sexta-feira, 22 de abril de 2011

Parceiro,

Como a maior parte dos ouvintes na minha faixa de idade, fui fisgado pelo R.E.M. com o álbum Out of Time, de 1991 -- sim, aquele de Losing my Religion e Shiny Happy People. Na verdade, o que me capturou primeiro, você pode imaginar, não foi nem o disco, mas os clipes. Vivíamos ainda nos primórdios da MTV, numa estranha época em que o canal só passava... videoclipes! Très exotique... Lembro-me do início do vídeo, com a jarra de leite caindo no chão, de Stipe fazendo sua dancinha, de Buck tocando seu bandolim, das referências a Tarkovsky e a Caravaggio (reveja o clipe e procure pelo quadro A Incredulidade de São Tomé no Google) que só viria a entender depois, mas já me impressionavam. Depois veio aquele clipe solar de Shiny Happy People, a música renegada, a Anna Julia do R.E.M., aquela que a banda nunca mais tocou. Ainda me lembro do velhinho na bicicleta fazendo o cenário rodar, Stipe mais uma vez com suas dancinhas e com um ridículo boné amarelo e, last but not least, fazendo backing vocal, Kate Pierson, do B52's, que eu achava mó gostosa. Comprei o disco numa viagem ao exterior, e fui contaminado.

Automatic for the People, a obra-prima de 1992, sedimentou a minha admiração pela banda. A partir daí, enquanto os discos se sucediam, eu curtia na MTV e nas festinhas os hits mais antigos -- tipo It's the End of the World as We Know It (And I Feel Fine), Pop Song 89 e Orange Crush. Alguns discos, como New Adventures in Hi-Fi, hoje eu vejo como bons vinhos de guarda: melhoraram com o tempo. Depois do um tanto menosprezado Reveal, de 2001, eu me afastei um pouco da banda, e a má recepção dispensada a Around the Sun, de 2004, me empurrou ainda mais para fora do universo do R.E.M. Mas, apesar da minha indiferença ao que a banda andava fazendo no presente, os álbuns antigos, pré-Out of Time, que fincaram as bases do que hoje a gente entende por cena indie, já frequentavam meu iPod àquela altura. Há três anos, veio o excelente Accelerate e eu fiz as pazes de vez com Stipe e companhia. O show desta mesma turnê que os caras fizeram no Brasil foi um dos grandes da minha vida.

Lorez Alexandria é ó-te-ma. Tem um quê de Ella, acho, mas soa mais soul music, às vezes (procure por Baltimore Oriole no YouTube para sacar o que estou dizendo). Este disco que você recomendou, Alexandria the Great (trocadilho com Alexandre, o Grande), afora o repertório infalível, tem nada mais nada menos do que Paul Chambers, Jimmy Cobb e Wynton Kelly, três músicos que tocaram em Kind of Blue. A flauta é de Bud Shank, que eu tive a oportunidade de ver no extinto Mistura Fina, ainda na Lagoa, tocando com João Donato. Tem mais gente, mas só esses caras já valem o disco. Valeu a dica.

Ontem e hoje, andei escutando a recém-lançada coletânea comemorativa de Sergio Mendes, disco duplo celebrando seus 50 anos de carreira e 70 de vida. Ouvindo os dois CDs, em que as músicas estão dispostas mais ou menos em ordem cronológica, dá para ter uma ideia mais ampla da trajetória do cara -- e, para mim, confirmou-se aquilo que eu já achava: o melhor Sergio Mendes ainda é aquele que gravou com o Brasil '66. Dá até uma certa tristeza ver que ele se rendeu à pasteurização dos Black Eyed Peas da vida...

E Maíra, escutou?

Abração, feliz Páscoa,

R.

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