quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Saudações, Neumayer,

Não sei se foi uma bola fora esse show da Ivete nos istêites. Depende de quem você considera que chutou a bola. Deu falatório, matéria na imprensa. Muita matéria. Gerou -- como é que eles dizem, mesmo? -- mídia. Vai sair um DVD, se não me engano, que vai vender à beça, pode estar certo. Acho coerente com a trajetória da Ivete, a coroação de um percurso espetacular (no sentido de "espetáculo", de "espetaculoso", digamos assim -- os trios elétricos, as multidões, a adoração dos fãs, as campanhas publicitárias, a perseguição dos paparazzi, os shows com dezenas de trocas de figurino). Você fala em "reconhecimento quase forjado". Bem, talvez seja. A pergunta é: quem se importa? Certamente não aquelas milhares de pessoas que entupiram o lugar. Escreva o que eu vou dizer: o que será lembrado, no futuro, é que Ivete Sangalo está no panteão dos artistas brasileiros que se apresentaram no Madison Square Garden. No que diz respeito à manobra, foi perfeito.

Brad Mehldau deve ter sido soberbo, mas entendo o seu pai. Às vezes, um show simplesmente ótimo captura melhor do que um show soberbo. Não sei se é a questão do piano solo. Rufus Wainwright fez um show de piano solo arrebatador na Sala Cecíla Meireles em 2008. Acho que é uma questão de mood, como diriam os gringos.

Vitor Araujo, conheço pouco. Mas é talentoso, quem negará? Mas talvez -- ênfase no talvez -- seja o tal do soberbo que não me captura. Não sei. E talvez tenha se apegado ao personagem que criaram para ele, o prodígio adolescente do piano que toca de All Star no Municipal e mistura Villa-Lobos com Radiohead. Tenho uma certa birra com esses personagens que antecedem a música que fazem.

Racionalizei muito, não? Prometo que a próxima correspondência será mais visceral. Música é alma, pombas.

Hoje, verei Gotan Project. É só o que toca nas ruas de Buenos Aires, muito mais do que tango tradicional. Gosto à beça. Y usted?

Em tempo: entrevistei Ney Matogrosso, mas não posso contar muito antes que a matéria saia. Só digo o seguinte: o cara é magnético até no sofá, à paisana.

Bração,

Rafael, el tanguero

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