sábado, 18 de junho de 2011

F.,

Direto ao ponto, desenvolvendo um pouco aquilo que falamos pessoalmente ou por Gtalk ao longo da semana: valeu muito a edição carioca do BMW Jazz Festival. Mas vamos por partes.

Na primeira noite, Joshua Redman se comunicou mais comigo -- e, a julgar pelas reações da plateia e pelo que li na imprensa, foi assim com a maioria. O baixista, Reuben Rogers, era de primeira linha, mas quem me chamou a atenção mesmo foi o baterista, Gregory Hutchinson, meio Art Blakey, guardadas as devidas proporções. Me agradou o formato enxuto, a seleção dos temas, indo de um certo orientalismo -- ouça de novo Ghost -- a um post-bop mais enérgico -- East of the Sun (And West of the Moon) --, os instrumentos se entrecruzando às vezes de maneira intrigante, com andamentos descolados, mas tudo muito atraente, irresistível, sem causar a menor rejeição. 

Rejeição, aliás, foi o que eu vi em boa parte do público durante a apresentação do Wayne Shorter. Hordas de pessoas indo embora. É aquilo que já te falei: ambos são letais em suas respectivas artes, mas enquanto Redman é um ninja, Shorter é um samurai. Exige adesão, entrega do público. Não é um cara que te pega pela mão. Quando embarquei na onda, percebi beleza genuína, uma expressividade original, uma imersão das mais profundas na música em seu sentido mais amplo. Mas, às vezes, apesar disso, os temas eram meio longos demais para mim, e confesso que perdi o fio da meada em alguns momentos. Não que eu ache que seja culpa do público, aquela reverência meio babaca de que "você está diante da arte mais sofisticada e não alcançou porque é um idiota". Comunicação é um exercício de parte a parte (o show de Marcus Miller, na noite seguinte, é prova incontestável disso). Mas há críticas que acho tolas. Por exemplo, aquela que diz que ele não sopra como antigamente. Pombas, o cara é um octogenário! Não deve correr, subir escada ou trepar como antigamente. Por que deveria soprar? Ouvi essa mesma bobagem depois de um show do Sonny Rollins, em idade igualmente avançada, numa das edições do finado TIM Festival. Dá vontade de bater.

No dia seguinte, Marcus Miller, que foi aquilo que todo mundo viu -- e vou deixar para você falar, já que, suspeito, deva ter sido o melhor show dos quatro, na sua opinião.

E Sharon Jones, avassaladora. Difícil comentar algo que já não tenha sido falado, mas devo dizer que eu achei ainda melhor do que esperava. Você disse que, mesmo tendo achado o show ótimo, te cansou um pouco a mesma fórmula repetida por duas horas. Entendo, mas não tive a mesma sensação. Pelo contrário, aceitaria mais algumas doses. Imagino que tenha sido porque assisti em pé, dançando, enquanto você estava na poltrona. Faz diferença. É um show dançante, acima de tudo -- o que foi dito pelo guitarrista ali na introdução, antes que a cantora entrasse no palco. Imagine aquilo no Circo Voador, num sábado à noite, todo mundo com uma cervejinha na mão. Deu pena da Amy, cara.

Depois disso tudo, quase esqueci da sua pergunta da carta passada, sobre o Queen. Sim, gosto -- já escutei bem mais, mas continuo gostando. Há quem não goste? Gente mais infeliz.

Bração,

R.

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