domingo, 17 de abril de 2011

Neuma,

U2 é bacana (o.k., é mais do que simplesmente "bacana", reconheço), mas nunca me mobilizou, sabe? Para você ter uma ideia, esse show em São Paulo não me deu nem uma coceirinha de vontade de ir. Sei lá, acho que ficou no tempo em que eu via MTV. Há quanto tempo não coloco um disco do U2 pra tocar, ou mesmo há quanto tempo não toca no meu iPod? Nem sei. 

Essa história de "renovação", que você mencionou, é que acho meio relativa. Salvo engano, a única vez em que os caras realmente se renovaram -- e que deu certo -- foi em Achtung Baby, de 1991. Vinte anos atrás, pô! Zooropa, de 93, é diferente do U2 dos anos 80, certo, mas segue a mesma linha de Achtung, o disco anterior -- ou seja, não vale chamar de renovação, né? Ademais, quem, além dos fãs mais arraigados, é capaz de citar de cabeça uma única música de Zooropa? Em Pop, de 1997, arriscaram outra guinada, mas deram com os burros n'água. Terminada a década de 90, os caras voltaram às raízes...

O último bom disco que fizeram, daqueles com músicas impregnantes, foi mesmo All That You Can't Leave Behind, de 2000. Mas, veja, é apenas um disco do... U2. Não dá pra dizer que eles se renovaram ali. How to Dismantle an Atomic Bomb e este último, No Line on the Horizon, também são discos de U2. Não que isso seja ruim, necessariamente. Acho que Bono e sua turma conseguiram a façanha de se manter no topo, sim, mas muito graças a todo o interesse midiático em torno desses shows über, show em 3-D, show pirotécnico, com odorama... E não dá para negar que a banda vai a reboque do carisma de Bono, com suas múltiplas participações em outros projetos e sua atuação em temas políticos.

Mudando de assunto, fui ver Keith Jarrett. Envergonhadamente, confesso que não conhecia quase nada do cara, e menos ainda de seus concertos solo. Saí maravilhado do Municipal. A relação simbiótica com o piano, a capacidade de fazer música instantaneamente, a entrega a cada nota , o respeito pela música... foi tudo emocionante. O modus operandi, você já deve ter lido a respeito, é sempre o mesmo: o cara senta no banquinho, abaixa a cabeça como se articulasse alguma coisa mentalmente (ou recebesse uma iluminação divina) e, de repente, começa a dedilhar no improviso, muitas vezes criando música ali, na hora.

Ontem, numa outra linha, fui ver Roxette (de Jarrett a Roxette, como sou eclético, não?). Achei que fosse me divertir mais, talvez tenham faltado alguns hits. Saí quando o bis rumava para o fim, no meio de The Look. Até aquele momento, não tinham tocado June Afternoon e, pecado dos pecados, Crash! Boom! Bang! -- que considero boa para além dos padrões Roxette. Marie já não tem mais aquela voz de outros tempos, se poupa escancaradamente nos agudos, mas não dá nem para culpar uma pessoa que teve um tumor seríssimo no cérebro. Gessle, em compensação, segura a onda como um garoto.

Andei ouvindo em casa o disco de estreia de Maíra Freitas, filha de Martinho da Vila, pianista clássica que enveredou pelo popular. Gostei, principalmente porque seria cômodo gravar um disco de covers, reverente ao samba e à MPB, mas ela preferiu inovar, mas sem experimentalismos vazios, sempre valorizando a música. O Show Tem que Continuar, segunda faixa (depois de um belíssimo piano solo em O Vôo da Mosca, de Jacob do Bandolim) é um exemplo típico: de cara, muitos talvez não reconheçam. Lá pelas tantas, dá o estalo e cai a ficha. Além disso, tem uma voz diferente, a moça. Dá uma catada.

Paul? Não comprei ingresso, mas talvez vá. Claro que iria de novo. Mas estou tranquilo se não rolar -- já vi uma vez na vida, já estou feliz.

Você me pergunta do BMW Jazz Festival, e eu respondo que, no que diz respeito a festivais, esta é a notícia mais feliz do ano até aqui. Wayne Shorter, Joshua Redman, Marcus Miller? Orkestra Rumpilezz?! Sharon Jones???!!! Salve Monique Gardenberg... Estarei em São Paulo, para conferir o que não vier para o Rio.

Mas me fala mais do que você achou do R.E.M. Acho legal saber a opinião de um recém-fisgado pela banda. Se animou de procurar os discos mais antigos?

Domingão, eu com tempo livre e acabei escrevendo demais. Chega.

Abraço,

Tex

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