sábado, 12 de março de 2011

Fernando, meu filho, senta que esta é longa (ops!).

Enquanto você se divertia nas Ôropa, o mundo continuava rodando por aqui. A ordem cronológica dos fatos já me escapa, de modo que vou jogando as lembranças a esmo.

Me chegou uma edição "platinum" (sim, é assim que eles chamam) de Deleted Scenes From the Cutting Room Floor, da holandesa Caro Emerald. Já falamos nela? Acho que não. Fui alertado de sua existência há alguns meses, pelo blog do ACM, e já havia corrido atrás do disco na internet. É, mal comparando, um Ben L'Oncle Soul de saias, no sentido de "popficar" referências passadas, só que menos soul music e mais jazzy, cabaré. Não vai mudar sua vida, mas vale a pena. A edição especial que me chegou tem clipes, vídeos de performances ao vivo e uma inusitada faixa bônus: uma releitura de Bad Romance, da Lady GaGa. Os clipes de Back It Up e That Man são os melhores, investindo numa estética vintage que me leva a perguntar, filosoficamente: o futuro da música é o passado?

Falando em passado, dia desses, vasculhando despretensiosamente (mentira, nunca é despretensiosamente) as prateleiras de jazz da Travessa do Centro, dei de cara com um disco com um tocador de tuba na capa. Só ele, mais ninguém. Fiquei intrigado -- não que não exista, mas é raro esse tipo de músico atuar como líder, e o destaque dado a ele na capa indicava que, sim, era ele que comandava a sessão. O nome do sujeito: Ray Draper. Nunca tinha ouvido falar, ignorância minha. Fiquei ainda mais intrigado quando li, na capa, "featuring John Coltrane". Pombas, como assim? Tocadores de tuba eram líderes nos primórdios do jazz, quando o instrumento ainda não havia sido substituído pelo contrabaixo e relagado às bandas de rua, brass bands e big bands (o.k., Miles havia reintroduzido a tuba em seu Birth of the Cool, de 1949, mas não dá para dizer que virou algo comum). Se esse disco contava com John Coltrane, ele devia ser de quê?, anos 50, 60? Chequei no verso e bingo, 1957. Lendo a ficha dos músicos, mais motivos para ficar intrigado: achei que, havendo uma tuba, não haveria um baixo, mas caí do cavalo ao ver que havia um baixista. Ou seja, a tuba teria a mesma função, sei lá, de um saxofone ou de um trompete. Comprei, lógico. E não me arrependi. Jazz moderno com belos solos de... tuba! Sabe o que é isso?

E como, em música, uma coisa necessariamente leva a outra -- eu diria "outras", no plural --, pesquisando mais sobre Draper, descobri que ele tocou com Max Roach, baterista estupendo (preferido do meu sogro), e com... Booker Little, um trompetista do qual, mais uma vez, nunca tinha ouvido falar. Se Draper já morreu jovem, com 42 anos, estupidamente assassinado durante um assalto, Little nem se fale: foi-se para o andar de cima com 23, por problemas decorrentes de uremia, que a Wikipedia me informa ser elevação da ureia no sangue. Fui atrás de alguns discos, nos quais se confirmaram influências de Clifford Brown (outro que morreu prematuramente, com 25 anos) e Miles Davis, que pode ir de uma certa melancolia ao hard bop, em geral com um pé no avant-garde. Num vídeo dele no Youtube, um internauta comenta: "Se Booker tivesse vivido mais, hoje estaríamos nos perguntando: 'Miles quem?'" Acho meio exagerado. Booker tinha 11 aninhos quando Miles fez sua primeira revolução no jazz, com Birth of the Cool. Mas, enfim, dá para ter uma ideia do cara.

No meio do caminho, ainda me chegou a caixa do Lobão, com três discos compilando o que ele de melhor fez na carreira, além do DVD do Acústico MTV. Ainda não investiguei os discos a fundo -- fiquei mais concentrado nos hits: Corações Psicodélicos, Vida Louca Vida, Vida Bandida... Para mim, é uma chance de saber mais de um cara cujo som sempre me agradou, mas cuja carreira não acompanhei direito.

Falando em Lobão, comprei o DVD do show Zii e Zie, de Caetano, no qual ele canta Lobão Tem Razão. O baiano e o lobo sempre fizeram esse papel de rivais intelectuais, que se espezinham mutuamente, mas não vivem um sem o outro. Lobão falou disso em uma entrevista recente à Globonews: de como a relação dos dois tem algo da rivalidade entre Wilson Moreira e Noel Rosa -- diferente, ele fez questão de ressaltar, da relação dele com Herbert Vianna, que ele acusa de ter roubado várias de suas ideias. Mas, voltando a Caetano, o DVD é uma beleza, embora nunca alcance o nível do show em si, que foi muito bom. Como era o último show da turnê, a banda soou entrosadíssima, e Caetano estava feliz, à vontade. E ainda teve Jorge Mautner no bis.

Deve ter havido mais coisa nesse ínterim, mas é melhor fechar por aqui. Você também deve ter muito o que falar.

Ah, só mais uma coisa: Paul McCartney vem ao Rio em maio, soube?

Abração, e seja bem-vindo de volta.

Rafael

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