sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Queridão,

Fiquei na função nos últimos dias, cobrindo a tragédia das chuvas na Região Serrana. Chocante, mas não surpreendente. Quem não adivinharia? Mas vamos falar de música, para aliviar um pouco o horror de tudo isso.

Vi, como você, a primeira apresentação de Amy Winehouse no Rio, a de segunda-feira. Por tudo que li, parece que a do dia seguinte foi melhor: um pouco mais longa, ela um pouco mais à vontade. Independentemente de comparações, o que vi eu adorei. Mas, claro, você sabe, as opiniões foram divididas. Reconheço que o show teve, digamos, características pouco comuns. A meu ver, porém, nada que possa ser usado como crítica.

Falaram que ela cantou por pouco tempo. Tenha santa paciência. Quem achava que veria um show de duas horas e meia, na boa, é mulher do padre. Disseram que ela não interagiu. Ora, pombas, isso é coisa de público brasileiro, que se ressente quando não o artista não fala em português tosco, não pede palminha, ou não canta um versinho e aponta o microfone pro público fazer coro com o verso seguinte. Reclamaram que ela foi embora sem dar tchau. Gente, isso é uma plateia de show ou a rainha da Inglaterra, para demandar tanta deferência?

O que vi foi uma cantora se comunicando à sua maneira com a plateia, sim, sorridente, sim. E autêntica, verdadeira, sem o blábláblá conceitual megaproduzido de Janelle (que não vi, cheguei atrasado). E -- o mais importante -- vi uma cantora. Quando ela decidia soltar a voz, percebia-se porque tanta gente a considera o que de melhor aconteceu na música pop nos últimos, sei lá, 20 anos. Foi antológico? Por um lado, não. Poderia ter sido melhor? Por um lado, sim. Mas faço minhas as palavras do Dapieve, em sua coluna de hoje no Globo: eu gostei de estar na presença daquele diamante louco. Reconheço a existência daquilo que as pessoas apontaram como problemas. Eu é que não vi nada disso como problemas. Que ela volte logo, ainda melhor.

Você falou em Lenine dias atrás, e eu não dei continuidade ao assunto -- o que faço agora. Gosto dessa coisa, na minha opinião, falsamente mais do mesmo dele, que você chama de "repetitivo" (entendo que você não falou com desprezo). Seu melhor disco ainda é o segundo, Olho de Peixe, em que ele tocou com o pandeirista Marcos Suzano, demolidor. É daqueles que você põe na primeira faixa e escuta até a última, sem pular nada.

Falando em Lenine, um de seus parceiraços, Pedro Luís, vai lançar CD solo, o primeiro. Ele que já gravou tanto com o Monobloco e com A Parede, agora se lança em voo solitário. Tenho boas expectativas.

Em casa, tem tocado o último ao vivo de Ney Matogrosso, da turnê Beijo Bandido (o CD. Ainda não coloquei o DVD). Vi o show no início do ano passado, e, já te disse, foi maravilhoso -- coloquei no balanço de 2010. Ney é do naipe de Caetano: eu sempre aguardo ansiosamente o seu próximo lançamento. No palco, então, é sempre arrebatador. Queria rever o show (está no Vivo Rio até amanhã), mas não vai rolar, infelizmente.

Vou passar Mayer Hawthorne. Tô cansado, não vou conseguir encarar um show no Circo. Me conte depois.

Em tempo: já te falei do livro do Oliver Sacks que estou lendo?

Bração,

Rafa

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