sábado, 9 de outubro de 2010

Neumayer, meu chapa, senta que lá vem história.

Gotan Project foi hipnotizante. O trio titular, você sabe, tem Philippe Cohen-Solal nas guitarras e programações, Eduardo Makaroff no violão e Christoph H. Mueller nas programações (Mueller, em alguns momentos, ficava brincando com um joystick de Nintendo Wii. Acho que era só onda, não servia para nada). Com eles no palco, um pianista, uma violinista, um bandoneonista e uma cantora lindíssima, que googando descobri ser Claudia Pannone, argentina. Procure. Afora mexer com a libido masculina, canta bem -- e, o mais importante, sua voz se encaixa na sonoridade do Gotan, se integra a ela, algo como o timbre de Dolores O'Riordan para o som do Cranberries (aliás, verei-os na próxima terça, mas isso é outra história).

Um telão no fundo exibia vídeos, muitas vezes entre o onírico e o surrealista. Em alguns momentos, as imagens interagiam brilhantemente com a música, como quando uma dupla de rappers no vídeo cantava, escoltados pelo som que vinha do palco. O visual, aliás, era duca, com luzes meio floydianas, como que se comunicando com a música, mas sem exageros, quase minimalistas. No fim, Claudia convocou a plateia a ficar de pé e se aproximar do palco para dançar (aquele momento em que quem pagou uma nota pela pista VIP, justamente para ter a melhor visibilidade, se emputece...). Foi atendida, e deram até um segundo bis.

Mas o que me impressionou mesmo foi Caetano Veloso, ontem, no último (e ótimo) show da turnê de zii e zie. Quando Caê virou Mick Jagger? Em que momento isso se deu? Ou será que ele sempre foi, e eu é que não percebi? O mundo devia estar lá ontem -- acho que só não tinha mais gente porque Bon Jovi e Dave Matthews Band tocavam no mesmo dia. Filas homéricas na porta. Noventa por cento gente por volta dos 35 anos, gente que ainda fazia cocô nas fraldas ou sequer era um projeto de ser humano quando Caetano perguntou, aos berros, se "é isso que é a juventude que quer tomar o poder".

Hoje, ele faz passinhos meio Beck e dancinhas meio Deborah Colker -- quem viu ele cantando Objeto Não Identificado sabe do que estou falando. Faz mash-up de Billie Jean e Eleanor Rigby. Toca para plateias que cantam, em altos brados, desde canções como Irene, absolutamente desconhecida e periférica na obra de Caetano, até Odeio, do último disco, quando ele se associou aos jovens Pedro Sá, Ricardo Dias Gomes e Marcelo Callado, passando pelos hits incontestáveis.

Isso não é uma crítica da minha parte. É uma constatação, apenas. Com todas as bobagens eventualmente proferidas, acho Caetano relevante pra cacete, na música e para além dela. Pode não ser o melhor. Mas talvez seja o mais relevante, entende? Há uma expectativa em torno do próximo disco de Caetano (qualquer que seja este próximo, estou falando também dos discos anteriores, quando eles então seriam os próximos), como creio não haver em torno de nenhum outro artista brasileiro. Me interessa saber o que ele faz ou o que ele acha. As pessoas querem saber. Nem que seja para falar mal e para dizer que Caetano é um idiota.

Certa vez, fui desafiado por um amigo a uma escolha aparentemente inviável: sob a mira de uma arma, quem você escolheria para ser eliminado da história da música brasileira? Chico Buarque ou Caetano Veloso? E você, Fernando Neumayer? Quem você escolheria? Porque aqui, com diziam naquele programa, o final... você decide.

Um abraço caetânico,

Yo.

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