fora. Há mais coisa interessante lá fora para os meus ouvidos. Sendo assim, chegamos na equação matemática que resume o player. Não conheço o disco do Gnarls Barkley justamente pelo frenesi na época, fiquei longe. E, até por isso, quase não baixei o Cee Lo Green, que também saiu etiquetado. Fiz junto com o Arcade Fire, como exercício, para ouvir, mesmo com a coisa hype. Cee Lo bateu muito bem, estou preso, não consigo sair. Aguardo sua opinião. Já o Arcade Fire, tããão falado por aí, soou longo. Começou bem, mas fica repetitivo, poderia ter quatro músicas menos. Mesmo assim, é uma boa banda.

Peguei o Ray Charles que sugeriu, mas ainda não escutei. Comprei também um da Preservation Hall lá no show no Municipal. Aliás, grande apresentação aquela. Essa série Jazz All Nights foi uma das melhores coisas do meu ano. A música que o baterista cantou me remeteu ao Ray, que sempre ouvi em casa, pelos discos, depois CDs, do meu pai, fã do cara.

Hoje li, no Globo, sobre o DVD de Marcelo Camelo, lançamento. Quero assistir, estou curioso. Gosto muito do Sou/Nós, acho que Camelo foi feliz naquele disco. Boas canções, com um tratamento bonito e ao estilo dele. Santa Chuva, por exemplo, com aquelas cordas, ficou bela. Acho Los Hermanos a grande banda nacional da minha geração e, talvez, a única. O que não é difícil, vamos combinar.

Sei que o Brasil viveu o rock BR, dos anos 80, mas, nascido em 84, cheguei depois na música, e para encarar as produções daquela época, não dá. O Rock Brasil teve data de validade, na minha opinião. Por isso abracei os Los Hermanos, não tudo, mas, principalmente, Bloco do Eu Sozinho e Ventura. Dois discaços. Para completar, o DVD gravado no Cine Íris pega bem o momento que a banda estava. O álbum seguinte, 4, tem seus momentos, especificamente os de Camelo, mas perdeu charme tirando o naipe de sopros, que eu via como peça-chave no som deles. O concerto de despedida, na Fundição, eu já estava meio distante, achei fraco, muito.

Bloco e Ventura eu revisito com entusiasmo. Ótimas composições, arranjos. Por que não temos uma dessas novas cantoras gravando um Canta Camelo?, ou Canta Hermanos? Acho que daria um ótimo trabalho. Sei que algumas delas já gravaram soltas, mas um trabalho inteiro, bem arranjado, seria bonito de se ver.

Comente de Hair, comente de Los Hermanos.

Abração,

Miranda

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Lek,

Começo pelo fim. Sobre a sua pergunta da proporção do quanto escuto de música nacional e internacional... não sei se saberia calcular. Meu primeiro chute é de meio a meio, com vantagem para a estrangeira. O jazz colabora muito pra isso, tocando a esmo no iPod. Mas talvez a explicação para isso, no meu caso, seja meio óbvia: há mais quantidade de música internacional circulando do que nacional. E, como meu interesse musical não tem nacionalidade como pré-requisito, acabo ouvindo mais material de fora. Não acho que se trate de uma preferência -- é mais uma questão matemática, só isso.

Meu conhecimento de Gnarls Barkley se resume a St. Elsewhere, o primeiro álbum dos caras, justamente o de Crazy -- que acho bom pra caralho, a música, mais até do que o disco, que acho bom, mas considero mais um daqueles superestimados, o grande fenômeno da última semana, à la Janelle Monáe. Mas lembro agora que, curiosamente, Crazy apareceu algumas vezes durante minha viagem a Nova Orleans. Em dois shows que assisti, de Kermit Ruffins, trompetista, e Big Sam, trombonista, rolaram inserções jazzy-funky da música. Mas, independentemente do que ache de St. Elsewhere, fiquei curioso. Vou atrás de Cee Lo Green, depois comento.

Tulipa (que, ao que parece, cortou o Ruiz do nome artístico), eu descobri muito por acaso -- e foi uma bela descoberta. Era um dos discos ainda no plástico que se acumulam lá em casa. Com tanta coisa que me chega, acabo deixando de lado aqueles que claramente devem ser esquecíveis, e vez por outra passam batidas, ali no meio de tudo, algumas pepitas às quais vale a pena dar atenção. Tulipa foi uma destas que pegou uma poeira antes de ser descoberta, tardiamente. E gostei muito. Vá além de Efêmera, corra atrás do disco inteiro. Marcelo Jeneci, não conheço. Dizem que é bom, eu sei, mas desconfio de tudo que é anunciado de cara como o disco do ano, capa do Segundo Caderno e tal.

Falando em disco do ano, não sei se é "o", mas certamente é "um dos": The Undiscovered Masters, com músicas perdidas do baú de Ray Charles. O Estadão deu cotação máxima neste fim de semana, e disse que, se você for comprar só mais um disco até o fim do ano, deve ser este. Não poderia concordar mais. Eu escuto esse cara e me pergunto por que diabos alguém ainda faz rhythm and blues depois dele. E me pergunto como músicas excelentes, com boa qualidade de gravação, podem ter ficado sumidas por tanto tempo. Tem até uma parceria dele com o Johnny Cash! É um caso de material do baú que não dá vergonha, manja? Bem diferente daqueles discos póstumos que você entende porque só foram lançados depois que o sujeito bateu as botas... O próprio Estadão também deu uma matéria sobre isso, com gancho no disco novo do Michael Jackson, cuja primeira música, chamada Breaking News, me soou irrelevante. Certas coisas, o melhor é deixar enterradas, mesmo...

Também me chegaram Viva Elvis, trilha sonora do espetáculo do Cirque du Soleil em homenagem ao Rei do Rock, com músicas deles com novos arranjos, absolutamente equivocados, diga-se; o novo do Jamiroquai, legalzinho, mas esquecível; e The Union, disco conjunto de Elton John e Leon Russell, que coloquei para rodar meio despretensiosamente, mas me levantou as orelhas em alguns momentos e merece nova audição.

E hoje tem Preservation Hall Jazz Band. Nos vemos.

Em tempo: Leffe, já te disse, é uma boa porta de entrada para as belgas. Aguardo uma opinião mais aprofundada.

Em tempo 2: vi Hair, o musical. Comento na próxima.

Bração,

R.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

John McLane, passamos pelo Paul.

Na volta para o RJ, até poderia ter optado por ouvir um Band on the Run no mp3, e continuar no clima, mas resolvi dar o play no Lady Killer, do Cee Lo Green, que falei aqui na última carta. Ele é metade da dupla Gnarls Barkley, que estourou com Crazy, e está no terceiro CD solo. A música de trabalho, Fuck You, chamou a atenção para o álbum pela... polêmica do título. Na Fox News, ele cantou Fox News no lugar. Mas o que importa é que o CD é ótimo. É soul repaginado, com cordas e sopros que nos levam aos clássicos da música negra americana, tão rica e que temos falado tanto.

Recomendo que pegue no site mais próximo.

Outra música que tenho escutado praticamente no loop é Efêmera, da cantora Tulipa Ruiz. Antes de Paul entrar no palco, naquelas caixas, essa música tocou em meio a rocks britânicos e coisas instrumentais. Eu desconhecia, mas bateu tão bem que anotei o refrão em uma nota de texto no celular para não perder. Depois, já hospedado, para a minha sorte, descobri ser a tal cantora. Conhece Tulipa? E o Marcelo Jeneci?, que é da turma dela e estava em todas as capas aí nas últimas semanas. Todo mundo levantou a bola do cara como um ótimo compositor, mas ACM disse que não é pra tanto. Vou pegar e volto depois com impressões.

E também dei uma chance ao último - e tão bem falado - The Suburbs, do Arcade Fire. Outro que bateu muito bem. Tem um pouco de rock, de folk... tudo que gosto.

Conforme a sonoridade black de Cee-lo descia bem no avião, eu, como um zumbi de sono, refletia sobre meu gosto e interesse pela música internacional, que escuto em maior número que a nacional, a nossa. Chutando uma estatística, diria entre 60 e 70%. Não há muito o que se explicar, nem sentir culpa, acredito. Mas é uma coisa que penso.

Vejo você, mesmo com a coisa forte do jazz, no inverso, inclinado mais à música brasileira. Estou errado?

Um abraço,

Jason Bourne

PS: provei a Leffe, mas acho que ainda é cedo para falar algo. O que importa é que a primeira impressão pediu mais.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Fernando, meu caro,

Estou de volta, depois de uma maratona exaustiva em busca do Santo Graal, a.k.a. Paul McCartney. Me canso só de lembrar: saí direto do trabalho em um voo que atrasou, decolando às 18h50, fiz check-in no hotel pouco depois das 20h, larguei a mochila, embarquei num táxi e parti pro Morumbi, entrando no estádio uns dez minutos antes do show começar. No dia seguinte, acordei cedo, peguei um voo e saí do aeroporto direto para o trabalho. Faria tudo outra vez, é claro.

Sobre o show, o que dizer que já não tenha sido dito, ou o que não esbarre no mais surrado clichê? Difícil. A plateia já comia na mão do beatle (sim, beatle, acho esquisita essa história de ex-beatle) antes mesmo de ele subir ao palco. Quando ele abriu os trabalhos com Magical Mystery Tour, em vez de Venus and Mars/Rock Show, que foi a que você ouviu no show de domingo, foi uma catarse coletiva. A letra já era um aviso: "The Magical Mystery Tour is waiting to take you away..." Depois de dois shows abrindo com uma canção dele com os Wings, acho que ninguém esperava que ele começasse logo com um petardo dos Beatles.

Tirando algumas poucas alterações na primeira metade, o repertório foi basicamente igual ao que você ouviu. Senti falta, lógico, de Drive my Car, mas fui recompensado com Got to Get You Into my Life. Não vou me estender mais dizendo o óbvio ululante, que o show foi sublime, que Paul tem magnetismo cênico invejável, que a banda é excelente. Fico apenas com um relato muito pessoal: meus olhos lacrimejaram em My Love, no coro de Hey Jude e, especialmente, aos primeiros acordes de A Day in the Life, que para mim é top 3 dos Beatles.

Por enquanto, é isso. Falo mais na próxima correspondência.

Abração,

R.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Rafael,

Hoje, terça-feira, 23 de novembro, se tudo correu bem por aí, já podemos falar que fomos ao show de Paul McCartney. E isso é muito, sem dúvida. Como você sabe, fui no domingo, ontem vivi e trabalhei como o zumbi por causa da missão. Escrevi, com esforço, um parágrafo sem graça no Som Imaginário, mas a verdade é que, diante daquele espetáculo, é tarefa árdua escrever um bom texto.

O que posso dizer, e postei hoje no tal do Facebook, é que toquei air guitar em Let me Roll It, chorei em The Long and Winding Road, fui levado para uma época que não vivi com All my Loving, me diverti em Ob-La-Di Ob-La-Da, dancei em Mrs. Vandebilt, toquei piano no ar em 1985, fiquei estático em My Love, pulei e pulei em Live and Let Die, cantei pra fora o refrão de Band on the Run e me juntei ao coro de Hey Jude. Isso resume um pouco da minha noite diante de um beatle. Foi um choque de emoções.

Vi o show inteiro destacado do grupo que foi comigo, ou seja, sozinho. Todos quiseram se infiltrar na muvuca enquanto eu, com 1,60m, como faço normalmente, fiquei lá pra trás, assistindo com auxílio dos telões e, em alguns momentos, na ponta do pé. Mas quem se importa? Eu estava no meio da turma que dançava de braços abertos, saía correndo para abraçar o outro, imitava quadrilha na levada de Mrs. Vandebilt. Fiquei num lugar privilegiado.

Foi histórico, memorável. As duas que não conhecia, do projeto paralelo Fireman, ainda bateram muito bem, muito. Não vou nem enfileirar destaques aqui, pois é perda de tempo. Mas isso me leva à questão de John e Paul, que falou na última correspondência. Sim, os dois se equilibravam e se encontravam nas diferenças. Mas fico com Paul também pela coisa da composição, da musicalidade. A música dele fala mais comigo. E sem esquecer aqui das belas contribuições de George, que foi bem lembrado com Something no show.

Gostei de um artigo, na Folha de SP do dia 18, escrito por Eduardo Giannetti, que traz um texto analisando justamente a coisa Lennon/McCartney e, em determinado momento, achei muito bem colocada a situação caso não existisse Beatles. O que Giannetti diz é que, em algum momento, os dois surgiriam. John na linha de Lou Reed e Leonard Cohen, os trovadores; enquanto Paul, claro, ficaria no lado dos magos da canção pop Elton John e Billy Joel.

Pedindo licença a Macca, vou falar do Cee Lo Green, ele é parte daquela dupla Gnarls Barkley, do hit Crazy, sabe?, então, acabou de sair seu álbum The Lady Killer, e recomendo. Normalmente, fico com pé atrás de tudo que lançam - culpa de nós jornalistas? - com a etiqueta "candidato a melhor do ano", mas fui atrás e não decepcionei. É parte do nosso estudo do soul. É um discaço. Acho que você deve pegar.

Aguardo suas impressões,

Ferdinando

E antes que eu esqueça: Ringo era ótimo baterista.

sábado, 20 de novembro de 2010

Meu nobre,

Desculpe a demora. A semana foi dos infernos.

Primeiro, às cantoras. Li sobre Adele no seu blog, mas não corri atrás. Sobre Janelle, não é que eu não ache bom. Eu só acho que não é isso tudo que falam. O que me faz arriscar a incerteza de um show de Amy Winehouse é saber que ela, sim, é tudo isso que falam.

Ivan Lins, falamos sobre ele algumas correspondências atrás. É de uma ignorância sem tamanho achar que o cara é simplesmente um chato. Como te contei, a Jazz Orchestra of Concertgebouw, holandesa, tocou Começar de Novo em sua apresentação. Burt Bacharach também saudou Ivan, cantando uma de suas músicas no show que fez aqui. Estes são os que me lembro de imediato, e que vi rendendo homenagens ao cara no palco. Mas há incontáveis outros. Um dia ainda vou investigar esse fenômeno -- quem sabe até perguntar ao próprio Ivan, em uma eventual entrevista.

Mas vamos ao que interessa -- que, neste momento, é Paul McCartney. À esta altura, você está em São Paulo, à espera do homem. Consegui uma bocada e vou ao show de segunda-feira, que não é o que você vai. Altas expectativas. Vou num esquema correria total, como se ainda tivesse meus 18 anos. Saio do trabalho cedo na segunda, pego um avião, chego em São Paulo às 19h, faço um check-in a jato no hotel (escolhido a dedo, colado no aeroporto, a cinco minutos andando), corro pro Morumbi, vejo três horas de Paul McCartney, volto pro hotel, durmo algumas horas e volto pro Rio na terça de manhã. Você tem alguma dúvida de que vale o esforço?

Fiquei imerso esta semana no som do cara. Respondendo à sua pergunta, se fico com Paul ou John... Francamente, às vezes acho que um não teria se constituído no artista que foi sem a existência e a parceria (ou rivalidade) do outro. É diferente de, sei lá, Mick Jagger e Keith Richards -- Mick teria encontrado seu Keith, mesmo que não fosse exatamente este Keith Richards, entende? No caso de Paul e John, não que tenha sido intencional, mas a persona artística de um, creio, teve grande peso na definição da do outro, naturalmente. O Paul de Ob-La-Di Ob-La-Da moldou o John de Strawberry Fields Forever (claro que Paul não compôs só Ob-La-Di Ob-La-Da... Yesterday, normalmente creditada a "Lennon/McCartney", todos sabem que é compsição do Macca!), e vice-versa. Os dois são lados opostos da mesma moeda. Mas, para não fugir da raia, ainda acho que Paul era melhor instrumentista, tinha mais musicalidade, foi mais versátil, e foi a alavanca do grupo em seus últimos (e melhores) discos. É com ele que fico.

Mudando um pouco de assunto, mas ainda sobre o mesmo nome, li uma entrevista de Paul McCartney na Rolling Stone deste mês. Tem um caso hilário. O repórter diz para ele que alguns de seus amigos de Londres juram que já o viram andando de metrô, e pergunta se é verdade, mesmo. E o Paul diz que sim, que ele gosta de se sentir ligado à realidade do mundo, essas coisas. E que, de vez em quando, pega um ônibus ou o metrô. Diz ele:

"O mais legal é que ninguém acha que sou eu! (...) Se alguém olha para mim, dá para ver a pessoa pensando: 'Não, não pode ser ele... Não aqui, no metrô.' E, sabe, já fiz o mesmo em Paris. E estava lotado! Sabe como os trens ficam bem cheios? E eu estava lá, segurando na alça, como todo mundo. Vi uma duas pessoas que olharam e devem ter pensado: 'Nossa, você se parece muito com ele, cara.' Mas ninguém diz nada!"

Ri muito.

Mas voltando ao duelo Paul x John, o que acho sempre uma sacanagem é ninguém falar do Ringo... Você leu a entrevista do baterista do Paul no Estado de São Paulo, falando que quem critica o estilo do Ringo tocar é ignorante?

Abraço, bom show,

Sir Rafael

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Hall,

Eu também fico com Beatles no duelo imaginário. Sim, eles foram além e contribuíram muito, em tão pouco tempo. Mas ando numa fase muito mais Stones. Mick Jagger tem sido mais amigo ultimamente. Aliás, amanhã começo uma maratona Paul para o show do fim de semana. Vejo, inclusive, que ele está tocando duas que gosto muito, do Band on the Run, são elas: 1985 e Mrs. Vandebuilt. Por outro lado, não tenho visto Maybe I'm Amazed.

E dentro dos Beatles? Continuando a coisa do duelo. Eu fico com Paul, mas já tive minha fase John, e gosto muito do charme musical de George.

Não sei, acho que não aposto muitas fichas no show de Amy. Quem sabe com a proximidade eu me anime, mas há quanto tempo essa mulher não faz um show? Teremos algo Tim Maia, como você disse. Janelle pode ser um pouco superestimada, sim, mas é ótima e tem um grande album de estreia. Principalmente a primeira metade dele. Dê uma chance. Já viu a apresentação dela no Letterman? Procure por Tightrope lá. A menina tem presença, revisita James Brown na dança, canta bastante e é acompanhada por uma super banda. Vale, meu amigo.

Falando nelas, ontem saiu nova música da Adele que, como muitas, apareceu pela porta que Amy abriu e fez uma superestreia com 19. Agora, no início do ano que vem, sairá 21, seu próximo álbum. Procure, se ainda não tiver nada. Ela pega uma coisa das divas do jazz, joga nesse caldeirão soul black e ainda coloca algo de Carole King no meio. Rolling in the Deep, a nova, é demais. Acrescente algo aí também de Annie Lennox, quem sabe. Ou vá atrás de Cold Shoulder, do primeiro. Há, também, uma bela Make You Feel My Love, de Dylan, que ela gravou. Além disso, tem charme, o que é indispensável à uma cantora.

Sábado estive no Jardim Botânico para assistir Gilson Peranzzetta e Mauro Senise, com participação de Leonardo Amuedo, guitarrista uruguaio de que gosto muito e fez parte da banda de Ivan Lins nos últimos anos. Uma das músicas do repertório foi justamente uma bela composição de Ivan. Não me recordo o nome, mas foi o suficiente para me lembrar que você falou rapidamente uma vez sobre a etiqueta de chato carregada por ele. Sempre pensei nisso.

Abre parênteses: muito bacana esse evento de música no Jardim Botânico. Aquela vista e aquele clima do lugar com música de qualidade. Sábado próximo será a vez de Hamilton de Holanda, que promete, mas já estarei em SP, a espera de Macca. Gosto muito de Hamilton, vi um show na Modern Sound, no lançamento de seu disco Brasilianos 2, e saí boquiaberto, em estado de choque. Estava na primeira mesa e a perfomance dele é incrível. Parece um guitar hero. Vi que saiu uma sinfonia dele para Brasília. Estou curiosíssimo.

Mas voltando a Ivan Lins, a questão é: há alguma coisa que explique esse abismo entre ser chato aqui dentro e adorado pelos jazzistas lá fora?

Oates

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Bird,

Como diria Calvin (sim, aquele dos quadrinhos): os dias estão simplesmente lotados!

Dizer quem é o melhor entre Beatles e Rolling Stones pode ser uma bobagem. Mas, se fosse para escolher -- como no dilema que propus há algumas semanas, Chico x Caetano, quem você eliminaria da História? --, não hesito em ficar com os Beatles, mil vezes Beatles. Tendo a crer que, se os Stones, tal qual foram, não tivessem existido, teria aparecido uma outra banda equivalente, semelhante, em algum momento. Enquanto os Beatles foram únicos. Em tempo: falando neles, hoje saberei se vai rolar Paul McCartney. Brrrrrrrr. Te dou notícias.

Como você sabe, recebi a discografia inteira do John Lennon solo, que está sendo editada aqui no Brasil pela EMI. Beatles eu conheço bem, mas do Lennon pós-Fab Four são os hits que me são mais familiares, tipo Woman, Imagine, Jealous Guy, Power to the People. O primeiro que tirei do plastiquinho foi Rock 'n' Roll, disco bem... roqueiro, claro, no melhor dos sentidos. Abre com Be-Bop-a-Lula, pra você ter uma ideia. E tem Stand by Me, que virou quase um clichê na discografia de Lennon, mas me fala muito ainda hoje. Nos próximos dias, vou seguindo por outros. 

Do rock para o jazz, dia 29 tem Preservation Hall Jazz Band. Vi uma versão da banda (provavelmente nem todos os músicos que tocam lá são os que saem em turnê) em Nova Orleans. O Preservation Hall é uma casinha com aspecto de velha, a meio quarteirão da Bourbon Street. É jazz tradicional na veia, com direito a um sujeito na tuba -- se você vir uma tuba numa orquestra de jazz, pode saber que é coisa das antigas. Nada de mesinhas, com nego comendo belisquetes e tomando seu uisquinho. Vendem, no máximo, uns refrigerantes e umas águas, que ficam em uns coolers do lado de fora. Informalíssimo. Nada de músicos microfonados, tampouco. As pessoas se sentam em cadeiras e bancos, em um formato de teatro, só que mais bagunçado. Muita gente no chão também. 

É um oásis de jazz de Nova Orleans, coisa mais roots, em uma região onde o gênero perdeu espaço nos últimos anos. A Bourbon é uma diversão, mas é preciso ânimo para garimpar jazz em meio a tanto rock, boates de striptease e jovens bêbados. Quando entrevistei Irvin Mayfield, mais do que um jovem trompetista, o embaixador cultural de Nova Orleans, perguntei a ele sobre isso. Ele me disse que o seu clube, o Irvin Mayfield's Jazz Playhouse, encravado no hotel mais chique da Bourbon Street, tinha exatamente a pretensão de revitalizar o jazz mais tradicional na rua. Não à toa, quem eu vi lá foi Bob French, grande baterista da velha guarda. Mas há também jovens nomes fazendo jazz tradicional por lá.

Amy Winehouse vem aí. Janelle Monáe e Mayer Hawthorne, não. Quer dizer, Janelle deve vir numa participação especial no show da Amy, como você já sabe. E Hawthorne, segundo você me informou, talvez venha para tocar no Circo. Seja como for, é estranho ver, mais uma vez, o Rio de fora. Não sei como vai ser o show da Amy -- ou se vai haver um, considerando que ela pode dar uma de Tim Maia, vai saber... Mas aposto minhas fichas. Janelle é que eu acho superestimada, a mais nova sensação da última semana. Acho que há uma foraçação de barra para dizer que ela está estouradaça, quando, na verdade, não está. Hawthorne já me interessa mais.

Metallica é a primeira banda a confirmar presença no Rock in Rio. Zzzzzzzzzz...

Bração,

Diz

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Marujo Teixeira,

Sim, não sei o motivo da demora para bater à porta dos Stones. Na verdade, ok, acho que nunca entendi muito bem Keith Richards e Mick Jagger. Bobeira. Bobeira minha. Coisa de... maturidade, talvez; mesmo que os Stones tenham uma urgência jovial na música e na perfomance. E, mais, nunca entendi a coisa black que associavam ao som. Eu estava completamente errado. Depois do Exile, sim, tudo mudou. Há uma diferença entre ouvir música e ouvir, de fato, a música. Foi assim quando entrou Tumbling Dice. Claro que já havia escutado, mas lembro da cena que bateu: eu coloquei o cd e fui fazer aquelas coisas que normalmente fazemos antes de sair de casa. Na hora de Tumbling Dice, eu estava escovando os dentes e aquele coro negro (got to roll me...) me fez desligar a torneira e ir até o quarto, devagar, com a boca cheia de pasta e a escova na mão, em estado de choque.

Tudo mudou. Escutei, sem exagero, a mesma música o dia inteiro durante uma semana.

Hoje consigo até entender quando colocam na roda Stones vs. Beatles, o que era inaceitável pra mim. Claro, não existe melhor, isso é infantil, mas gosto dessas discussões. Mick Jagger e sua turma chegam em um lugar que os fab four não passam muito perto. E o molho de música soul e black é fundamental para isso.

Gosto da resposta que o Dapieve deu lá no blog. Foi uma ótima saída.

Eu: Beatles e Stones. O que um tem que o outro não?

Ele: Os Beatles tinham o dom da criatividade infinita (enquanto durou). Os Stones têm o dom da vida eterna. Se fôssemos escolher entre os dons, qual escolheríamos?

Você falou de dança e meu conhecimento é perto do zero. Dois anos atrás, não lembro exatamente, fui ver o Parsons Dance no Municipal e saí de lá amarradão. No grupo que fui, todos falavam sobre o tal número do voo, que é de uma sacada impressionante, você sabe? Tudo se apaga e ele salta pelo palco, acionando um flash de luz na hora do pulo. Ou seja, temos a sensação realmente do voo. É um número tradicional dele, mas eu desconhecia e viajei naquilo. Teve algo de jazz em um dos números e um outro com uma ótima da Dave Matthews Band. Concordo com você, dança sem música pode faltar... música.

Não vi Corinne, mas quase fui, tinha ingresso. Aquela chuva que caiu me tirou do programa de atravessar a cidade, uma pena. Acho o som dela interessante, e ao vivo deve crescer, ficar melhor, mais vivo. Vem Norah Jones aí, né. Meu pai ligou hoje cedo para irmos. Ouvi algo do último, onde ela tentou outro caminho, e gostei. E gostei também, na época, do segundo ou terceiro - não vou ao Google agora -, era um de capa amarela.

Andei para trás no nosso estudo do soul. Otis Redding não para de tocar. E Sam Cooke vem atrás, colado. E aí?

Abração,

Ferdinando da Costa, capitão-de-fragata.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Fernandinho,

Faço minhas suas palavras sobre os discos físicos, sem ressalvas. Sigamos adiante.

Meu gosto por Rolling Stones vem do meu irmão, fã desde sempre. Escutava por tabela em casa, na época dos vinis. Mas, ainda criança, não dava muita bola. Conforme crescia, fui pegando gosto. Foi com meu irmão que fui vê-los, Jagger, Richards e companhia, no Maracanã, no show da turnê Voodoo Lounge, um dos últimos bons discos (pero no mucho) da banda. Tinha uns 14 anos, não me lembro de detalhes do show, mas me lembro do impacto, do lance megaconcerto, dos telões gigantescos, da pirotecnia e tal. Sei que a sua descoberta dos Stones é recente, via Exile on Main St., procede? Curioso, porque todo adolescente roqueiro -- como, de certa forma, foi o seu caso -- se amarra na banda desde moleque. Me espanta você só ter sido fisgado depois de gente grande.

Posso mudar o rumo da prosa? Vi um espetáculo de dança contemporânea na última sexta-feira, dentro do Festival Panorama (ex-Panorama de Dança). Quatro números numa retrospectiva da carreira de uma coreógrafa americana, Trisha Brown. Por tudo que li, parece que é das bambas, mas eu nunca tinha ouvido falar -- o que não chega a ser um problema, considerando que meu conhecimento de dança contemporânea é limitadíssimo. Talvez justamente por conta dos meus parcos conhecimentos é que não tenham ecoado tão bem os dois primeiros números. O que abria o espetáculo era de dança sem som. Digo, sem música alguma, nem sequer um barulhinho. Achei lindo, mas não fluiu. Faltou... música.

No segundo número, havia uma música -- e, muito curiosamente, da Orquestra Voadora, legitimamente brasileira. Mas inserida de forma muito diferente. A orquestra ia tocando do lado de fora e nas coxias do teatro, de modo que o som ficava abafado (era preciso se esforçar para ouvir) e ia "andando" da direita para a esquerda, passando por trás da plateia. Louco. E com uma coreografia linda, indiscutivelmente. Mas tampouco fluiu (no intervalo, aliás, a banda tocou no foyer do teatro, e me impressionou demais ao vivo). Nos dois últimos números -- o terceiro com uma música minimalista, praticamente um som e não música, e o quarto com trechos de uma ópera --, a coisa melhorou tremendamente. Mas, repito, acho que isso era um problema meu. Ou será que dança sem música é mesmo mudernidade demais?

No que diz respeito a grupos de dança, gosto da relação que o grupo Corpo desenvolve com suas trilhas, dando total liberdade aos compositores escolhidos, sem briefing, sem direcionamentos, sem nada. Há ótimos resultados, como o do último espetáculo da companhia, Íma, com música de Moreno Veloso, Domenico Lancellotti e Kassin. É de escutar em casa, sem qualquer auxílio da coreografia. Funciona independentemente, o que acho sensacional, considerando que é música produzida não com base em uma coreografia, porque a coreografia só é desenvolvida depois, mas pensada tendo em vista um espetáculo de dança. Não sei se me faço entender.

Não vi Corinne Bailey Rae, que acho ótima (e você?) e Antônio Carlos Miguel incensou tremendamente em sua crítica publicada hoje no Segundo Caderno. Deve ter sido mesmo bom. Falando em incenso, Barbara Heliodora conseguiu a proeza de me animar ainda mais para ver Hair, de Charles Möeller e Claudio Botelho. Assim como aguardo ansiosamente pelo próximo (já anunciado) disco do R.E.M., que deverá ser a próxima banda de rock a te fisgar depois de velho, assim como foi com os Stones. Você viu o vídeo dos caras, de Living Well Is the Best Revenge, no La Blogotheque, não? Achei aquela ideia ótima, os caras fazendo "shows portáteis", tocando num carro, numa loja, num restaurante.

Vejo que escrevi demais e ainda não contei como cheguei ao jazz. Um dia conto.

Em tempo: Amy Winehouse vem aí, lá lá, lálálálá...

Abrá,

Rafinha

sábado, 6 de novembro de 2010

Keef,

Sim, não há como não adorar Paul Desmond. E eu não sabia dessa história com Jim Hall. Excelente. As gravações dos dois juntos são o supra-sumo do bom gosto. Mas ainda não fui além desses trabalhos e, claro, do que foi feito também com Brubeck.

Ainda compro cds, meu amigo, ainda. E não só isso, mas também dvds e, em menor escala, vinis, depois que herdei o toca-discos do meu pai. Sem saudosismo barato, mas nada como comprar aquele cd e voltar para casa, tirar o plástico, ver o encarte... Também sou da tribo dos downloads e acho que isso veio para o bem, nos coloca em contato com qualquer coisa, a qualquer hora, se não perdemos a mão, pois é fácil baixar tudo e ouvir nada.

Na realidade, o que sinto, muitas vezes, é que o cd não sobreviverá comigo se eu não comprar. Isso acontece normalmente por aqui e não acho difícil acontecer com... Lucy Woodward ou Aloe Blacc, por exemplo. Por mais que goste muito, o artista meio que se perde ali nas pastinhas amarelas do Windows. E precisar do computador para ouvir música me desanima.

Mas para isso temos os ipods da vida, certo? Claro, tenho meu tocador de mp3, que uso na rua e nos exercícios, mas ele tem a trilha da rua, normalmente mais rock, mais coisa pesada e esses nossos novos do soul. Não tenho ali um Mingus, um Coltrane, até pelos trajetos pequenos que são os do meu dia-a-dia.

Fato é que preciso ter a música, acima de tudo. E isso implica em comprar o disquinho, não tem jeito. E aquele velho clichê da capa, de quem gravou, de quem produziu, onde foi, em que ano etc. Sim, a wikipedia e o allmusic estão aí para isso, mas você me entende. Acho que não tenho idade para ser tão resistente a isso, mas o mp3 me parece um pouco descartável.

Sim, lembro o último que comprei. Ontem, arrematei o primeiro do Tom Waits, via Amazon, que aliás é o caminho, sai mais barato que comprar aqui (!). Antes desse, umas semanas atrás foi a vez de Black and Blue, discaço dos Rolling Stones com muita coisa de black music. Gosta deles?

Um abraço do Mick

ps.: baixando o Mingus recomendado.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Caro,

O jazz é interminável, e isso é ao mesmo tempo maravilhoso e angustiante. Há, de fato, a delícia de saber que existe sempre algo novo a ser descoberto. Mas há a sensação de que morrerei sem ter ouvido nem um milésimo de tudo que há de bom para ouvir. Paul Desmond, por exemplo, não conheço o suficiente para comentar muito além de sua associação com Dave Brubeck. Também tenho um ótimo disco dele com Gerry Mulligan, sax barítono, chamado Two of a Mind. Mas, do pouco que conheço de sua parceria com Jim Hall, gosto, evidentemente. A verdade é que, convenhamos, não há como não adorar de Desmond, com seu estilo suave, limpo, altamente melódico, mas sempre articulado, com algo a dizer.

Hall, você deve saber, foi o principal responsável por tirar Desmond de uma aposentadoria precoce -- após a dissolução do quarteto de Brubeck, quando o saxofonista tinha pouco mais de 40 anos --, convidando-o para tocar em um clube de Nova York. Brincando, Desmond dizia que só aceitou o trabalho porque morava perto e podia sair da cama e ir direto trabalhar. E ele bem podia se dar ao luxo de desdenhar, mesmo: os direitos autorais por Take Five lhe deram uma vida confortável até o fim de seus dias.

Não tenho comprado CDs, mas, como repórter que trabalhou muito tempo com música (e, de certa forma, continua na área), acabo recebendo uma coisa ou outra. Enquanto escrevo, daqui da redação, chegaram Amor Festa Devoção, o ao vivo de Maria Bethânia, baseado nos discos Tua e Encanteria, e Capoeira de Besouro, de Paulo César Pinheiro. Ambos me interessam, o que é raro, considerando a qualidade do que chega. 

O último que comprei foi um de Sonny Rollins ao vivo no Village Vanguard, com dois takes de A Night in Tunisia -- mostrando que duas sessões de um show de jazz, mesmo com repertórios idênticos, jamais serão iguais. Ainda mais quando o homem em questão é Sonny Rollins (um dos meus pé-na-cova, que vi tocar num TIM Festival recente). E você, lembra qual foi o último que comprou?

Em tempo: esqueça tudo que te indiquei até hoje e procure Ah Hum, de Mingus. Não precisa comprar na loja, como faziam nossos avós -- você saberá dar outro jeito.

Juízo,

R.M.T.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Hart,

O jazz é um terreno para ser explorado infinitamente, não é? Gosto de pensar que sou um turista, ainda meio perdido, sem saber para que lado ir, mas já com algumas referências. Você falou de Time Out e acho que seria o de número 16 na minha lista. Lembro quando meu pai colocou o cd pra tocar e Blue Rondo a la Turk me deixou tonto com aquele tempo. Na época, eu estava de cabeça no rock progressivo justamente pelos tempos e o virtuosismo, e meu pai queria me mostrar aquilo em outro mundo. Pirei justamente na coisa estudada, que você falou. Depois viraria fã também de Paul Desmond, principalmente pelos seus trabalhos ao lado de Jim Hall, gosta?

A minha iniciação no jazz veio através justamente de meu pai, que sempre escutou. Com ele me acostumei ao estilo e entrei de cabeça nessa coisa de comprar cds. Ele sempre comprou muito, desde os vinis. Hoje, não mais, prefere mesmo os arquivos de mp3. Sua coleção de LPs está aqui atrás de mim, numa estante, e é 100% jazzística. Ele nunca foi muito de música brasileira. Nem minha mãe. Aqui em casa a música sempre foi mais internacional que nacional. Dos poucos nacionais, lembro de um que marcou: As Canções Que Você Fez Pra Mim, da Bethânia cantando Roberto. Escuto sempre.

Mas voltando ao jazz, sinto que comecei mesmo a caminhar com as próprias pernas depois de Kind of Blue. Foi o álbum que me tirou de um mundo e levou a outro. Miles virou um desses do altar. E abriu as portas. Conheci pouco depois a música de Mingus, e ainda não tenho o que citou, embora saiba que é um de seus grandes discos, mas chego lá. Música requer paciência também, concorda? Ainda mais nesse mundo que, em questão de minutos, podemos downloadear a discografia de fulano. A oferta é muito grande e a melhor coisa, nesse caso, é saber que tem muita, mas muita coisa ainda pela frente. Penso assim.

Ao som de Bewitched, Bothered and Bewildered, com Paul Desmond e Jim Hall, farei uma pergunta inevitável: ainda compra cds?

E conte como começou no jás.

abraço,

Rodgers.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Fernandix, guerreiro,

Teria que pensar um pouco para fazer uma listinha dessas. O que me lembro, de cara, é do primeiro disco não infantil que ganhei: We Are the World. Sim, aquele dos artistas contra a fome na África, precursor desses festivais beneficentes que a gente vê por aí hoje. Puta sucesso na época. E, de alguma forma, um típico one hit wonder, já que nenhuma outra canção do disco vingou. Me lembro que a música tocou no rádio do carro onde estávamos eu, meu pai e minha irmã. E eu comecei a, digamos, cantar -- num embromation louco, já que eu conhecia a melodia, mas não sabia a letra. Até hoje não sei se meu pai ficou encantado ou com peninha. Mas o fato é que me deu o LP. O disco não vinha com a letra, e segui cantando no embromation. Rárá. Já o primeiro disco que comprei, com dinheirinho juntado de mesada, foi All the Best!, coletânea de hits do Paul McCartney. Acho que comecei bem.

Entre os discos de jazz, aí sim, acho mais fácil apontar os que me abriram a cabeça. Ou pelo menos os primeiros a me abrir a cabeça, os introdutórios. Kind of Blue, sem dúvida. Em uma matéria que fiz pra Piauí, acho que você leu, entrevistei rapidamente Jimmy Cobb, o baterista do álbum. Liguei para a casa dele, me atendeu uma mulher, que presumo ter sido a senhora Cobb. Gaguejante, perguntei se mr. Cobb estava em casa. Ele me atendeu gentilmente, e tivemos um papo curto. No final, perguntei para ele por que, entre tantos discos revolucionários de jazz, calhou de Kind of Blue ser o mais expressivo, o mais famoso. Ao que ele me respondeu: "Se eu soubesse a resposta pra isso, poderia morrer hoje." É o único disco que tenho em várias versões: o CD simples; o CD comemorativo de 50 anos com um documentário em DVD; e a caixa comemorativa de 50 anos do disco, com CD, fotos e até um vinil.

Bird and Diz, de Charlie Parker e Dizzy Gillespie, me apresentou para valer à energia do bebop, pelo que sou gratíssimo, porque acabou sendo a minha porta de entrada para todo o resto. At Newport 1956, o disco ao vivo de Duke Ellington no festival de Newport, me introduziu ao mundo do Duque (e das grandes orquestras) em um momento em que eu estava empenhado em devorar bebop -- isso sem falar no estupendo solo do saxofonista Paul Gonsalves, em Diminuendo and Crescendo in Blue, com seus 27 choruses. Time Out, de Dave Brubeck, me fez prestar mais atenção no lado estudado, mas nem por isso menos festivo do jazz. Empyrean Isles, de Herbie Hancock, por conta da faixa Cantaloupe Island, regravada em um hit hiperultramegaestourado pelo grupo US3, me fez ver que o jazz não é um "que", mas um "como". The Complete Ella Fitzgerald & Louis Armstrong, coletânea de tudo que ambos fizeram juntos na Verve, bem... é Louis e Ella, não preciso dizer mais nada. E há John Coltrane, com Giant Steps. E Billie Holiday, com Lady in Satin. E Charles Mingus, com Mingus Ah Hum -- que, enquanto escrevo, coloquei pra tocar no iPod, e Better Git It In Your Soul desce com toda a sua potência. Conhece, nêgo? Se não, conheça.

Qualquer dia conto como comecei a gostar de jazz. Agora, esta correspondência já se faz longa.

Bração (e vote consciente),

Rafaelix, carregador de menires.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Rafaellus,

A sua resposta para a Gadu foi realmente boa. Quase me convencendo. Logo eu, um fã de versões inusitadas. Aliás, um fã das versões, num modo geral, não sou dos puristas. Eu tive uma namorada, beatlemaníaca, que não podia ouvir uma versão para os fab four. Logo eles, que têm muita coisa revisitada por aí, em todos os estilos, de todas as formas, muitas ótimas. Marvin Gaye com Yesterday, Nina Simone com Here Comes the Sun, para ficar com duas, que vieram à mente, ao acaso.

Sim, Lucy Woodward bateu bem, muito bem. De início, aquela guitarrinha que abre Ragdoll é irresistível, assim como a ginga sexy de Lucy, que dá direção ao álbum. Mulheres que conseguem colocar esse charme no canto merecem atenção, e muito mais. Too Much to Live For também é ótima.

Isso de coisas da pré-adolescência, que continuam nos acompanhando, me leva a um dos últimos posts lá no Som Imaginário. Comecei a falar dos 15 álbuns que, de alguma forma, foram marcos na minha linha do tempo. O primeiro foi... Iron Maiden, lá em 97.

Já parou para pensar nos seus?

Não são os melhores, mas aqueles que marcam algo, marcam mudanças. Deixo aqui os meus, embaralhados, sem ordem de chegada.

Vamos lá, enquanto pensa por aí.

Milton Nascimento & Lô Borges, Clube da Esquina
João Gilberto, Chega de Saudade
Michael Jackson, Thriller
Metallica, Metallica (aka Black Album)
Iron Maiden, Fear of the Dark
Dream Theater, Awake
Nina Simone, High Priestess of Soul
Miles Davis, Kind of Blue
Rolling Stones, Exile on Main St
Led Zeppelin, Houses of the Holy
Peter Gabriel, So
Moacir Santos, Coisas
Queen, A Night at the Opera
The Beatles, Abbey Road
Pain of Salvation, The Perfect Element

Um abraço,

Fernão da Costa

sábado, 23 de outubro de 2010

Franz Ferdinand,

Não sei como seria um show da Amy. Mas pagaria para ver -- acho que seria apenas uma questão de, se ela descesse do palco, não ficar muito próximo, para não levar um murro nas fuças... O que me lembra Lauryn Hill, não pelo soco na cara, mas pelos shows erráticos que fez aqui no Brasil. Seu disco Miseducation of Lauryn Hill é ótimo, e eu sempre quis vê-la no palco. Da primeira vez que veio, há alguns anos, foi o caos: atraso inaceitável, postura basbaque, acessos de estrelismo. Por sorte, acabei não indo. Da segunda vez, este ano, quase fui, mas tive um imprevisto em cima da hora. Depois, soube que o show tinha sido menos pior, mas, ainda assim, muito ruim, com Lauryn fazendo um esforço gigantesco para fazer o que ela chamava de "cantar". Melhor ficar nos discos, em certos casos.

A sua pergunta sobre Maria Gadú é fácil de responder: vale tudo, sim. Desde que benfeito (horrível escrever isso pelo Novo Acordo Ortográfico...). Posso ser franco? Hoje, acho a versão que Maria Gadú fez para Baba a coisa mais interessante daquele disco. Antes uma Kelly Key melhorada do que um Milton Nascimento piorado -- que é o que provavelmente ela faria se regravasse Milton. Afinal, Ben L'Oncle Soul não pode gravar Barbie Girl, do Aqua? Maria Bethânia não pode gravar É o Amor, de Zezé di Camargo e Luciano?

Sobre as babas, não me entenda mal. Eu adoro muitas. Mas alguém, falando sobre comida, certa vez disse que aquilo que você gostou até a pré-adolescência vai continuar gostando até morrer. Acho que o mesmo vale para música. O que pra mim não desce são babas ouvidas depois que virei burro velho. No meu iPod, por exemplo, tem Duran Duran, tem até (céus!) Jon Secada!

Continuo ouvindo Lucy Woodward obsessivamente. Mas tive que comprar outro fone -- o que tinha, comprado numa loja da Apple, chique de doer, ficou com o áudio do lado esquerdo mudo. Maldito Steve Jobs e suas quinquilharias. E você, o que achou de Lucy?

Bom fim de semana,

Rafael, tartaruga ninja.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Professor,

Sim, o Maxwell é baba se comparado aos outros que estamos estudando. Na hora que coloquei no texto, atentei para o detalhe. Mas ele é ótimo. Mesmo. Eu tenho uma queda pelas coisas baba, admito, sempre tive, até o Bon Jovi toca no meu som. Mas antes de sair fora do Maxwell, pedirei só que escute duas músicas: Bad Habits e Phoenix Rise. Respectivamente, abertura e encerramento do último álbum. Na primeira, preste atenção em como a música evolui com os sopros e o arranjo. Mas sim, concordo, novamente, ele se aproxima de uma onda açucarada.

Como será um show da Amy hoje em dia? Não sei. Fico com um pé atrás. Mas tudo indica que teremos algo mesmo em janeiro. Ela já confirmou, parece. E o Mayer Hawthorne um tempo atrás colocou no twitter que vinha para o Brasil. Tudo aponta para um festival de soul. E seria um presente.

E ainda no soul tem o último do John Legend com auxílio luxuoso do grupo The Roots. Acabou de sair e tira o Legend de seus cds melosos e medianos para deixá-lo à vontade no território da black music com covers lado B. É o Get Up, confira. A banda The Roots tem pressão e o punch, que você disse faltar a Maxwell.

Aliás, essa coisa de baba, me lembrou de um episódio recente com Maria Gadu. Esbarrei com ela numa festa, já na madruga, e, depois de elogiar o disco de estreia, perguntei o motivo de gravar Baba Baby, da Kelly Key. Perguntei numa boa, mas acho que ela não gostou muito, claro. Ironicamente, a festa era na casa de Milton Nascimento, um daqueles gigantes...

E que é fã dela.

Kelly Key não dá. O que você acha? Vale de tudo nesse mundo?

Saludos,

Ferdinando

ps.: fico devendo uma lista dos pé-na cova. Por enquanto, Morricone e Lonnie Smith. Na verdade, acho que não foram muitos. Dos seus, queria muito ter visto Bacharach, Wayne Shorter e Aznavour.

ps.: vou atrás da cantora que indicou. Principalmente depois dessa descrição de jazzy, bluesy, sexy, broadway, trilha. Gosto de quando a coisa fica meio mega. Ali no limite.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Véio,

Não conheço Morricone como gostaria. Esse concerto dele aqui no Rio, não faz muito tempo, era um que eu gostaria de ter ido. Era a chance de conferir seu trabalho ao vivo, de ver o homem -- que não deve voltar ao Brasil. O mesmo vale para Paul McCartney, que, ao que tudo indica, vou perder, mesmo. Daqueles mitos que já passaram há muito dos 70, vieram ao Brasil e muito provavelmente não voltarão, fico feliz de ter visto alguns: Burt Bacharach, Charles Aznavour, B.B. King, Sonny Rollins, Wayne Shorter, Kurt Masur... Até que a listinha não faz feio. Qual é a sua listinha dos pé-na-cova?

Maxwell eu já havia escutado uma coisa ou outra, e não havia me fisgado. Sei lá, me soava como um Andrew Lloyd Webber da black music. Lendo a sua correspondência, fui atrás dele no YouTube, e meio que confirmei minhas primeiras impressões. É baba demais pros meus ouvidos. O cara é quase um branco! Não digo que não tenha talento. É um problema de repertório, na minha opinião. Será que estou ouvindo as faixas certas? Falta punch. Sharon Jones é outro naipe, tem aquela coisa negroide que pulsa. Assim como Amy Winehouse, uma das melhores coisas que a música pop revelou nos últimos anos. Se estragou horrores, é difícil ver uma carreira a ser seguida ali (só se a carreira for de pó...). Mas quem sabe? Parece que ela vem ao Brasil em janeiro. Soube, de fonte altamente fidedigna, que viria com Mayer Hawthorne.

Baixei hoje Lucy Woodward, cantora. Não conhecia nada. Está em seu terceiro disco, Hooked!, o primeiro pela Verve -- o que é, por si só, um sinal de qualidade, considerando a gravadora que é. Foi este que eu dounloudeei. Não escutei seus primeiros discos, mas parece, pelo que li, que seguiam numa seara mais pop. O que sei é que este desce que é uma beleza. Tem uma coisa meio jazzy, meio musical da Broadway, meio cabaré, meio bluesy, meio sexy (procure a capa para ter uma noção), meio trilha sonora, sem parecer esquizofrênico, manja? Ragdoll, a primeira faixa, que toca neste momento nos fones, me pegou de jeito. Além do que, a moça é uma graça. Look for Lucy e diga-me o que acha. Dá pra escutar tudo no site oficial dela.

Fui,

Tex-Mex

PS: maneiríssimo o livro do Dahmer. Valeu mesmo.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Boyle,

Uma pena ter perdido a Jazz Orchestra na última segunda-feira. Meu pai ligou dizendo que havia sido uma apresentação ótima e até melhor que o Mayfield, mas aí é coisa de quem acaba de sair de um show, ainda na vibe, você sabe, dê um desconto. Aproveitando: vou registrar aqui a constante busca - ainda sem sucesso - pela composição de Irvin Mayfield para o pai, que vimos no Municipal. Não há como não ter aquela música em casa, no ipod, no celular, onde for. Sem registro dela, não dá pra ficar. Quem achar, avisa.

Já ouvi falar muito dessa trilha de Miles, não tenho, mas me lembrou uma que gosto muito - composta também por ele, em parceria com o Marcus Miller -, a de Siesta, filme de 87, que nem vi, mas achei o LP num desse sebos e bateu bem, viajante. O mundo das trilhas me fascina, vou te dizer, sobretudo, aquelas grandiosas, orquestradas...

Ennio Morricone é um dos que está no meu santuário. Quando lembro do concerto no Municipal uns anos atrás, parece mentira. Foi num festival chamado Música em Cena, que não vi outras edições acontecerem, o que é uma pena, pois tinha uma proposta muito interessante, de filme + música. Mas Ennio é grande, daqueles gennios. Ontem mesmo vi, pela décima vez, Era Uma Vez no Oeste, obra-prima de Sergio Leone, que tem pérolas muito inspiradas por Ennio.

Ah... o novo soul, estamos ficando escolados. Meu tocador - não, sem iPod, ainda não colaboro com a receita de Steve Jobs - também está negro. Mayer Hawthorne, Raphael Saadiq, Ben L'Oncle Soul, estamos juntos nesse grande elenco. Fui atrás da sua dica do Aloe Blacc e, meu caro, gostei muito. Está soando muito bem. I Need a Dollar é de deixar no repeat - você também tem essa mania?

Na mesma praia, ando ouvindo Sharon Jones & The Dap Kings. Uma super cantora de soul, já com seus 50 e poucos anos, mas que foi descoberta há pouco tempo. A banda dela foi emprestada para o Back to Black, de Amy. Vale. Outro que sempre ouvi é o Maxwell. O primeiro álbum, Urban Hang Suite, é espetacular, rebobina aquela coisa Marvin Gaye com muita classe.

Vá atrás de Maxwell, veja o que esse cara faz com a voz em seu MTV Unplugged. O último, da volta dele pro mercado, Black Summer's Night, também é imperdível. Assim como os outros, valoriza muito a coisa da voz, do canto, como você tem destacado. Eu, baixista que já fui um dia - hoje os instrumentos são mais decorativos -, sempre tive uma queda fortíssima pela black music.

Grande abraço,

J Brown

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Nobre,

Cats foi chato. Huumm... Me corrijo: Cats é chato. Acho que esgotei minha cota de Andrew Lloyd Webber. Quando vi O Fantasma da Ópera, anos atrás, achei um barato, grandioso, magnânimo e tals. Hoje, com alguns musicais nas costas (não muitos, hein!), relembro e a única coisa que me inspira é um bocejo. No caso de Cats, é uma pena, porque é muito talento direcionado para uma coisa... chata. O elenco canta e dança que é uma barbaridade. A direção de cena é impecável, o cenário é luxuoso, a iluminação é precisa. O que não funciona é o que antecede tudo isso, ou seja... Andrew Lloyd Webber. A história é inexistente, as músicas são banais. Pfui... Mas, o que se há de fazer?, o musical está em cartaz há quase 30 anos. Alguém vai me apedrejar já, já, por dizer essas barbaridades. Miau!

Jazz Orchestra of the Concertgebouw foi ducaralho, com todo o ensemble que faltou a Irvin Mayfield (questão de estilo, não de melhor ou pior). Tocaram até Ivan Lins no bis. Pena que você não pôde ir.

Você me pergunta sobre trilhas de filmes. Não sou um pesquisador, não conheço nada a fundo -- o que é uma pena, porque há compositores soberbos nesta área --, mas gosto de algumas coisas. Uma grande trilha que roda de vez em quando no iPod é a de Ascensor para o Cadafalso, ótimo suspense de Louis Malle. A música é de Miles Davis, que a gravou com músicos franceses e com o baterista Kenny Clarke. Mas a que roda mais é a de A Firma, outro bom suspense, estrelado por Tom Cruise (talvez o último realmente bom filme feito por ele). O disco intercala músicas incidentais (dispensáveis) com faixas apenas com o piano de Dave Grusin.

Falei em iPod, e o meu anda negro como as asas da graúna. Ben L'Oncle Soul, que você me apresentou, rola sempre. Raphael Saadiq, Mayer Hawthorne também. Na semana passada, descobri Aloe Blacc. Manja? Segue na linha dos citados, bebendo forte nos heróis do soul e do rhythm and blues. Me fisgou, embora não saiba se na mesma medida que L'Oncle Soul, por exemplo. O que me chama a atenção, independentemente disso, é a onda vintage em que esses caras surfam -- inclusive nos vídeos, busque algo do Aloe Blacc no Youtube para entender o que estou dizendo. A música negra americana chegou a uma encruzilhada nos últimos anos em que o caminho era fazer babas de amor que matariam qualquer diabético ou fazer cara de mau, deixar o elástico da cueca aparecendo e recitar proibidões. Pombas, esses caras, L'Oncle Soul, Saadiq, Hawthorne, Blacc, todos eles cantam! Sabe lá o que é isso, hoje em dia?

Susan Boyle te manda um beijo,

Rafael, candidato ao America's Got Talent

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Comandante,

Macca garantido, ainda bem. Será histórico.

Usar sensacional para Lloyd Webber pode ser um reflexo do meu perfil iniciante no mundo dos musicais. Ok, ficamos com o muito legal. Sim, é farofa, é brega, All I Ask of You é a confirmação disso. Conheço Stephen Sondheim apenas de nome, mas vou atrás.

Vamos lá, o Air é um dup pop francês com pé no eletrônico, nas viagens progressivas do passado, nas trilhas sonoras e até em algo... new age. É interessante, é envolvente. Tem a coisa da música de clima, que traz algo mais viajante mesmo, fica no ar. Por enquanto estou no Moon Safari, de 98, o mais badalado deles, e no Talkie Walkie, de 2004, disco que tem a pérola que citei na carta anterior, Alone in Kyoto, que foi trilha de Encontros e Desencontros, filme com Bill Murray e a - bela - Scarlett Johansson.

Como foi Cats?

Você perguntou dos musicais e agora é minha vez: e as trilhas de filmes?

Grande abraço,

Ferdinando

ps.: acabo de pescar um recado, na caixa postal do celular, de meu pai dizendo que está com ingressos para Jazz Orchestra of Concertgebouw, hoje.

sábado, 16 de outubro de 2010

Queridão,

Já gostei mais de Maria Gadú. Mas o excesso de exposição lhe foi pernicioso. E logo com Shimabalaiê, que é a música mais sem graça do disco. Lembro-me que isso aconteceu com Sozinho, composição de Peninha cantada por... Caetano Veloso (e eis que voltamos ao homem!). Era ligar o rádio e: "Às vezes no silêncio da noite..." Abrir a geladeira e: "... eu fico imaginando nós dois..." Tirar o telefone do gancho e: "... eu fico ali sonhando acordado..." Aaaaaaaaarrrrgh. Não há apreço pela música que resista a isso. Comecei a pegar uma certa birra que se estendeu para o resto do disco. Nunca mais escutei. Talvez seja um bom momento de soprar a poeira do disquinho e colocar pra rodar. Quanto às comparações com Cássia, hum... há uma semelhança, mas eu não diria que há um parentesco. É tão semelhante quanto, sei lá, Capital Inicial e Barão Vermelho podem ser semelhantes. A verdade é que nego começa a traçar paralelos porque as duas põem (no caso de Cássia, punha, no passado) banca de homenzinho.

Respondendo à sua pergunta rapidamente: não conheço nada de Air. O que me diz?

Conheci The Bad Plus num show no (lamentavelmente) extinto Mistura Fina. Dei a sorte de vê-los duas vezes: uma em sua formação tradicional, apenas com Reid Anderson (baixo), Ethan Iverson (piano) e David King (bateria), e outra com a adição de uma cantora muito peculiar, Wendy Lewis. Recomendo a audição, mas aviso logo: não é música para colocar para tocar e sair para cozinhar ou para ler jornal. Ponha para tocar alto e deite no chão. Ou meta um fone nas orelhas. Comece por Prog, disco que tem covers de Everybody Wants to Rule the World, do Tears for Fears, Life on Mars?, do David Bowie, e Tom Sawyer, do... Rush, de que você tanto gosta. Passe para For All I Care, o álbum no qual eles contam com a participação de Wendy Lewis. Atenção para a altamente lisérgica versão de Confortably Numb, do Pink Floyd. Desculpe se cito apenas os covers. Mas é a melhor maneira de ser fisgado para o mundo do The Bad Plus, para suas composições próprias. Aliás, vejo no site oficial que eles estão lançando o primeiro disco só com músicas originais. Ueba.

Do biscoito fino do experimentalismo para Andrew Lloyd Webber, que, sinto discordar, não é sensacional. É a farofa da Broadway, o Bon Jovi dos musicais. O que não significa que não possa ser legal. Pode, e muito. O Fantasma da Ópera é legal. Mas sensacional é um adjetivo que eu reservaria a Stephen Sondheim, por exemplo. Você viu Gypsy? Se não, e se estiver em São Paulo nos próximos dias, vá ver. Se não estiver em São Paulo, baixe a trilha sonora de uma das versões estrangeiras. Escute Rosie's Turn, a apoteótica música que encerra o espetáculo. E depois conversamos.

Ainda falando sobre musicais, na semana passada bateu na minha caixa de e-mails o release de Hair, nova produção de Charles Möeller e Claudio Botelho. Estreia dia 5. Estou ansiosíssimo para ouvir "this is the dawning of the age of Aquarius, the age of aquariuuuuuuuuus!" O que esses caras fizeram pelos musicais no Brasil não tem preço. Soube que Botelho fez, ao mesmo tempo (!), as versões de Hair e de Mamma Mia!, que vai estrear em São Paulo. É muito peito. E o pior (melhor, na verdade) é que provavelmente saiu bom. É o melhor versionista em atividade hoje no país. Poderia ser cabotino e dizer que falta concorrência, aí é fácil, mas acho que ele seria mesmo com mais gente no ramo.

Hoje verei Cats. Na segunda, verei os holandeses da Jazz Orchestra of the Concertgebouw. Trago impressões.

Garantiu seu ingresso pro Macca? Eu perdi.

Bração,