terça-feira, 26 de abril de 2011

Brôu,

Então, acho que vou começar pelo Automatic for the People e depois te falo. Bacana ler sobre sua relação com a banda. Na verdade, eu não imaginava, pois quando te conheci, você veio com aquela coisa de jazz/mpb na ficha, sabe? Não pensei que chegaríamos assim no REM. Bacana, abriu meus olhos - e ouvidos - para o som. E aproveitando a época, deixa só eu fazer um adendo à história do U2. Sei que já encerrei o assunto na correspondência anterior, mas é que voltei a ouvir e, sim, há uma virada de mesa maior - como você disse - no Achtung Baby, que voltei a visitar esses dias. Talvez a maior delas, definitiva, sem dúvida. Mas encaro como uma terceira fase, já que antes eles tinham saído do post-punk para fazer aquela coisa com a música americana, que deu no Rattle and Hum.

Que coisa Lorez Alexandria, não? E que nome bonito, vale dizer. Ótimo saber que ela teve esse acompanhamento de luxo, o que melhora ainda mais aquilo que já estava excelente. Tivesse eu um top charts desses, ela estaria subindo e deixando uma turma para trás. Bateu. Em breve vou pedir o Alexandria The Great na Amazon. Tem mesmo um quê de Ella com doses de soul. Meio que me apaixonei pela mulher, de primeira. E acho que vai durar.

Minha semana foi corrida e essa carta será reflexo disso. Revezei um Achtung Baby, no tocador de mp3, com um Ennio Morricone, no som de casa. Um na rua, de dia, outro em casa, à noite. Comecei a abrir os disquinhos que vêm no box do Ennio que trouxe lá de Roma. Hoje, enquanto estava nos afazeres matinais, soltei um dos cds no player e fui fisgado pelo tema do filme A Lenda do Pianista do Mar. Já assistiu? Direção do Giuseppe Tornatore, parceraço de Ennio em outros como o clássico Cinema Paradiso e o mais recentemente Baaria, que tem uma trilha impecável também.

Voltando ao tema do filme, Ennio é mestre, como ninguém. Ele fala com o coração, diretamente - pelo menos com o meu. Está no meu top 3 de compositores e brigando pela medalha de ouro. Nesse tema, ele começa prendendo a harmonia e dando pistas da melodia principal, até que ela entra, calma. Em determinado momento da música, é como se ele prendesse tudo. A coisa fica tensa, angustiante, até a glória. Ele liberta a música com o arranjo da orquestra completa executando o tema principal com a harmonia já acompanhando. É de chorar.

Você escuta coisa orquestrada? Seja uma trilha ou compositores clássicos mesmo. Tens esse hábito? Além do box do Ennio, eu trouxe um cd com temas do Nino Rota e outro com a 5a Sinfonia de Mahler.

Fico por aqui, ao som de Jamiroquai. Estou terminando uma seleção de mp3 que levarei para Itaipava no final de semana. O descanso chama, a rotina está intensa.

Na próxima carta volto com a filha do Martinho. Não deu tempo de pegar.

Um abração,

Nóimaier

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Parceiro,

Como a maior parte dos ouvintes na minha faixa de idade, fui fisgado pelo R.E.M. com o álbum Out of Time, de 1991 -- sim, aquele de Losing my Religion e Shiny Happy People. Na verdade, o que me capturou primeiro, você pode imaginar, não foi nem o disco, mas os clipes. Vivíamos ainda nos primórdios da MTV, numa estranha época em que o canal só passava... videoclipes! Très exotique... Lembro-me do início do vídeo, com a jarra de leite caindo no chão, de Stipe fazendo sua dancinha, de Buck tocando seu bandolim, das referências a Tarkovsky e a Caravaggio (reveja o clipe e procure pelo quadro A Incredulidade de São Tomé no Google) que só viria a entender depois, mas já me impressionavam. Depois veio aquele clipe solar de Shiny Happy People, a música renegada, a Anna Julia do R.E.M., aquela que a banda nunca mais tocou. Ainda me lembro do velhinho na bicicleta fazendo o cenário rodar, Stipe mais uma vez com suas dancinhas e com um ridículo boné amarelo e, last but not least, fazendo backing vocal, Kate Pierson, do B52's, que eu achava mó gostosa. Comprei o disco numa viagem ao exterior, e fui contaminado.

Automatic for the People, a obra-prima de 1992, sedimentou a minha admiração pela banda. A partir daí, enquanto os discos se sucediam, eu curtia na MTV e nas festinhas os hits mais antigos -- tipo It's the End of the World as We Know It (And I Feel Fine), Pop Song 89 e Orange Crush. Alguns discos, como New Adventures in Hi-Fi, hoje eu vejo como bons vinhos de guarda: melhoraram com o tempo. Depois do um tanto menosprezado Reveal, de 2001, eu me afastei um pouco da banda, e a má recepção dispensada a Around the Sun, de 2004, me empurrou ainda mais para fora do universo do R.E.M. Mas, apesar da minha indiferença ao que a banda andava fazendo no presente, os álbuns antigos, pré-Out of Time, que fincaram as bases do que hoje a gente entende por cena indie, já frequentavam meu iPod àquela altura. Há três anos, veio o excelente Accelerate e eu fiz as pazes de vez com Stipe e companhia. O show desta mesma turnê que os caras fizeram no Brasil foi um dos grandes da minha vida.

Lorez Alexandria é ó-te-ma. Tem um quê de Ella, acho, mas soa mais soul music, às vezes (procure por Baltimore Oriole no YouTube para sacar o que estou dizendo). Este disco que você recomendou, Alexandria the Great (trocadilho com Alexandre, o Grande), afora o repertório infalível, tem nada mais nada menos do que Paul Chambers, Jimmy Cobb e Wynton Kelly, três músicos que tocaram em Kind of Blue. A flauta é de Bud Shank, que eu tive a oportunidade de ver no extinto Mistura Fina, ainda na Lagoa, tocando com João Donato. Tem mais gente, mas só esses caras já valem o disco. Valeu a dica.

Ontem e hoje, andei escutando a recém-lançada coletânea comemorativa de Sergio Mendes, disco duplo celebrando seus 50 anos de carreira e 70 de vida. Ouvindo os dois CDs, em que as músicas estão dispostas mais ou menos em ordem cronológica, dá para ter uma ideia mais ampla da trajetória do cara -- e, para mim, confirmou-se aquilo que eu já achava: o melhor Sergio Mendes ainda é aquele que gravou com o Brasil '66. Dá até uma certa tristeza ver que ele se rendeu à pasteurização dos Black Eyed Peas da vida...

E Maíra, escutou?

Abração, feliz Páscoa,

R.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Fala, Rafa,

Então, chega de U2, né? Nem sei também de onde veio essa minha coisa com eles, mesmo que sempre tenha admirado. Acho que é uma lua-de-mel depois de ver o U2 3D e ficar amarradão na coisa mega. Sim, concordo, acho que isso é parte do que o U2 é -- o 3D, o Bono e suas boas ações bla bla bla. Só discordo quanto ao disco da virada ser o Achtung. Acho que o jogo começou a mudar mesmo no Joshua Tree, mas vamos em frente. E concordo que o último disco com canções de apelo foi All That You Can't Leave Behind.

Você fala de Keith Jarrett e também não conheço nada. Sei apenas que o disco Köln Concert é considerado um clássico dos clássicos. No mais: aquela viagem dele no show do Miles, na Ilha de Wight, é fantástica. Ele detona, entra num transe. Agora, vamos lá, eu li sobre o show no Segundo Caderno e essa coisa de ser SÓ o piano me assusta um pouco, ainda. Não sei se estou preparado. Como em um ritual de passagem. Assim como não estava para o Mehldau, que Jarrett esculhamba, sem ética, na matéria. Você viu?

Fosse o concerto em um formato de trio, eu teria me animado. É aquela coisa: ou você entra no modus operandi dele ou achará uma coisa insuportável. Fiquei em casa para evitar uma possível primeira impressão equivocada, pois sei que o cara é um monstro. Imagino que tenha sido mesmo emocionante para quem embarcou, como você disse.

Roxette é legal, aquele pop bem embalado. Seria bom ver um show no melhor esquema greatest hits.

O BMW vem aí! A turma que está puxando o festival dispensa comentários. E ainda descobri dois artistas no line-up do festival que me fisgaram. Primeiro, Tord Gustavsen, pianista norueguês, que vem com o seu trio. Escutei coisas soltas no youtube -- o novo rádio -- e fiquei maravilhado. É de uma calma, de um lirismo que me conquistou. O outro é o francês Renaud Garcia-Fons, que toca um contrabaixo de cinco cordas, algumas vezes com arco, e mistura seu jazz com flamenco, música latina e erudita. Ótimas surpresas. Não deixe de catar.

Marcus Miller é um dos meus heróis.

Ontem, nessas andanças pela web, descobri Lorez Alexandria, cantora norte-americana, que gravou regularmente entre 57 e 64, quando lançou seu mais expressivo álbum, Lorez Alexandria The Great, pela Impulse. Nesse disco, um repertório que não tem como dar errado: My One and Only Love, Over The Rainbow, Satin Doll, I've Grown Accostumated to His Face... Ela só voltou a gravar em 77 e acho que isso foi determinante para o seu esquecimento. Na verdade, pouco conheço ainda, apenas li algo na wikipedia e allmusic.

Vamos fazer essa troca. Lorez Alexandria pela filha do Martinho, e falamos na sequência.

O que dizer de Collapse Into Now? Um discaço, com ingredientes do que o REM sempre foi, imagino. Estão lá os (ótimos) rocks mais urgentes e as baladas com aqueles bandolins no fundo e a voz -- que voz! -- de Michael Stipe. Essa segunda leva é o que fez minha cabeça, na verdade. Programo no repeat UBerlin, Oh My Heart, It Happened Today, Every Day is Yours to Win e Walk it Back.

Sim, deu vontade de ir atrás dos outros. Tem algo ali. E o pior é que sempre me perguntei: como podem gostar tanto de REM?

Juro.

Vou nessa, feriado taí, vou pegar uns dias em Itaipava.

Abração e cuidado com os chocolates,

Constanza

domingo, 17 de abril de 2011

Neuma,

U2 é bacana (o.k., é mais do que simplesmente "bacana", reconheço), mas nunca me mobilizou, sabe? Para você ter uma ideia, esse show em São Paulo não me deu nem uma coceirinha de vontade de ir. Sei lá, acho que ficou no tempo em que eu via MTV. Há quanto tempo não coloco um disco do U2 pra tocar, ou mesmo há quanto tempo não toca no meu iPod? Nem sei. 

Essa história de "renovação", que você mencionou, é que acho meio relativa. Salvo engano, a única vez em que os caras realmente se renovaram -- e que deu certo -- foi em Achtung Baby, de 1991. Vinte anos atrás, pô! Zooropa, de 93, é diferente do U2 dos anos 80, certo, mas segue a mesma linha de Achtung, o disco anterior -- ou seja, não vale chamar de renovação, né? Ademais, quem, além dos fãs mais arraigados, é capaz de citar de cabeça uma única música de Zooropa? Em Pop, de 1997, arriscaram outra guinada, mas deram com os burros n'água. Terminada a década de 90, os caras voltaram às raízes...

O último bom disco que fizeram, daqueles com músicas impregnantes, foi mesmo All That You Can't Leave Behind, de 2000. Mas, veja, é apenas um disco do... U2. Não dá pra dizer que eles se renovaram ali. How to Dismantle an Atomic Bomb e este último, No Line on the Horizon, também são discos de U2. Não que isso seja ruim, necessariamente. Acho que Bono e sua turma conseguiram a façanha de se manter no topo, sim, mas muito graças a todo o interesse midiático em torno desses shows über, show em 3-D, show pirotécnico, com odorama... E não dá para negar que a banda vai a reboque do carisma de Bono, com suas múltiplas participações em outros projetos e sua atuação em temas políticos.

Mudando de assunto, fui ver Keith Jarrett. Envergonhadamente, confesso que não conhecia quase nada do cara, e menos ainda de seus concertos solo. Saí maravilhado do Municipal. A relação simbiótica com o piano, a capacidade de fazer música instantaneamente, a entrega a cada nota , o respeito pela música... foi tudo emocionante. O modus operandi, você já deve ter lido a respeito, é sempre o mesmo: o cara senta no banquinho, abaixa a cabeça como se articulasse alguma coisa mentalmente (ou recebesse uma iluminação divina) e, de repente, começa a dedilhar no improviso, muitas vezes criando música ali, na hora.

Ontem, numa outra linha, fui ver Roxette (de Jarrett a Roxette, como sou eclético, não?). Achei que fosse me divertir mais, talvez tenham faltado alguns hits. Saí quando o bis rumava para o fim, no meio de The Look. Até aquele momento, não tinham tocado June Afternoon e, pecado dos pecados, Crash! Boom! Bang! -- que considero boa para além dos padrões Roxette. Marie já não tem mais aquela voz de outros tempos, se poupa escancaradamente nos agudos, mas não dá nem para culpar uma pessoa que teve um tumor seríssimo no cérebro. Gessle, em compensação, segura a onda como um garoto.

Andei ouvindo em casa o disco de estreia de Maíra Freitas, filha de Martinho da Vila, pianista clássica que enveredou pelo popular. Gostei, principalmente porque seria cômodo gravar um disco de covers, reverente ao samba e à MPB, mas ela preferiu inovar, mas sem experimentalismos vazios, sempre valorizando a música. O Show Tem que Continuar, segunda faixa (depois de um belíssimo piano solo em O Vôo da Mosca, de Jacob do Bandolim) é um exemplo típico: de cara, muitos talvez não reconheçam. Lá pelas tantas, dá o estalo e cai a ficha. Além disso, tem uma voz diferente, a moça. Dá uma catada.

Paul? Não comprei ingresso, mas talvez vá. Claro que iria de novo. Mas estou tranquilo se não rolar -- já vi uma vez na vida, já estou feliz.

Você me pergunta do BMW Jazz Festival, e eu respondo que, no que diz respeito a festivais, esta é a notícia mais feliz do ano até aqui. Wayne Shorter, Joshua Redman, Marcus Miller? Orkestra Rumpilezz?! Sharon Jones???!!! Salve Monique Gardenberg... Estarei em São Paulo, para conferir o que não vier para o Rio.

Mas me fala mais do que você achou do R.E.M. Acho legal saber a opinião de um recém-fisgado pela banda. Se animou de procurar os discos mais antigos?

Domingão, eu com tempo livre e acabei escrevendo demais. Chega.

Abraço,

Tex

quarta-feira, 6 de abril de 2011

R,

Eu peço desculpas agora pela demora. A semana pegou também. Muito trabalho, mas isso é bom, né?

Bacana que baixou o Mondo Cane. Sim, tem o fator Faith no More cantando clássicos italianos, mas sabe que gostei bastante? O álbum é bonito, com arranjos pomposos, que gosto, e um toque levemente cafona, que também bate bem. Ore d'Amore é para cantar no chuveiro, soltando a voz. Mike Patton arrebenta nessa. Aliás, ele vem para o Rock in Rio com o projeto, no mesmo dia que Milton Nascimento e Esperanza se encontram no Palco Sunset.

Eu entendo perfeitamente o seu ponto sobre os solos. Sinto muita falta disso também quando escuto esses da nova geração. Só vejo solos brilhantes nos dvds ou em vídeos ao vivo no youtube. É uma pena que a música esteja assim numa edit version constante. E não só no jazz, também sinto isso no rock. Tem gente que comemora um cd de rock sem solo, pois isso seria um ato de muita pretensão do guitarrista. Acredito que é coisa que vem da filosofia punk, que não toca por aqui. Quando colocam um arranjo de cordas, então, sai de baixo.

Vale destacar que Madness of Love é ótima, mesmo com os solos curtos.

Sobre as divas, Nina e Ella reinam lá em casa. Billie ainda conheço pouco, preciso ir mais a fundo. Recomenda algo em especial? Já Sarah me deixou um pouco incomodado com a coisa do scat singing constante em um video anos atrás e não voltei (ainda). Aliás, mesmo o scat da Ella demorou para me fisgar. Primeiro fiquei encantado pela Ella da canção.

No fim de semana passado fui ver U2 3D. Chegou a assistir? Gostei muito. Saí gostando mais de Bono e cia, que sempre acompanhei naquela coisa hits e dvds daqueles shows mega. A experiência de ver um show daquele porte num registro 3D de primeira categoria foi inédita. E muito boa. O som do cinema lá em cima. E gosto de onde o U2 chegou. A trajetória deles é interessante. Não conheço os discos a fundo, mas tem algo na história deles que me puxa pra perto - talvez isso de se renovar para se manter sempre no topo.

Paul vem. Vai de segunda dose? Eu vou tentar. Vale, não?

Fico por aqui, ao som de... Foo Fighters. Penso como Dave Grohl conseguiu deixar o Nirvana para trás - digo o peso da banda - e fazer uma segunda história com outro grupo. São poucos casos na música que conseguem deixar o "ex-algo" de lado.

E o BMW Jazz Festival com essa turma de peso?

Grande abraço,

F

ps.: ah, o novo do REM é ótimo!