segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Tex,

Essa história é complicada. Sinceramente, hoje, acho que não espero tanta coisa assim da produção nacional - em quantidade, digo. É uma postura que reprovo e me incomoda um pouco, mas é meio por aí, ando muito ligado no que vem sendo feito lá fora. Sempre me cobro uma coisa made in brazil, mas sinto que é mais fácil ir para trás, por exemplo, e pegar um da Gal da época de ouro ou mesmo um clássico do Caetano, sabe? Ainda tenho essas lacunas. Enquanto isso, eu espero o segundo do Jeneci; sempre um do Milton; um novo com coisas do Moacir Santos; um de reunião dos Los Hermanos; algo novo do Camelo; algo do Ed Motta; um Eumir Deodato; um Hamilton de Holanda...

Não conheço muito de Prince, mas tenho curiosidade pelo artista. Conheço de longe, os hits, e tenho um DVD em casa, que nunca dei muita atenção. Está lá, encostado, na prateleira. Fiquei de assistir esses dias, em homenagem ao show que não aconteceu. Falando nisso, no sábado comprei o Purple Rain e também outras coisas no embalo. Fui às compras - é bom, né? - e peguei um álbum do Wilco, banda indie que sempre ouço falar bem e nunca escutei; o novo do Marcelo Camelo (ouviu?); Graham Central Station (funkão pilotado pelo Larry Graham); e Allen Toussaint, compositor de R&B, de Nova Orleans, que gravou um álbum chamado The Bright Mississipi. Conhece isso? Acho que tem a ver contigo.

Back2Black ontem foi muito bom. Asa abriu os trabalhos muito bem, com musicalidade de bom gosto e estilo no palco. Gosto do último dela, Beautiful Imperfection. É um pop bem feito, com esse charme soulafroblack e boas canções. Bate bem num sábado de sol, daqueles em casa, preparando almoço e dando uma geral em arrumações aleatórias. Em seguida Aloe arrebentou cantando e dançando muito. É impressionante como sua música cresce ao vivo, muito por conta da banda que o acompanha, que dá vida e vibração aos arranjos do álbum. Saí na terceira música do Seu Jorge & Almaz, já cansado, mas a outra surpresa da noite foi o Paraphernalia, pilotado por Donatinho e Alberto Continentino, que tocava entre as atrações em um palco menor. E palmas para a produção que criou um cenário espetacular na desativada Leopoldina.

Também estou longe, muito longe, de ser entendido de música erudita, embora tenha crescido com um pai amante do estilo e que sempre colocou no rádio do carro ou no som de casa. Sempre me interessei e ultimamente comecei a embarcar mais. Os dois concertos que vi da OSB, dessa série Beethoven, foram fundamentais para marcar uma nova fase na minha relação com o estilo. A sexta e a sétima sinfonia, sobretudo, foram determinantes. Desde então embarquei no Beethoven e tirei poeira de uma coleção que meu pai deixou comigo, ao passar (quase) tudo para mp3 e se desfazer de parte de seus cds.

Abração,

Neumayer


quarta-feira, 24 de agosto de 2011

F.N.,

Eu não gosto de falar essas coisas porque, sei lá, tem uns medalhões de quem é meio feio desdenhar (ou mesmo parecer que está desdenhando). E não é que eu tenha algo contra... Mas a verdade é que, sim, você está certo, qual foi o último disco do Milton, de verdade? Não que os mais recentes tenham sido ruins, pelo contrário -- vide o dele com os Belmondo (gosto bastante) e o com os Jobim (idem). Mas foram visitas a repertórios conhecidos, e sempre "Milton + alguém". Este último é meio aguado. Crooner é interessante, mas ouvi uma meia dúzia de vezes, se isso, e só. O que é uma pena, porque o Milton é um talento monstro, inegável. Enfim, o fato é que, de um tempo para cá, eu sempre volto ao Clube da Esquina.

Mas você rodou, rodou e não me respondeu: nos últimos tempos, quem são os artistas brasileiros de quem você realmente aguarda o próximo disco?

Dia desses chegou na redação o disco de uma menina chamada Laura Rizzotto (nome curioso, mas é isso mesmo). Consta que é a nova aposta da Universal. Brasileira, 16 ou 17 anos, gracinha, fotogênica. Em outros tempos, ficaria dentro do plástico, pegando poeira. Mas como eu me prometi, depois da última limpeza de discos, escutar pelo menos um pouco de tudo que me cai nas mãos, coloquei pra rodar. O estilo não é, absolutamente, a minha praia, mas não é que é um pop adolescente beeeem digno? O que me chamou a atenção, no entanto, foi a voz -- nada excepcional, mas inteiramente diversa daquilo que eu esperava ouvir, considerando a idade da moça e as fotos no encarte. Adoro quando isso acontece. E o bacana é que tem a chancela do Eumir Deodato, que ela conheceu via Facebook (ah, as novas gerações), e acabou arranjando uma das faixas do álbum e fazendo uma participação especial.

E o Prince, puta mico, hein? Não me lembrava disso, mas parece que ele havia cancelado um show por aqui em 2001. Com essa, não sei, não, mas acho que ninguém mais se arrisca a fechar algo com ele aqui no Brasil... Falando nele, diz aí: Prince te fala alguma coisa?

Migrando para o erudito, fui ver a abertura da temporada da Orquestra Sinfônica Brasileira, e sei que você foi no concerto seguinte. Estou longe, muito longe de ser um entendido no assunto, de modo que o que posso dizer vem da minha percepção da reação da plateia -- e, por este critério, a OSB foi aprovada. Achei a primeira parte meio pálida (impressão reforçada por uma diminuição de 85 músicos, do ano passado, para quase 60, neste?). Mas depois do intervalo a orquestra pareceu ter ganhado confiança, e fez bonito na Sinfonia Nº 1. Diga-se, com o inestimável auxílio do Lorin Maazel, um gigante.

Comecei a ler Escuta Só, do Alex Ross. E, pombas, dá até uma certa vontade de parar de escrever sobre música para todo sempre. Quanta erudição, sem qualquer sombra de pedantismo!

Ainda não vi a expo do Miles. Contaí.

Abraço,

R.T.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Tex,

Pegando carona no assunto "de quem você espera um disco novo no Brasil?", fui ao show do Milton Nascimento, na última sexta. Só adiantando: não embarquei muito no último dele. Acho bonito esse lance generoso dele de chamar uma turma para participar do álbum e tal - como aconteceu no Pietá -, mas, poxa, queria um disco do Milton Nascimento, sabe? Fora que vejo como deslizes gravar Jota Quest e Adivinha o Quê?, do Lulu, que tem outras muito melhores.

É birra minha?

Mas fui. Fui lá pra Barra, no Citibank Hall. Antes, claro, lancei aquele sanduba no Cervantes, de filé, mas sem abacaxi -- não gosto de misturar fruta na comida e coisa e tal. Em linhas gerais, o show é bonitão, assim no aumentativo mesmo. Mas onde tem essa generosidade, onde transborda essa coisa acolhedora mineira, falta unidade, falta liga. No meio do show a coisa dá uma esfriada com inúmeras participações, e muita (!) gente no palco, mas ok, o início do show é demais, com Milton jogando pra torcida com Encontros e Despedidas e Caçador de Mim, pra citar duas -- com a banda enxuta, só baixo, bateria, guitarra e teclado -- e uma voz muito, mas muito, em forma.

Embora o show caminhe bem, com saldo positivo, sou a favor de Milton fazer algo nesse formato mais enxuto, com os músicos mais soltos. É importante estar à vontade e essa coisa de muita gente não permite tanto. Ou até um álbum tipo Crooner 2. Gosto muito do primeiro.

Sim, anteontem fui na exposição do Miles. É espetacular. A ideia da montagem é esperta ao dividir as épocas e fazer com que passemos por cada fase, cada momento, cada mudança dele. Não quero falar muito até você ir. Não quero estragar nenhuma surpresa, mas é sensacional. Saí de lá gostando mais de Miles e mais desse universo do jazz. Falamos mais na sequência.

Mandou bem no Steely Dan. Eu só conheço o primeirão, Can´t Buy a Thrill, e gosto muito. Vou te acompanhar nessa.

Fico por aqui, passei rapidamente.

Abração,

F.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Salve, meu chapa, 

Cá estou eu depois de um longo e tenebroso inverno. Adiante que hoje tem assunto.

Com relação ao soul brasileiro, não tem como errar. Vá de Cassiano, três disquinhos, apenas: Apresentamos Nosso Cassiano, Imagem e Som e Cuban Soul -- 18 Kilates. Do Tim Maia, os discos da caixinha da Universal são mais do que suficientes (dos oito, alguns, diga-se, são até dispensáveis, mas o que você precisa pra se embrenhar no assunto está lá). Ah, e não se esqueça da fase Racional do Tim. Daí, processado tudo isso, você parte pra Hyldon, Carlos Dafé... e quem sabe chega até ao Seu Jorge, que, goste-se ou não, é herdeiro disso.

Seu Jorge é o chato-legal (ou o legal-chato?). Não conheço o trabalho dele a fundo pra dizer grandes coisas. Mas essa pecha cool que ele adquiriu lá fora, sei lá, acho meio injustificada. E concordo contigo que o trabalho do Farofa Carioca sempre me soou mais interessante. E concordo mais ainda que, putsgrila, aquele disco com a Ana Carolina é uma das coisas mais desnecessárias da história da discografia nacional. Foi um dos que foi embora na limpeza pós-obra (sim, eu tinha!).

Não escutei o novo do Mario Adnet. Mais uma vez, é aquela história sobre a qual (acho) já falamos: ao mesmo tempo em que eu louvo o trabalho dele como recuperador de pepitas da música brasileira (Ouro Negro é o exemplo mais emblemático), lamento que ele não tenha a mesma repercussão com seus discos próprios. No último dele, tive um pouco esse déjà vu a que você se refere, mas o trabalho é bom -- e, no entanto, passou batidaço.

Você me pergunta sobre o novo do Chico Buarque, e eu olho em volta pra ver se não tem nenhum (ou nenhuma, o que é mais provável) fã daqueles arraigados, que vá querer me bater. Você sabe, fazer ressalvas ao Chico é temerário. Bom, deste assunto nós tratamos por aqui em algum momento: eu já ouvi esse disco, e melhor, no passado. Há algo estranho quando os melhores discos de um artista começam a ser os ao vivo. E é este o caso do Chico, cujo último álbum realmente interessante foi Paratodos -- que é de 1993, há quase vinte anos! Não que os últimos trabalhos tenham sido ruins, sabe? Mas eu ouço, acho bonito, e tal, mas fico naquela: e aí? 

Não acho que renovar-se deva ser uma obrigação do artista, mas a verdade é que essa mesmice, por mais bem realizada que seja, acaba me causando uma certa indiferença. Quem são, hoje, os medalhões cujos novos discos eu aguardo com ansiedade, aqueles que, quando anunciam um novo projeto, eu fico de olho na data de lançamento? De cabeça, os que me vêm de imediato são Ney Matogrosso, Caetano Veloso e Adriana Calcanhotto. Justamente três que sabem transitar por várias frentes, sem parecerem esquizofrênicos. Três que, a cada disco, entregam algo diferente, sem perderem a identidade ou soarem como passageiros temporários da modinha do momento. Taí, te devolvo a pergunta: quem são os artistas brasileiros que, quando anunciam um disco novo, você fica esperto?

Lá de fora, ainda que por razões distintas, um desses artistas seria a Amy, que me deixou triste quando morreu. Tudo bem que era pedra cantada, mas sabe quando você tem como certo que algo ruim vai acontecer, mas, mesmo assim, quando acontece, você não consegue evitar uma pontinha de tristeza? Pois então. Espero que lancem o material inédito que ela vinha gravando. A moça ainda tinha muito pra dar, como prova a gravação que ela fez com o Quincy Jones de It's My Party.

Falando em cantoras, descobri Florence + The Machine, e gostei. Às vezes me lembra Cranberries, mas é diferente. Me soou fresco, novo. Outra, esta brasileira, que me chegou ontem, é uma moça chamada Ana Cristina, que está lançando seu primeiro disco, chamado Acaso. Escutei rapidamente ontem, em meio a outros afazeres, e achei bonita a voz. O interessante, no caso, é que ela já aparece com um trabalho de compositora (só uma faixa, Dindi, não é dela), em vez de ser mais uma intérprete entre as milhares que aparecem a cada dia.

Ainda sobre descobertas, esta semana me senti o mais ignorante dos seres humanos ao topar com Steely Dan, de quem conhecia algumas músicas, mas nunca tinha associado à banda. Cheguei no grupo via Donald Fagen, um dos seus fundadores, de quem pesquei o primeiro (e bom) disco solo. Aí entrou em ação essa maravilha que é a internet e pronto, cheguei ao Steely Dan -- que, depois vim a descobrir, tem quatro discos entre os 1001 daquele livro com os álbuns que você deve ouvir antes de morrer.

E o Miles, hein? Vai à exposição?

Fico por aqui.

Abração,

R.