quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Fala, Rafael.

Então, começando pelo Rock in Rio. Ok, elenco fraco esse ano, mas gosto do que gera - movimento na cidade, todo mundo falando de música, uma ou outra boa atração e diversão com shows ruins. De última hora, ganhei ingresso para sexta, ou seja, fui ver Elton John. Embora sinta da falta daquela voz que ele tinha, gostei muito do show. Bom estar lá acompanhado daqueles hits enfileirados, mesmo que ele, coitado, totalmente deslocado naquele lineup. Tem muita coisa bonita naquele catálogo ali, né? Uma música que ainda ecoava quando acordei no sábado foi Skyline Pingeon.

Pulo aqui a abertura do Milton, cara. Foi constrangedor. Aquilo foi uma cilada monumental para ele. Vamos para o sábado, vi, pela televisão, Milton e Esperanza, que achei esquisito. As bandas misturadas, Milton sem voz, Esperanza exagerando...  Fora que essa coisa dos encontros é perigosa. Pode ser bonita na ideia lá do curador e tals, mas, na prática, pelo que vi teve consequências sérias em quase todos os shows. O povo ensaia três vezes depois de trocar meia dúzia de emails e vai fazer um show de uma hora e pouco. Não é pra qualquer um. Já Mike Patton fez bonito. Entrou lá com o repertório italiano, acompanhado dos jovens da Orquestra de Heliópolis, e superou as -  já boas - expectativas. Resultado: uma ótima e empolgante surpresa e eu gostaria de ter visto in loco.

Domingão fui no heavy metal, craro. Ou, naquela bem Jornal Nacional, no dia do rock pauleira dos metaleiros. Sim, todo mundo de preto, mas um clima harmonioso em meio à barulheira sonora. Todos sabem que é o dia mais pacífico. Estão todos ali por um só motivo: música. E nada mais. Isso faz a diferença. O dia era do Metallica que encerrou a noite de forma espetacular. Não tem nem conversa, estão imbatíveis. Se em estúdio a fase de ouro foi até o álbum preto, que saiu no início da década de 90, no palco eles estão melhores do que nunca. Sóbrios, maduros e com total domínio. Foi bonito, Rafa. Sei que não é sua praia, mas é uma coisa de outro mundo uma apresentação dessas.

Amanhã tem mais. Vou para ver Jamiroquai, Janelle e Stevie Wonder. Você vai?

Passando pela onda jazz e blues. Quero pegar o Wynton + Clapton, o Wynton + Willie + Norah e também o da Ella. Mas, por enquanto, nessa praia, tem tocado muito The Bright Mississipi, do Allen Toussaint. Alto nível.

Sobre o R.E.M: saíram por cima, né?

Abração,

Neuma

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Filho,

Sabe quando as pessoas falam que não há tempo para mais nada? Pois é, está acontecendo comigo, e não é modo de dizer. No tempo que me sobra, o que falta é cabeça pra sentar a bunda e escrever uma resposta. Mas vamos lá.

Começo pela notícia mais fresca: o R.E.M. acabou!!! Olhando em retrospectiva, me pergunto se eles já não queriam encerrar na época de Around the Sun, disco meia-boca dos caras, e resolveram esticar um pouco para lançar dois ótimos álbuns, Accelerate e Collapse into Now. Tipo "não, não vamos acabar agora, com esse disco mais ou menos. Vamos sair por cima", manja? O R.E.M., acho que já te contei isso, me fisgou com dois clipes: o de Losing my Religion e o de Shiny Happy People. E não parei mais. De banda de rock, talvez seja aquela que eu tenho mais CDs (de verdade!) em casa. Gosto do modo como eles se tornaram gigantes, popstars, mesmo, sem perder uma certa pegada indie. Nisso, aliás, os caras foram pioneiros: abriram a porteira para que esse caralhau de bandas indies que a gente vê hoje começasse a tocar na MTV e encher festivais. Recupere o tempo perdido, vá atrás de Automatic for the People, de New Adventures in Hi-Fi, de Reveal -- e, claro, de Out of Time, o divisor de águas. Depois, volte um pouquinho mais no tempo até Green, o primeiro deles pela Warner (de chicletes estranhos como Pop Song 89 e da foda Orange Crush. E, depois disso, volte ainda um pouco até a fase mais roots dos caras, até o primeiríssimo Murmur.

Estive na expo do Miles. O que dizer? Estupenda, e isso nada (ou pouco) tem a ver com o fato de eu gostar tanto de jazz. Meu pai, por exemplo, que não tem nenhum interesse específico, saiu de lá bestificado. Fiquei tentando imaginar o trabalho de montar aquela estrutura toda. E, como você já havia observado, o modo como o som se insere na exposição, quase como se ele interagisse com os objetos, mesmo... Muito, muito bom. Gostei muito, também, daquelas pinturas que foram usadas em Bitches Brew, mas nos seus tamanhos originais. E me deu vontade de rever Ascensor para o Cadafalso, do Louis Malle. Você viu?

E, voltando ao nosso new soul (há quanto tempo já falamos disso, hein?), o que você achou de Sabrina Starke? Achei bem bom, ao contrário do novo da Joss Stone, indeciso entre o rock e o soul. E como grita, a moça. Como se alcance vocal fosse voz. Como diria o Paulo Francis, pfui.

O jazz/blues tem rolado bem em casa. Recebi um ótimo da Ella Fitzgerald, com gravações dela para a BBC. Caracoles. Como cantava, a mulher. Tem um DVD também, que ainda não vi. E gostei muitíssimo do registro do show de Wynton Marsalis e Eric Clapton. Cada um à sua maneira, dois conservadores musicais, mas que tocam pracas, escoltados por uma ótima banda. Corra atrás e preste atenção no arranjo que fizeram para Layla, quase marcha fúnebre. Tirando esta, todo o repertório é de blues clássicos, mesmo. Tenho achado boas essas parcerias do Wynton, primeiro com o Willie Nelson e depois com o mesmo Nelson e com a Norah Jones, tocando Ray Charles. Como disse o Serjones, é uma boa solução para ele, que toca muito, mas não parece ter ideias para um disco próprio -- como o jazz, para ele, morreu nos anos 70, talvez ele não se sinta digno de produzir algo novo, mas apenas de reverenciar o que já foi feito.

Por hoje é só, pe-pe-pessoal.

Abração,

Eu