quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Roqueiro,

Você provavelmente está aproveitando o feriado, e eu aqui trabalhando. Mas vamos lá.

Lamentei não ter visto Mayer Hawthorne, mas, como te disse, estava sem condições de encarar um show no Circo naquela sexta-feira. Semaninha dos infernos. Suas impressões me animaram -- tomara que ele volte.

Rock pauleira, posso dizer, nunca foi das minhas. Nem quando moleque. Minha influência roqueira vem do meu irmão mais velho, que seguia mais por uma linha Led Zeppelin, Rolling Stones, essa turma. Trash metal, heavy metal, death metal, esses metals todos, para mim é só barulho. E, como se não bastasse, barulho desagradável e alto. Respeito quem gosta, mas acho um porre inominável. Gosto, afinal, se discute.

Você diz que não tem nada do Ney Matogrosso, e eu te pergunto: nem do Secos & Molhados? O primeiro disco é daqueles cuja qualidade permanece acima de qualquer suspeita mesmo hoje, quase 40 anos depois do seu lançamento. Músicas, letras, arranjos, tudo. Você provavelmente conhece boa parte das músicas, mas, se não conhece o disco como um todo, corra atrás. Já a carreira individual de Ney, admito, foi uma descoberta tardia para mim. O que é até meio incompreensível, porque eu era fã de Secos & Molhados havia algum tempo, então seria natural que meu interesse já tivesse se ampliado também para o Ney solo. Bem, acontece. Hoje, recupero o tempo perdido com o prazer da descoberta. Comprei a caixa com seus 15 primeiros discos solo (mais um coletivo, dele com João Bosco e Caetano Veloso, além de um de raridades), e alguns ainda nem foram abertos. Estou indo com calma.

Oliver Sacks, talvez você saiba, é neurologista, um dos mais respeitados do mundo, e autor de livros como Tempo de Despertar, que inclusive virou filme. Neste Alucinações Musicais, ele relata casos ligados a música. Como o do cara que foi atingido por um raio, sobreviveu e passou a desenvolver uma crescente obsessão por música de piano, tão grande que o levou ao divórcio, tendo inclusive aprendido a tocar e composto algumas peças. Ou de pessoas que manifestam sintomas parecidos com o de um ataque epilético quando ouvem música. Ou de pacientes que têm delírios musicais, como se uma orquestra estivesse tocando ininterruptamente perto deles, com casos de crises horríveis de insônia por conta disso. Ainda não terminei o livro, mas o que li até aqui é interessantíssimo. Em um dos capítulos, ele fala sobre algo que já deve ter acontecido com você (eu diria que certamente já aconteceu com você): quando uma música fica martelando na sua cabeça ao longo de horas, dias, às vezes. No livro, ele chama isso de earworms ou brainworms (vermes de ouvido ou vermes de cérebro), e relata situações em que o sujeito ficou semanas a fio ouvindo a mesma música ecoando. Imagine isso com, sei lá, É o Tchan. O horror, o horror.

Abração,

Jazzman

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