sábado, 25 de dezembro de 2010

Rapaz,

Jeneci vai ficar para o ano que vem. Tem uma fila de discos no plástico me aguardando. Mas gostei do que li a respeito no Som Imaginário. Espero que o efeito da alta expectativa não seja prejudicial à audição do disco...

Dito isso, vamos ao top 15 do ano, sem ordem de preferência, sem ordem cronológica, e misturando às vezes mais de um nome no mesmo tópico:

* Nova Orleans. Esta é bem pessoal, eu sei, mas não há como não mencionar. Foi neste ano que eu conheci a capital do jazz. E o Preservation Hall. E a Louisiana Music Factory. E o Vaughan's. E... e... e... a lista poderia continuar por muitas linhas. Pretendo voltar muitas vezes. E recomendo a quem quer que seja.

* A nova soul music. Com Cee-lo Green à frente, 2010 foi o ano em que Ben L'Oncle Soul, Mayer Hawthorne, Aloe Blacc, Fitz and the Tantrums e tutti quanti vieram bater na minha praia sonora. E bateram bem, todos eles. Janelle Monáe, como já disse algumas correspondências atrás, me soou meio superestimada, mas darei outra chance. Quem sabe ela não me fisga ao vivo, no show da Amy Winehouse, no ano que vem.

* Cantoras. Elas continuam se multiplicando feito coelhos, não? O ano, decerto, foi de Maria Gadú, com sua incessante Shimbalaiê, com seu disco ao vivo (mas ela não tem só UM disco de estúdio?), com sua turnê com Caetano... Mas, se é para escolher uma cantora nacional, fico com Tulipa e seu ótimo Efêmera. Outra cantora que me falou muito foi Roberta Sá com seu disco Quando o Canto É Reza, em homenagem a Roque Ferreira, acompanhada pelo Trio Madeira Brasil. Um disco elogiadíssimo, mas, infelizmente, pouco badalado -- creio que apenas por enquanto, já que a turnê do álbum deve começar no ano que vem. E Silvia Machete se mostrou amadurecida (sem deixar de ser divertida) em Extravaganza. Das gringas, Corinne Bailey Rae e Nellie McKay, com seu disco em homenagem a Doris Day.

* Dave Brubeck, sobre quem a gente pouco falou aqui, foi o aniversariante do ano, sem dúvida. Noventa anos ainda na ativa (comemorou no palco do Blue Note) não é para qualquer um. E li que os jovens estão redescobrindo seu eternamente atual Time Out, o que é maravilhoso. O disco andou rodando mais por aqui nos últimos meses, e ainda hoje, depois de tantas audições, me surpreendo. Ainda da série "resdescobertas do jazz": Bitches Brew, de Miles Davis, cuja edição comemorativa de 40 anos foi lançada recentemente no Brasil.

* O show-celebração do Paul McCartney. Li um texto do André Barcinski (procure no blog dele), em que ele criticava a nossa incapacidade de receber grandes shows, os preços impraticáveis, as multidões indo embora do estádio que nem manada em busca de um táxi improvável. E, pensando racionalmente, até concordo. Mas, bem, que se dane. Foi o show em que meus olhos lacrimejaram três vezes. Em tempo: li na rede que ele pode voltar em 2011.

* Turnês de reencontro ou de despedida. Sim, eu sei que tem um quê de caça-níqueis, mas valeu ter visto dois ótimos shows este ano: Simply Red dizendo tchau, com Mick Hucknall com completo domínio do palco e uma pusta banda, e Cranberries se reunindo, com Dolores O'Riordan reinando. Eu sei que é meio ridículo, mas queria ter visto o A-ha.

* Cariocas Empolgados. O esquema de cotas para trazer artistas pegou todo mundo de surpresa. A sensação que tenho é que todo mundo pensou: "Pombas, como ninguém teve essa ideia antes?" Para mim, particularmente, te tudo que os caras já conseguiram trazer para o Rio, só Mayer Hawthorne me interessa. Mas não importa: a iniciativa é estupenda, e mostra o que é possível fazer com criatividade e empenho.

* Modern Sound. Lamento profundamente o fechamento, pelo que ela representou para os amantes de música, aquela coisa do templo que você mencionou, as horas e horas perdidas garimpando algo que nem você mesmo sabe o que vai ser, as surpresas ao se deparar com pepitas importadas. Mas não posso deixar de concordar com os comentários que tenho lido nos blogs do ACM e do Jamari França: a loja, vamos combinar, tinha preços extorsivos (sim, eu sei que isso tem em parte a ver com a política das próprias gravadoras) e um atendimento que não primava exatamente pela simpatia. O fim da Modern Sound nada tem a ver com pirataria virtual, como muita gente já observou. Afinal, o frequentador da loja não é o típico downloader, não deixou de comprar seu Debussy ou seu Frank Sinatra porque encontrou de graça na internet, com qualidade pior. O que matou a loja foi a sua incapacidade de se adaptar aos novos tempos, em que um disco encomendado pela Amazon, com frete, sai mais barato do que um no balcão. Ou seja: é triste, mas era esperado.

* Jazz All Nights. Para os órfãos do Mistura Fina, foi um bálsamo. Irvin Mayfield e Preservation Hall Jazz Band foram os pontos altos de uma série que merece todos os aplausos (não vi Brad Mehldau). De lambuja, este ano ainda fui ao Bourbon Street Music Fest, em São Paulo, onde vi Trombone Shorty -- depois de vê-lo também no Rio, na curta edição carioca do evento que eles fizeram. Quem sabe em 2011 eles não vêm com tudo. A expectativa é a mesma para o Bridgestone Music Festival... O problema, como sempre, é: onde essa gente vai tocar?

* Charles Möeller e Claudio Botelho. Eu não me canso de falar sobre esses caras, que deram excelência ao teatro musical no Brasil. Gypsy e Hair, no mesmo ano, não é para qualquer um. Ah: a direção de É com Esse que Eu Vou é deles, apesar de não ser exatamente um musical da dupla. E Botelho, sabe-se lá como, ainda teve tempo de fazer as versões para Mamma Mia!, que estreou este ano em São Paulo.

* Caixas. O mercado de boxes de luxo, que já estava bom, aqueceu ainda mais de um ano para cá. Não vai salvar a lavoura da indústria, mas não é disso que se trata. Gal Costa, Legião Urbana, Beth Carvalho, Tim Maia e outros tantos ganharam as suas. Merecidamente. O "síndico", aliás, anda tocando por aqui. Foi o meu reencontro com músicas que eu conhecia espalhadas, mas não no conjunto de seus discos originais.

* I can see (hear?) dead people. Michael Jackson se tornou o morto mais rentável na lista da Forbes, e a caixa reunindo todos os seus clipes é um achado. O relançamento da discografia solo de John Lennon também veio bem a calhar, em homenagem aos seus 70 anos. Mas o fantasma que deveria ter sido mais incensado foi o de Ray Charles, que teve um disco ao vivo no Olympia, em Paris, lançado no início do ano, e um de pepitas inéditas no fim do ano. Este último, aliás, estupendo.

* Beijo Bandido, de Ney Matogrosso, láááá no início do ano, em janeiro, foi o grande show nacional de 2010. Com uma proposta inteiramente diferente, mais crua, o show de Zii e Zie, de Caetano Veloso, também me conquistou.

* Vida inteligente na música infantil. Partimpim 2, de Adriana Calcan... ops, Partimpim, e Música de Brinquedo, do Pato Fu, mostraram que é possível fazer música para crianças com qualidade. E, de quebra, geraram shows maravilhosos, especialmente o do Pato Fu, com bonecos do grupo Giramundo fazendo as vozes que, no disco, eram das crianças.

* Biscoitos finos do jazz. Não me lembro agora (e estou com preguiça de pesquisar) se o primeiríssimo disco da série Biscoito Internacional, da Biscoito Fino, foi lançado no fim de 2009 ou em 2010. O que sei, com certeza, é que o selo com foco em jazz deslanchou este ano, com Dizzy Gillespie, Duke Ellington, dois de Oscar Peterson, Ella Fitzgerald, Count Basie... Nos últimos meses do ano, tive a impressão de que deram uma diminuída nos lançamentos. Espero que seja só algo de momento, e que 2011 seja mais prolífico.

E os seus 15?

Em tempo: já caiu nas suas mãos o novo do Kanye West?

Ho, ho, ho,

R.

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